Capítulo Dezesseis.

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Uma vez no quarto que fora hospedada, Magali retirou as roupas úmidas, sentou na borda da banheira rústica e observou a água rolar da torneira improvisada e enchê-la vagarosamente. Já se podia ouvir a chuva desabando lá fora. Deixou que enchesse até a metade e completou com a água quente da chaleira que havia esquentado assim que chegou. Gemeu quando sua pele fria entrou em contato com a água morna e começou a se ensaboar. Quando chegou em seu sexo, retirou a mão assustada. Após alguns segundos, retornou e continuou se tocando. Estava coberta pela lubrificação inerente a excitação. Ficou olhando para as sombras que as luzes das velas projetavam na parede, pensando no efeito que Eulália lhe causava sem nenhum esforço. Já deveria ter se acostumado com este fato, mas todos esses sentimentos e anseios eram novos para ela, como uma terra desconhecida que precisava ser minuciosamente explorada.

De repente, sentiu-se suja, indigna, e um choro aflito brotou de seu âmago. Não poderia se deitar com Eulália sem lhe contar toda a verdade sobre seu passado. Ela não lhe poupara nenhum detalhe sobre sua vida particular, também deveria fazer o mesmo. Não poderia cometer o mesmo erro com Vitor, omitir verdades, manipular a partir das emoções. Não era o certo. Com Eulália sentia necessidade de ser honesta, sincera e transparente. Gostaria de recomeçar sem culpas e receios, construir um relacionamento baseado unicamente na verdade e no respeito. Ela não merecia menos do que isto, nem Eulália. Mas onde encontrar coragem para tais revelações? Eulália a aceitaria?
Terminou o banho, e enquanto se vestia escutou que os teclados do piano que havia na sala eram acariciados delicadamente, como se fossem testados e uma canção se formar gradativamente.
Sorriu, quando terminava de abotoar o vestido florido de mangas longas, e ajeitou o cabelo nas costas. Eulália era muito talentosa, seus dons artísticos iam muito além dos desenhos e pinturas. Uma pessoa apaixonável e contagiante. Como resistir? Desceu imediatamente. Seu coração estava aos saltos, precisava ter Eulália sob sua visão novamente. Desceu as escadas com cuidado, degrau por degrau e quanto mais a silhueta de Eulália se revelava, mais seu corpo sinalizava.

A pintora percebeu sua presença, porém não parou de tocar. Enquanto seus dedos dominavam habilmente as teclas, observava compenetrada a Magali se aproximar.
A morena analisou a alva detalhadamente. O cabelo úmido; com a franja despenteada cobrindo a testa; a camisa de mangas longas abotoada até a altura do colo; a calça larga nas canelas e os pés descalços lhe moldavam uma sensualidade recém notada.

Magali parou ao lado de Eulália, a sua frente e teve prazer em ser sua plateia. Um verdadeiro espetáculo particular que apreciaria até o último instante.
Já ouvira aquela música em um concerto em Paris, mas nada se comparava a performance de Eulália, unindo naturalmente: técnica e emoção a cada nota executada.
Magali a ovacionou com fervorosas palmas no final da melodia.

- Como soube que essa é minha música preferida?

Eulália apenas sorriu. Limitou-se a levantar e segurar carinhosamente as mãos de Magali.

- Intuição.

A morena a encarou por alguns segundos, inebriada pela admiração. Repentinamente, se deu por si e esquivou-se chorosa e trêmula. Deu as costas para Eulália e se entregou a um choro compulsivo, enquanto o fogo consumia a madeira na lareira a sua frente, crepitante.

- Perdoe-me Magali, se estou indo rápido demais. Não quero te assustar, pelo contrário, também quero entender o que se passa conosco.

- Ah, pelo amor de Deus, Eulália! Cale-se! - Magali se exaltou - Pare de se desculpar. O problema não é com você!

- É o Vitor? Ainda o ama?

- Não! - esbravejou - Eu não amo seu irmão, nunca o amei para ser sincera. Ele não tem nada a ver com isto, diria que apenas foi a ponte que me trouxe para você. A pessoa que me ofereceu a oportunidade inconsciente de te conhecer.

Minha Única Inspiração Where stories live. Discover now