Capítulo Dezasseis - Balde de água fria

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Giovanna Leite

Ser secretária de um milionário às vezes é muito bom, mas por outro lado é horrível.
Estou tão chateada.

- Só me faltava essa! Infernos! Praguejo assim que tropeço e caio numa poça de água.
Está a chover muito desde antes de ontem, e hoje num domingo tenho que ir à cobertura do meu arrogante chefe para lhe levar uns documentos importantes para assinar.
Pois o mesmo vai viajar amanhã bem cedo para Londres.
Podia perfeitamente movido céus e terra para ter o maldito documento em suas mãos, mas como ele está com um humor de cão nos últimos dias, sobrou para quem?
Para a escrava da secretaria dele.

Levanto e olho para a minha roupa, estou um lixo, toda suja de lama.

- Quer ajuda moça?
Essa voz. Travo na hora. Estou de costas para o dono dessa horrível voz.
Nem que passasse mil anos eu iria esquecer-me dela. O pesadelo que foi ouvi-la todas às noites.
Já se passaram muitos anos, mas ainda assim ela me afeta.
Lágrimas começam a cair dos meus olhos como uma cascata de água.
Começo a tremer descontroladamente.

- Moça estás bem? A voz volta a perguntar desta vez mais alta

Quero falar, porém não consigo. Sei que preciso correr para longe dele, entretanto os meus pés estão colados no chão, não me obedecem.
Maldita crise!
Sei muito bem o que é isso (há muito tempo que eu não tinha uma).
Estou a ter um ataque de pânico.
E, de repente não vejo mais nada, tudo fica preto.

(***)

Teodoro Assis

De novo caixa postal. Que infernos! A minha secretária deve ter problemas com telemóvel, nunca que chamo ela responde.
Estou preocupado (não que eu devia e muito menos que ela mereça, mas a bruxa tem esse poder em mim. Desperta o meu instinto protetor e nem sei o porquê?), eu não devia ter ordenado que a Giovanna viesse dentro desse temporal, trazer-me uns documentos para eu assinar.

Desde da nossa última noite juntos na minha cobertura que o clima entre nós não é o dos melhores.
Quase não temos trocado mais do que três ou quatro palavras por dia.
Não vou dizer que esqueci o nosso momento hot daquele dia, que seria uma mentira horrível e feia.
Tenho pensado nele todo o Santo dia, quero mais, já cheguei à conclusão que esse tesão só vai passar depois que eu levar a morena para a minha cama.
Como irei fazer isso não sei?
Ela colocou um murro entre nós.

Cansado de ficar à espera sem notícias, saio da minha cobertura e vou à procura da minha assistente pessoal.
Só espero que não esteja metida em problemas.
Giovanna tem um maldito íman para atrair problemas, que nunca vi.

Seria bem melhor se eu não tivesse pensado o último pensamento, pois a cena que vejo me dá vontade de matar alguém.
Um senhor está a arrastar Giovanna pelos braços e pretende levá-la muito acredito para um carro encostado no meio fio.

Estaciono o meu Audi Q5 de qualquer jeito, e começo a correr. - Large a moça imediatamente ou se não considere-se um homem morto. Grito sem me preocupar com a chuva que cai torrencialmente.

Porém, não sou tão rápido assim, a tempo de alcançar o verme, pois ele assim que escuta a minha voz, se desespera larga a Giovanna no chão na poça de água, entra no carro e sai cantando pneus.

Preocupado com a minha assistente no chão na poça de água, nem me passou pela ideia retirar a chapa matrícula do carro, nem a marca eu consegui ver. Que dirá a chapa.

- Giovanna pelo amor de Deus acorda! Balanço o corpo dela. Checo sua pulsação. Está viva.
Sinto um alívio fora do normal. Só está desmaiada.

Chamo uma ambulância, pois não sei o que aconteceu para ela ficar desacordada.
Espero que aquele filho da mãe, não tenha feito nada de mal com ela, porque se fez eu juro que vou aos quintos dos infernos se for preciso, só para lhe matar com as minhas próprias mãos.
Minutos depois escuto a sirene.
Colocam a Giovanna deitada numa maca, sento junto com ela.
Os profissionais de saúde fazem o trabalho deles, enquanto eu faço umas ligações.
Não sei porquê? Mas algo me diz que eu preciso encontrar esse traste.

