Capítulo 10: I'll be good

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Alerta de gatilho: violência e tortura psicológica

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— xxxtenio! — Helô correu até ele, se ajoelhando ao seu lado enquanto tentava tirar suas algemas. — Droga! — reclamou frustrada enquanto tentava puxar as algemas sem sucesso.

— A... A c-c-cha-cha-ve, vo-você pre-pre-precisa! — avisou.

— Stenio, precisamos sair daqui rápido! Eles podem voltar a qualquer momento e...

Alguém puxou Helô pelo cabelo para trás, afastando ela dele enquanto ela gritava e tentava chutar seu algoz.

— H-H-H-HE-LÔ! — tentou gritar, tentou chegar até ela, mas estava acorrentado ao chão e não podia se mexer. Toda vez que puxava pra frente, seu corpo era jogado para trás com força.

— STENIO! — Ela gritou mais uma vez, enquanto sua voz ficava mais e mais longe.

— HELÔ! — Gritou.

— Ei, doutor! — um dos captores chamou, cutucando Stenio com alguma coisa afiada na barriga.

Stenio não tinha forças para tentar desviar ou pra pedir para que parassem... Não lembrava da última vez que tinha comido ou bebido algo, seu corpo estava coberto de hematomas e até mesmo alguns ossos quebrados. Ele apenas abriu os olhos bem devagar, pois até mesmo isso requeria um esforço gigante dele.

— Tava sonhando com a doutora? — o homem questionou com um sorriso — Aposto que era um sonho gostoso.

O homem cutucou Stenio novamente com o quer que fosse, bem forte, na costela. Stenio se encolheu e gemeu com a dor.

— Tu tava achando que a doutora tava aqui? Que ela tinha te encontrado? — o homem riu — Ela nunca vai te encontrar aqui, doutorzinho. — debochou. — E se ela for idiota ao ponto de chegar até aqui sozinha — o homem sorriu lascivo — Você sabe que ficamos muito tempo só entre homens, né?

Stenio sentiu o ódio tomar conta do seu corpo, tirando energia dele, avançou contra o homem que desviou rindo.

— Eu tô torcendo pra que ela venha!

A inconsciência levou Stenio de volta para o mundo dos sonhos.

-/-

"Espero que tu fique por lá!"

"Espero que tu fique por lá!"

"Espero que tu fique por lá!"

"Espero que tu fique por lá!"

"Espero que tu fique por lá!"

Stenio ouvia a voz de Helô, como se ela repetisse a mesma frase de novo, de novo e de novo.

Como se ele estivesse em seu apartamento, vendo-a deixar sua casa em um rompante furioso enquanto o mandava ficar longe dela pra sempre.

Será que ela teria dito isso se soubesse o que viria a seguir? Será que ela estava aliviada pela falta de notícias dele? Será que ela ao menos sabia que ele tinha sumido?

-/-

A fome e a sede junto com a tortura física e psicológica que Stenio havia sido submetido durante todo esse tempo estava começando a afetá-lo mentalmente. Não sabia mais decifrar o que era realidade e fantasia.

Alguns sonhos pareciam tão vívidos... Tão reais, que ele podia sentir o cheiro de Helô e podia jurar que podia sentir até mesmo o seu toque. Mas toda vez que se forçava a abrir os olhos, encontrava a mesma casinha abandonada fria, úmida e vazia.

E as vezes a realidade parecia tão distorcida ou a dor era tão grande, que tudo parecia não passar de um pesadelo.

Stenio se flagrava sonhando muitas vezes com momentos felizes em que viveu ao lado de Helô, Drica e seu neto... Até mesmo Pepeu estava nesses sonhos. O genro tinha amadurecido tanto depois que o filho nasceu, que Stenio realmente sentia orgulho dele.

