21.

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Andrew me olhou como se perguntasse se eu estava bem com isso, apenas fiz que sim com a cabeça e ele saiu logo atrás de Chris.

—Fala logo, já fiquei aqui tempo demais.

Ele estava de costas para mim se apoiando na mesa, as pontas dos dedos estavam um pouco amarelas pela força que ele segurava.

—Eu fiz tudo por você, como pode dizer que eu não te amei? que eu não te amo e prefiro esse imbecil à você?

—Você nunca me amou, Richard, infelizmente a única língua que você fala é a do dinheiro, só que eu não sou um objeto que você paga pra levar pra casa.

—Eu fiz tudo por você. Sua escola, sua faculdade, telefone novo todo ano, viagens, intercâmbios.

—Esse é o seu problema, só porque sempre comprou tudo pra mim não quer dizer que fez seu papel de pai. Me diga Richard quantas vezes você foi as minhas apresentações na escola? Quantas vezes você me abraçou? Quantas vezes você me ligou ou perguntou de mim quando eu estava na faculdade? Onde estava você, a merda do pai do ano, quando aquele filha da puta me batia dentro da minha própria casa!.

As lágrimas rolavam desesperadamente pelo meu rosto, eu soluçava algumas vezes enquanto falava.

—Você não tem coragem nem de olhar na minha cara pra ter essa conversa e vem me dizer que eu sou a ingrata aqui? Você nunca fez nada por mim como pai, e se você acha que servindo de banco iria ter a minha eterna gratidão isso só prova que você não conhece a filha que tem. Ou melhor, a criança que minha mãe pariu porque parece que filha você nunca teve.

Ele finalmente se virou para mim, estava o tempo inteiro de costas apoiado na mesa de madeira escura. Ao se virar pude ver os olhos vermelhos e o rosto molhado, fiz uma cara surpresa e meu queixo quase caiu, estava presenciando uma cena impossível: Richard Sinclair chorando na frente de alguém, na minha frente.

Não falamos nada por um bom tempo, ficamos nos olhando profundamente buscando palavras, mas não encontrávamos. No meio disso tudo o choro continuava presente e era a única coisa que preenchia o ambiente no momento.

Richard caminhou até a garrafa de whiskey e, enquanto se servia, começou a falar.

—Você não tem ideia do quanto eu tentei ser alguém pra você. Éramos jovens e quando ela se foi -ele encarou o chão chorando mais e tomando um gole do líquido no copo. -eu não sabia o que fazer da minha vida. Não sabia o que fazer com a sua vida.

Comecei a balançar a cabeça em sinal negativo me afastando dele. Não, eu não iria cair naquela história dele, nada mudava os fatos, nada muda o que ele fez comigo.

Eu não quero ouvir o que ele tem a dizer porque sei que assim que ele terminar de falar eu perdoarei ele e por algum motivo eu não quero perdoar ele. Eu quero continuar com essa mágoa contra ele porque sem ela eu tenho medo de sofrer o que sofri novamente.

—Eu pensei em te colocar pra adoção, mas meu pai não deixou, disse que se as pessoas descobrissem iriam dizer que eu era pai de uma filha bastarda e isso mancharia o nome da família. Eu só tinha 20 anos, Sn, pense um pouco, se coloque no meu lugar.

Ele me segurou pelos ombros sem ser de uma forma agressiva, pela primeira vez sua guarda estava baixa, eu sentia verdade nas suas palavras e ele não estava me tratando com grosseria.

—Imagine a pessoa que você mais ama nesse mundo, imagine se casar com ela e planejar o futuro. Agora imagine que do dia pra noite vocês terão uma criança, planejam fazer isso juntos, assumir a responsabilidade dos seus atos... mas então a pessoa que você mais ama se vai e tudo que lhe resta é vazio. Os sonhos, os planos, tudo destruído em uma única noite e o motivo disso foi o que lhe sobrou. Eu tinha medo minha filha.

SinclairWhere stories live. Discover now