Capítulo 03

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P.O.V. Antonella - 2001

"Como você pôde se afastar de mim

Quando tudo o que posso fazer é vê-la partir?

Porque nós compartilhamos o riso e dor,

Compartilhamos até mesmo as lágrimas

Você é a única que já me conheceu por inteiro...".

Against All Odds (Take a Look At Me Now) – Phil Collins

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Como é possível estar completamente destruída no dia que você imaginou durante anos, que sonhou literalmente por mais de uma década? É assim que me sinto no dia da minha formatura.

É óbvio que eu quero muito finalmente me formar e sair desse inferno que chamei de escola/lar por tanto tempo, porém tenho um grande ponto negativo: o adeus à Anya.

Minha indiana favorita é minha melhor amiga, minha confidente, minha primeira... primeiro beijo, primeira transa, primeira namorada.

Ok, só durou meio mês a história do namoro, pois vimos que era melhor manter só a amizade e um pouco de safadeza quando desse vontade, mas ainda assim, apesar da pequena duração, foi um namoro com direito a pedido.

Estávamos bêbadas, mas palavra dita por Antonella Matarazzi não faz curva. Graças a Deus chegamos num consenso para o fim, pois fiquei muito preocupada com nossa amizade.

Enfim, dar adeus ao maldito colégio é dizer um "até qualquer dia" para a Anya, que está de malas prontas para a Alemanha, onde estudará engenharia petroquímica.

— Ei, que carinha é essa? — nem consigo responder. Apenas abraço minha pequenina bem apertado e deixo as lágrimas caírem soltas. — Ella, a gente já sabia...

— Eu sei, esse dia chegaria... mas está doendo! Você é a única família que eu tenho, não quero te perder!

— Não podemos lutar contra tudo e contra todos, minha linda. Eu também sentirei saudades de você, mas precisamos seguir nossos caminhos e aceitar o que o destino nos preparou.

— Saudades... lembra do dia que tentei te explicar o significado? — Anya dá um sorriso divertido enquanto limpa minhas lágrimas com carinho.

— Sim, foram quase vinte minutos de explicação! Aliás, eu nunca te agradeci por me ensinar a sua língua materna, me economizou uma grana com aulas particulares!

— Imagina eu que aprendi Hindi e Bambaiya? Uma grana economizada e além de ser quase uma exclusividade... quantas pessoas fora de Mumbai falam o dialeto de vocês? Além do mais, é muito chique ser poliglota!

Rimos juntas, sabendo que em breve não poderemos mais fazer isso.

— Nós precisamos ir, a cerimônia começará em breve.

Abraço mais uma vez minha pequenina e nos beijamos pela última vez. Um beijo demorado, tranquilo, banhado por lágrimas. Um beijo de despedida.

— Boa sorte na Alemanha, Anya.

— Boa sorte e cuidado na América, Ella! Não esqueça de me escrever!

— Nada de e-mail, certo?

— Sim, pode enviar e-mail, mas independentemente do que nos acontecer, quero continuar recebendo e enviando cartas codificadas. Será nosso ritual de amizade, não passamos anos desenvolvendo aqueles códigos à toa!

— Combinado.

Saímos do quarto de mãos dadas e ignoramos completamente os olhares atravessados direcionados à nós. Foda-se, eu me formei nessa merda e não devo obediência a ninguém!

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