CAPÍTULO #2

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Noah McLean

— Finalmente chegou, meu amor! — Sou ligeiramente esmagado pelo abraço de urso da minha mãe, que já estava toda produzida de vermelho para a véspera de Natal. Era a época preferida do ano dela. Fiquei de visitá-la e passar o fim de ano com minha família. Depois do ocorrido em meu relacionamento fracassado, minha mãe me fez fazer as malas e voltar permanentemente para a capital, onde voltaria a viver com ela por um tempo.

Sei que ela ainda tinha medo que eu sofresse uma recaída e acabasse tentando algo contra minha própria vida. Mas a essa altura, eu já não quero mais passar por tudo aquilo de novo. Foi difícil vê-la sofrer por mim, tentar me erguer quando tudo que eu queria era afundar. Mas ela nunca desistiu, e dessa vez, farei isso por ela, me manterei firme por ela.

— Mamãe! Mamãe! Quero ir ver o papai Noel! Papai Noel! — A pequena criaturinha de 5 anos de idade gritou aos quatro ventos, correndo ao redor dos pés da minha mãe, com uma empolgação tão grande, que quase me fez revirar os olhos. Mas lembrei que minha irmãzinha era apenas uma criança e vivia em um mundo onde não havia dor, não havia traições, não havia mentiras.

Somos nós adultos que vivemos no mundo real, não as crianças.

— Oh, céus! Eu tinha me esquecido completamente! — Mamãe exclamou, levando as mãos cobertas pelas luvas vermelhas e felpudas ao rosto, me olhando como se eu fosse sua esperança. — Ah! Meu filho, pode levar sua irmãzinha para o shopping? Está tendo a atração com o papai Noel e eu estou com milhares de receitas para preparar e separar antes da nossa ceia.

— Claro… Preciso me distrair um pouco mesmo… — Falo, já que era mil vezes melhor levar minha irmã ao shopping do que ficar em casa e ouvir uma Playlist inteira de Natal enquanto minha mãe rodopia pela casa como se fosse uma mocinha de 15 anos. Eu fico feliz por ela, por vê-la tão jovial e animada, mas eu estava em um momento que eu só queria que esse dia acabasse. Não estava tão íntimo do espírito natalino como todo mundo e só desejava que tudo retornasse à normalidade chata de sempre.

— Certo! Antes tome um banho e se arrume. Quando chegar, vamos decorar a árvore de Natal! — Exclamou, com tanta animação que nem consegui negar. — Ah! E use vermelho! Fica tão bonito de vermelho! — Ditou, como uma ordem disfarçada de elogio. Apenas concordei, mesmo que antes eu tenha planejado usar minhas roupas desgastadas de sempre e no tom preto. Mas não iria aparentar um ser doente de novo e estragar o espírito natalino da minha mãe, só porque o meu também foi estragado.

— Certo…

Então subo para meu quarto, que ela manteve intacto por todo esse tempo. Era bom saber que eu tinha uma família com quem eu sempre poderia contar, que me receberia nos bons e nos maus momentos.

Respiro fundo, decidindo tomar um banho quente, lavando meu corpo, pois ainda me sentia sujo ao relembrar a traição, por ter permitido que um dia aquele canalha me tocasse, se satisfizesse e depois me descartasse da pior forma.

Balanço a cabeça, tentando não pensar mais nisso. Busco algo para vestir. Algo vermelho. E não foi difícil achar a camisa que justamente fora um presente de minha mãe no dia do meu aniversário, já com a intenção de que eu usasse isso no dia do Natal. Era uma camisa de tecido grosso, gola alta e mangas compridas, que colava em meu corpo intencionalmente. Peguei uma calça preta mais quente, já que o tempo estava congelando lá fora. Me olho no espelho, enquanto terminava de vestir a terceira peça, um sobretudo negro, que deixei fechado, amarrado apenas em um nó na cintura, deixando amostra apenas a gola da camisa, parte do peito e o final das minhas pernas cobertas pela calça. Pego um cachecol vermelho e calço minhas botas pretas.

Eu não estava tão ruim, mas tentei me arrumar de alguma forma. Ajeito meus cabelos dourados, apenas para escondê-los dentro da touca vermelha. Meus olhos azuis transmitiam todo o vazio que sentia, mas saí rapidamente de frente do espelho para não me decepcionar ainda mais comigo mesmo e decidir até de sair.

Minha irmã Clair já estava pronta, em seu vestidinho vermelho e com tule, além do gorro de papai Noel e o casaco vermelho para se proteger do frio. Ela era uma mini cópia da nossa mãe quando se tratava do Natal.

— Vai com cuidado e não demorem! — Mamãe gritou, acenando na porta de entrada. Seguro a mão de Clair, que andava saltitando, falando tudo que pediria ao papai Noel.

Se ele fosse atender tudo que ela pede… ele certamente vai à falência.

— Certo, apenas comporte-se quando chegarmos lá. Lembre-se que só ganhará presente se for uma boa menina — Falo, e ela concorda prontamente, pedindo braço porque não queria mais andar. Então me abaixei, a deixando subir em minhas costas, o que certamente a deixou ainda mais animada.

Crianças ficavam felizes com pouco, enquanto nós adultos precisávamos de um longo tempo de adaptação e apoio para se satisfazer com algo. E às vezes ainda não é o suficiente.

Queria poder me felicitar com o pouco também… Sem ficar remoendo minhas dores a todo momento…

Quando a Mágica Acontece - Conto Especial de Natal Onde histórias criam vida. Descubra agora