Stenio lembrou do nascimento de Drica. De como ele e Helô estavam apreensivos com a chegada da filha. Eles eram tão novos e tão imaturos! Tinham medo de que não seriam bons pais para a sua filha, mas quando olhou pra ela pela primeira vez... Quando viu o quanto sua menininha era era pequenininha e igual a mãe, todas as suas dúvidas foram embora. Apesar de Helô estar extremamente cansada com o rosto suado e vermelho pelo esforço, tinha um sorriso radiante enquanto segurava a menininha deles no braço.

Stenio se lembrou de como ela se apoiou nele enquanto amamentava Drica pela primeira vez e o quanto ele sentiu que ali, naquele quarto de hospital, segurava todo o seu mundo em seus braços.

Stenio também se lembrou do nascimento do neto e de como foi bem diferente do momento mágico do nascimento da filha. Drica estava desesperada durante o parto... tinha visto muitos vídeos na internet sobre mulheres e bebês que morriam durante o parto, apesar da evolução da medicina e da tecnologia. Ela repetia que ia morrer  durante todo o parto, enquanto agarrava a mão do pai e da mãe e pedia desculpas por ter sido motivo da briga dos dois por tantos anos... Helô dava beijos doces na testa suada da filha e repetia que ela ficaria bem e que logo seguraria seu menininho nos braços, enquanto Stenio agarrava a mão da filha com força, incapaz de dizer nada.

Quando ouviram o som do chorinho do bebê... Drica parou de chorar e pediu pra segurar o filho.

Foi o momento mais lindo da vida de Stenio...

Stenio se lembrou de outros momentos marcantes como o dia em que beijou Helô pela primeira vez, o dia em que ela disse que o amava pela primeira vez (meses depois que ele), o dia do 1° casamento, o dia do 2° casamento e vários outros pequenos momentos que tinha vivido ao lado da mulher da sua vida.

Eram esses os momentos que ele não queria esquecer... Eram esses os momentos que ele queria que passassem como flashback em sua cabeça repetidamente. Entretanto, esses eram sempre os que se dissipavam mais rápido, como espumas ao vento.

Os sonhos em que Helô era capturada ou sua filha e neto, assim como os sonhos em que Helô nem ao menos notava o seu sumiço eram os que duravam por muito mais tempo...

De tanto ouvir de seus captores dizendo que ela não viria, que ela não estava nem aí pra ele, ele estava começando a acreditar. Algumas vezes, até torcia para que isso fosse verdade, porque não a queria respirando o mesmo ar que esses homens crueis. Sabia que Helô acabaria com a raça deles se fosse até lá, afinal, ela era uma polícia fodona! Mas pensar na mera possibilidade dela ali, o causava um arrepio na espinha e seu sangue gelava em suas veias.

Não. Preferia pensar nela vivendo bem, feliz e saudável.

-/-

Stenio foi acordado mais uma vez com um balde de água congelada no rosto, levando um susto e tropeçando em seus próprios pés, forçando mais as correntes que afundaram na carne já tão machucada de seus pulsos.

A dor lasciva percorreu seu corpo.

— Bom dia, doutor! — seu algoz cumprimentou — Dormiu bem? — Questionou com um sorriso. — Agora perdeu a língua?

Stenio estava com a garganta tão seca, que não conseguia mais saliva pra formular uma única palavra.

— Que pena! — o homem comentou — Eu até que me divertia quando você tentava lutar.

Stenio não tinha mais forças pra lutar... Não queria mais lutar.

Estava tão, tão, tão cansado... Que tudo o que ele queria era desistir. Ele queria morrer, queria que o matassem de uma vez! Não aguentava mais nenhum dia naquele lugar, só queria que tudo aquilo terminasse... Que a dor que sentia em todo o corpo finalmente fosse embora e que os calafrios que sentia dia e noite cessassem.

Stenio finalmente tinha perdido as esperanças de que algum dia sairia dali... Vivo ou morto.

Where's My Love - Steloisa Where stories live. Discover now