Meus olhos se abriram, sorrindo ao despertarem para um novo dia. Mas não qualquer dia.
Sabendo disso, meus pés calçaram as pantufas e foram alegres ao encontro do calendário preso à parede.
"Onze de Maio."
É hoje, o dia em que nos casamos.
Arrastei meu corpo ainda sonolento para debaixo do chuveiro, e tirei da alma todas as incertezas do dia anterior.
Havia prometido a mim mesma que não faria mais aquilo, que iria parar com a tradição. Mas não tinha jeito. Quando o dia onze chegava, o desejo de reviver as lembranças era mais forte do que eu.
Vencida e já fora do box do banheiro, enxuguei-me e escovei os dentes. Sequei os cabelos e coloquei a roupa que ele mais gostava.
Mesmo já tendo se passado tanto tempo, ao sentar na mesa para apreciar o meu simples café da manhã, meus olhos foram atraídos pela cadeira à minha frente. Era lá que ele costumava se sentar.
Seu jeito sério — que viajava da refeição para as palavras cruzadas do jornal — nada me dizia. Mas o silêncio daquela presença era mais do que suficiente para mim.
Ao terminar de comer, escovei novamente os dentes, peguei meu casaco e saí pela porta, rumo ao lugar em que nossas almas se encontrariam.
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Longe de Ti
Short StoryQuem se vai deixa um pedaço de si mesmo conosco. Este pedaço nos ilude, dando-nos a sensação de que podemos ressuscitar nossas doces lembranças. É esse o dilema da protagonista desse conto, que imersa em solidão após a morte do marido, adquiriu o há...