II - Noite de Caça.

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— Santa Hest... – Novamente o garoto vomita em um balde próximo a si, essa foi a oitava vez só essa noite.

Bell encontra-se arrumando a bagunça que deixou na sala.

Um serviço simples consistindo em mover alguns móveis para lá e para cá e passar um pano úmido no cômodo virou um esforço hercúleo. Seu corpo não respondia como devia.

Ele sentia-se como um bebê aprendendo a andar, apenas erguer a mesa de centro exigiu toda sua força e uma coordenação ímpar de todos os seus músculos que pareciam estar derretendo tal como um cubo de gelo deixado ao sol.

O balde, seu fiel companheiro nos episódios de náusea, originalmente dispunha da água necessária à limpeza, mas agora está quase transbordando com um estranho líquido viscoso demais para ser água e denso demais para ser diluído.

"Humanos não produzem isso." Bell deduz, usando toda sua capacidade cognitiva, ou ao menos o que restou dela.

O garoto sentia-se cada vez mais distante, a realidade parecia cada vez mais um sonho e sua consciência começava a vacilar com frequência crescente. Ele estaria com medo, porém uma sensação intensa anomia reina em sua alma, inibindo qualquer reação minimamente racional contra esse quadro.

A única coisa que mantinha o garoto mais ou menos são era:

Ding Dong

O som do velho relógio de parede, de meia em meia hora aquela velharia fazia um "ding", e de hora em hora um "ding dong", normalmente ele odeia o barulho infernal produzido por aquele instrumento, mas agora está feliz pela insistência de Hestia em manter aquela quinquilharia por lá.

O barulho o acorda daquele transe, por um instante ele pensa em correr de casa, buscar ajuda, pois, nesses breves momentos de lucidez, tina plena consciência de sua condição assustadora.

Mas assim como um pesadelo ruim

Quando Bell acorda

Logo esquece

Do que

POV BELL:

— Hum? Estou esquecendo de alguma coisa? – Digo para mim mesmo, tomando nota de todas as minhas tarefas.

Koko está estável e dormindo. A sala está arrumada. O chão parcialmente limpo. Minha adaga volta a bainha e Hestia só volta depois da madrugada...

"Kami-sama..." A imagem da minha deusa preenche minha mente, enchendo-me de vergonha, não dela, mas de mim mesmo.

Por causa das despesas adicionais ela foi obrigada a trabalhar em um estabelecimento vulgar no distrito vermelho de Orário. Ela não diz nada pra mim, mas todo dia eu a ouço chorar baixinho com o desgosto que sente daquele lugar.

Hestia é acima de tudo a deusa do lar e da castidade, trabalhar em um lugar nojento como aquele vai contra a natureza pura e gentil dela e apesar disso eu não consigo fazer nada para tirar ela dali nada para ajud-

— O remédio! – Exclamo, quase acordando o pobre Koko no processo, eu prometi passar na farmácia do Miach para pegar os remédios.

Já são cerca de 22:00, com sorte eles estariam em plantão, mas não posso arriscar, jamais me perdoaria se eu desse mais trabalho para Kami-sama.

Escaneio o cômodo da igreja abandonada que chamamos de quarto, pego minha carteira, minha adaga e tateio meu corpo, tentando lembrar se estava esquecendo alguma coisa.

"Minha camisa!" – As gazes enroladas no meu corpo insulam o frio e cobrem meu corpo, as vezes é fácil esquecer que não estou usando nada pra cobrir meus membros superiores.

Danmachi: Reminiscências de Sinar.Where stories live. Discover now