Giovanna Leite

Abro os olhos devagar e vejo paredes brancas.
Bom, espero que eu tenha morrido mesmo e esteja no céu.
Prefiro mil vezes ter morrido, do que imaginar que aquele lixo colocou as suas mãos de novo em mim. Depois de tanto tempo.
Volto a fechar os olhos.
Não consigo me lembrar.
Deus! Por favor te peço que ele não tenha sequer tocado em mim.
Tanto que corri dele, pensei que jamais iria cruzar com ele de novo, mas sou tão azarada e infeliz que eu tinha que cruzar com ele justo hoje.

- Doutora quando ela vai acordar? Oiço alguém perguntar. Ops! Esperem essa voz. Não! De novo não! É a segunda vez num curto espaço de tempo que Teodoro Assis me salva.

Ahm! Agora entendi. Estou num hospital. Pensei que tinha morrido e vindo diretamente para o céu.

- Daqui a pouco eu acho. Aplicamos um sedativo nela. Não foi nada grave. Foi só um desmaio, pensei que podia até estar grávida.

Opa! Espera aí doutora. Grávida de quem? Só se for do Espírito Santo, que nem a Virgem Maria, só que eu sou muito ruím, o Espírito Santo me vê e sai correndo como o diabo corre da cruz.

- Como assim grávida? Retruca o meu chefe

Esse é outro! Deus dê-me paciência e sabedoria! A doutora agora terá que lhe explicar como se engravida uma mulher.

- Sim, grávida. Desmaios podem ou não serem frequentes em gestantes, mas não, ela não está grávida. Pensei também que podia ser anemia, mas também não é. De saúde física ela está bem.

Pois, de saúde física estou ótima, agora psíquica e emocional são outros quinhentos.

- O que poderá ter causado este desmaio doutora? Meu chefe curioso pergunta

- Não sei, talvez, quando ela acordar poderá perguntar-lhe diretamente. Pode ser por causa de muitas coisas.

Abro os meus olhos, ficar a fingir que estou dormindo para sempre não dá, fingir de morta também está fora de cogitação, ainda mais agora que a doutora acabou de confirmar que o meu estado clínico é saudável.
Só me resta abrir os olhos e enfrentar a minha triste e cruel realidade.

- Giovanna graças a Deus acordastes. Meu chefe corre para o pé da cama onde estou acamada. - Estás bem?
Pergunta e segura minhas mãos entre as suas.
Vejo preocupação em seu rosto, mas é tudo fingimento. Sei bem que ele não presta.
Quer armar em bonzinho para ver se caio no papo furado dele, para que ele possa deitar suas garras em mim. Como um lobo mau.
Só que eu não sou o chapéuzinho vermelho da história do lobo mau.
E o papel de lobo mau é até gentil demais para ele.

- Estou ótima obrigada. Doutora posso ir?

- Vai ficar em observação durante esta noite.

- Como assim? Pergunto com os olhos arregalados

- É exatamente o que ouviu. Terá que passar a noite aqui. Precaução. Vou deixá-los a sós. Téo qualquer coisa é só me chamar.

- Obrigada doutora. Podes ir. Eu cuido dela. Ela vai ficar quietinha aqui. Ficarei de olho nela.

A doutora sai da sala. Assim que ela sai, começo a tirar as agulhas que colocaram nos meus pulsos. Detesto hospitais.

- O que estás fazer sua maluca? Teodoro pergunta assustado

- Não estás a ver? Estou a tirar essa tralha toda. Vou-me embora.

- Estás doida. Não vais a lado nenhum.

- Quem vai me impedir? Você? Teodoro eu acho que eu já deixei bem claro que eu faço o que quero.

Antes que eu abra a porta escuto ele dizer. - É assim que você agradece-me por eu ter salvado a sua vida mais uma vez.

Fecho os meus olhos com força. Não estou preparada nem física, que dirá emocionalmente para ter esta conversa com ele. Acho que nunca estarei.
Eu bem sei que ele merece uma explicação. Da outra vez fuji e não lhe dei, e desta vez não será diferente.

- Muito obrigada Teodoro. Quem sabe eu não te promova do cargo de patrão para anjo da guarda. Digo ironicamente.
Abro a porta e saio da sala sem olhar para trás.
Bato a porta com força.

Uma Secretária Quase PerfeitaOnde histórias criam vida. Descubra agora