Capítulo Vinte e sete.

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⚠️ Gatilhos

Magali acordou sobressaltada certa manhã.

— Você está bem?— Eulália que dormia abraçada a ela e também acabou acordando, questionou.

— Sim. Tive um pesadelo, só foi isto.

— Quer me contar?

— Não me lembro. Só acordei com o mau pressentimento.

Antes que Eulália formulasse uma resposta, um dos pontos do telefone que ficava ali no quarto tocou. Deduzindo que Vitor e Jessica já saíram, o primeiro para o trabalho e a segunda para a escola, a pintora sentou na cama e o atendeu da cabeceira. Alguns minutos de conversa desconexa, ela colocou o aparelho de volta ao gancho e fitou Magali.

— É minha avó, não é? — Magali sondou apreensiva.

— Sim. Era Osvaldo avisando que ela desencarnou esta madrugada e o velório já está acontecendo na mansão onde ela residia, obedecendo a sua última exigência.

— Então era disso que se tratava o sonho — Magali levou a mão ao peito esquerdo. — Sinto que devo ir acompanhar o velório e o enterro.

— Irei com você, fique tranquila — atenuou fazendo carinho em seu braço trêmulo e gélido.

Magali assentiu. Prepararam-se física e emocionalmente, e seguiram para a casa da falecida senhora.
Uma vez lá, foram recepcionadas educadamente por Osvaldo, que se mostrara grande amigo de Dona Margarida nos seus últimos meses de vida, depois que se conheceram pelo favorecimento das circunstâncias, quando a ríspida madame o contratara para encontrar a neta desaparecida por sua própria responsabilidade.
Como Eulália havia imaginado; a cerimônia estava repleta de pessoas interessadas nos benefícios do patrimônio valioso da avó de Magali. Quando a viram acompanhada do belo rapaz de olhos verdes, começaram a cochichar, especulando de quem poderia se tratar a mulher que tanto se assemelhava a falecida nos traços físicos.
Magali mesma ficara bastante surpresa com a parecença que tinha com a idosa estirada elegantemente dentro do caixão, maquiada, com joias e um vestido de gala. Nem parecia que morrera, apenas que sustentava um sono  profundo.

A morena não saíra do lado da defunta. Na mente, ficara criando histórias de como seria se tivesse crescido ao lado dos pais e dela, e consequentemente formado uma família. Como seria ter nascido num berço de riqueza, recheado de amor. Teria  amadurecido tanto como conseguira graças as experiências que vivera? Teria desenvolvido virtudes como a humildade e a determinação? Ou teria se deixado levar pelo bom nome e o luxo? Agora conseguia compreender. Precisara traçar outros caminhos para se aprimorar e subir mais um degrau na evolução. Dona Margarida apenas contribuíra para isto mesmo que inconscientemente, influenciada pelo orgulho e o preconceito. Contudo, sua avó era um ser humano imperfeito como qualquer outro, e não podia oferecer a seus pais mais daquilo que ainda tinha naquela determinada situação. Não sabia explicar, mas sentia que o pai e a mãe também precisavam passar por tal experiência e que haviam aprendido com ela sem revolta. As lágrimas finalmente brotaram de seu cerne e sentiu o perdão exalar de sua aura. A sensação plena de alívio e paz, lhe regozijara, lhe acalmara os ânimos, e lhe revigorara as energias. Seu choro não era de tristeza, nem de amargura, mas de consciência tranquila. Sem perceber estava emanando bons votos ao espírito da avó que ao sentir o perdão da neta, fora beneficiada de automático e concordou em partir com os espíritos amigos que vieram lhe amparar e lhe conduzir em sua nova e verdadeira condição; a de espírito imortal em constante evolução. Somente seus restos mortais ficaram ali e logo seriam tragados pela terra como deveria de ser. Ninguém podia ver, mas Dona Margarida partira realmente.
Magali sentiu-se reconfortada e serena de alguma forma que não conseguira precisar.

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