Capítulo Onze - De novo não

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Cidade de Rio de Janeiro, 20 anos atrás

Hoje eu não fui para a escola. Dói-me a cabeça. Apanho a minha boneca Barbie que está deitada na cama ao meu lado.
Desço da cama e assim que coloco meus pezinhos no chão frio, sinto a porta ranger e alguém entrar.
Está escuro aqui.
Sinto medo.

- É você Matilde? Pergunto receosa

- Sou eu princesa.

Essa voz tenebrosa mete-me medo. Volto a subir a cama e escondo-me debaixo das cobertas.

- Sai por favor. Choramingo baixo

- Não vou te fazer mal. Prometo. Seja boazinha e tudo vai ficar bem.

"De novo não! Por favor Deus! De novo não."

Sinto ele puxar-me pelos pés com força.

- Larga-me! Solta-me! Se afasta de mim. Eu não quero. Começo a gritar

- Cala essa boca agora se não vou te dar uma sova. E bem dado. Fique quietinha e se comporta.

- Tira essas suas mãos imundas e sujas de cima de mim. Matilde ajuda-me por favor. Socorro alguém ajuda-me.

Ele tapa a minha boca com as mãos. Eu o mordo.

- Ai! Ele pragueja de dor. - Sua diabinha. Se voltar a fazer isso vai apanhar.

- Deixe-me em paz. Consigo falar antes que ele tape a minha boca. Por mais que me mexo embaixo dele. Não tenho forças o suficiente, ele é mais forte.
Ele levanta o meu vestido de bolinhas e faz aquilo de novo.
Eu sei que é errado, lágrimas não param de cair dos meus olhos.
Esse pesadelo nunca vai ter fim.
Eu só queria brincar com as minhas bonecas.

(***)

Rio de Janeiro, atualmente

Giovanna Leite

Sinto umas náuseas terríveis. Corro rapidamente para a casa de banho, entro fecho a porta, curvo-me sobre a privada e vomito tudo que eu tinha comido algumas horas antes.
Há muito tempo que eu não tinha esses pesadelos.

Sento no chão frio do banheiro, levo os meus joelhos ao peito abraço-os, coloco a minha cabeça entre os mesmos e começo a chorar desesperadamente.
Sinto-me desamparada, desprotegida, imunda, culpada, suja e errada.
Assim como eu me sentia quando tinha 6 anos e aquele monstro que devia me amar como pai abusava de mim sexualmente.
Este é um peso que carrego até hoje.
O passado vem sempre me assombrar.

Sinto leves batidas na porta do banheiro.

- Giovanna abre para mim por favor. Deixa eu entrar. Você está bem? Estou preocupado. Abre. Oiço Teodoro falar do outro lado. Sinto preocupações na sua voz.

- Merda! Praguejo baixo. Eu até já tinha esquecido dele. E agora?
Estou sem forças para lidar com ele agora.
Obviamente que quer e está à espera de uma explicação da minha parte, depois de tudo que viu e ouviu. Entretanto eu não sei o que haverei de lhe dizer.

- Estou bem. Obrigada. Vou ficar mais algum tempo aqui. Podes ir deitar. Só quero ficar sozinha. Digo tremendo

- Giovanna me desculpe, mas não estás em condição de ficar sozinha. Abre essa porta ou eu vou deita-la abaixo.

- Isso já é com você. Estou pedindo por favor me deixe sozinha. Já disse que estou bem e não vou fazer nenhuma loucura. Só preciso de mais algumas horas sozinha. Me deixe em paz.

As lágrimas não param de cair. Como uma cascata de água. Não sei de onde vem tanta água assim.
Parece que quanto mais eu choro, mais lágrimas tenho.

Uma Secretária Quase PerfeitaOnde histórias criam vida. Descubra agora