Capítulo onze

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Bᴇᴀᴛʀɪᴄᴇ Wᴀʏɴᴇ

Depois da nossa briga, só vi Andrew de noite, quando foi a hora de se arrumar para ir para a balada. O clima entre nós está desconfortável e tenso.

Depois que ele saiu para Deus-lá-sabe-onde, eu fiquei pensando por um tempo no que falei. Eu passei dos limites, admito. Eu fui hipócrita.

   Eu como uma mulher negra sei exatamente o que é ser subestimada e diminuída. Eu não devia ter feito aquilo com ele, ele não merecia. Não que isso vá justificar minhas palavras, mas eu surtei.

   Eu surtei com o fato de ter querido tanto ele que achei que fosse explodir. Agora eu me sinto culpada por ter estragado a relação mais confortável que tínhamos construído.

   Quando ele chegou em casa, ele não falou comigo. Nenhuma brincadeirinha ou provocação. Ele passou por mim como se eu não existisse. E quando olhou para mim, uma única vez, eu vi a mágoa em seu olhar. Senti vontade de chorar.

   A culpa é um dos piores sentimentos a se sentir.

   Visto o vestido que escolhi e faço uma maquiagem simples. Meu vestido também é simples; ele é preto - um verdadeiro achado, tenho que dizer -, e tem mangas longas e transparentes. Ele chega até o meio das minhas coxas, e abraça todas as minhas curvas de uma forma linda. Eu me sinto bonita.

   Faço algumas ondas nos meus cabelos para tentar controlar-los. Não tenho paciência para dar um jeito nos meus cachos hoje.

   Belmont entra no quarto, só de toalha, enquanto eu passo batom e eu fico tensa. Não me atrevo a olhar o corpo dele, apenas foco no espelhinho que tenho em minhas mãos.

   Recolho as minhas coisas e saio do quarto. O ar está muito pesado. Termino de me arrumar no banheiro, e  quando saio do banheiro, encontro Andrew sentado no sofá, mexendo em seu celular.

   Ele usa uma jaqueta verde escuro, uma camiseta preta e uma calça da mesma cor. Ele está bonito, mas isso não é novidade.

— Estou pronta.

   Ele tira os olhos do celular e me olha. Os olhos dele estão vazios. Mesmo assim, não deixo de perceber os olhos dele vagando pelo meu corpo, me analisando.

   O caminho até a balada é quieto. Acho que fiquei até receosa de respirar.

   Quando estamos no estacionamento, Andrew solta um suspiro.

— Não se esqueça de que se for pedir bebida, peça batida e não mexida. Olhe se não tem nada de errado nas bebidas, não beba nada que qualquer outro homem que não seja eu te dê. — me surpreendo ao ver que ele parece realmente preocupado como o que pode acontecer comigo.

— Ok, obrigada pela preocupação. — digo quase mecanicamente.

   Ele revira os olhos.

— Eu não estou preocupado com você, estou preocupado com a missão. Se você for drogada ou ficar bêbada, pode abrir a boca e ferrar tudo.  Ao contrário do que você acha, eu me importo com essa missão.

   Olho para ele, chocada.

Apesar de Andrew sempre ter me provocado, ele nunca me tratou assim. Já nos xingamos de todo tipo de xingamento possível. Mas ele nunca foi grosso comigo assim.

— Ok.

   Eu realmente não sei o que falar. Ele me deixou sem palavras agora.

   Logo na entrada, tem uma fila enorme. Mas na mensagem diz que poderíamos passar direto e entrar, pois nossos nomes já estariam na lista.

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