Meus olhos avistaram de longe a pequena igrejinha, sofrida e comida pelos vermes do tempo.
Meus pés adentraram o local, e contemplaram os lindos afrescos e imagens sacras que lá haviam.
O silêncio do lugar era meu marido. O silêncio que ele fazia ao comer enquanto se distraía com as palavras cruzadas.
Em um suspiro, fechei os olhos.
Ao reabri-los, seu lindo sorriso me esperava no altar.
Meu corpo agora trajava o vestido de noiva feito por minha mãe.
À medida que caminhava sob o som da marcha nupcial, os convidados cumprimentavam-me com largos sorrisos. Mas eu só tinha olhos para o homem de terno no altar.
A cada passo, sentia minhas memórias renascendo.
Os sonhos agora eram possíveis, as dores haviam se apagado. Tudo importava.
Quando já estava tão perto que podia tocá-lo, meu futuro marido estendeu a mão.
Ao me preparar para tocá-la, uma outra mão, vinda de minhas costas, repousou sobre meu ombro, sólida e real.
Uma explosão de esperança fez meu corpo virar em direção ao dono daquela mão.
— Hoje é dia onze, não é? — disse o zelador da igreja.
O brilho da esperança abandonou meus olhos quando eles perceberam que o zelador não era o homem que eu procurava.
— Sim — respondi.
— Quer que eu traga um copo d'água para a senhora?
— Na verdade, eu...
— Não diga mais nada. Peço desculpas pelo incômodo.
Virando as costas para mim, o zelador saiu de cena, deixando-me sozinha com minhas dores e lembranças.
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Longe de Ti
Short StoryQuem se vai deixa um pedaço de si mesmo conosco. Este pedaço nos ilude, dando-nos a sensação de que podemos ressuscitar nossas doces lembranças. É esse o dilema da protagonista desse conto, que imersa em solidão após a morte do marido, adquiriu o há...