II. A pirata & A sereia

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Ainda nos tempos em que pensavam que o mar era um abismo e os navios nunca arriscaram ir longe o suficiente, existiam lendas. Elas se espalhavam como pragas, se disseminando pela população, alcançando plebeus e burgueses, pobres e ricos, adultos e crianças.

Essas lendas eram contadas por pessoas que tornavam o impensável real. Pessoas que faziam com que o impossível existisse. Pessoas consideradas loucas, ao mesmo tempo em que eram temidas, e admiradas.

Mas, talvez, essa é a sina de todos os loucos. Ser primeiro temido, depois admirado. Mas não estamos falando de gênios, como Albert Einstein ou Leonardo da Vinci. Não. Estamos falando de coragem.

Estamos falando de pessoas que eram conhecidas por saquear feirantes, roubar inocentes, assustar crianças, andar com facões nos bolsos e usar vestimentas estranhas, largas. Estamos falando dessas mulheres esquisitas que apareciam no cais usando calças e sapatos masculinos, enquanto que os homens usavam bandanas, e tapa-olhos. Eles eram vistos como danificados: tinham dentes de ouro, pernas de pau, ganchos no lugar da mão e carregavam consigo a possibilidade de cometerem um homicídio a qualquer momento. Também havia a maldade, o sangue seco que carregavam nas mãos, um certo divertimento ao ser cruel.

Alguns assassinos, grande parte ladrões, saqueadores, fugitivos. Aventureiros. Pessoas assustadoras. Maquiavélicas. Perigosas. Caçadores de tesouros e terras perdidas. Grandes conhecedores do Mar e do Vento, das Terras e dos Deuses.

E, apesar da aparência e das vestes, dos tantos palavrões, visível mal humor e de parecerem dispostas a fazer as maiores atrocidades existentes, eles ainda saíam contando coisas absurdas para quem quisesse ouvir. Eles falavam sobre baleias gigantes. Monstros marinhos. Jacarés que emitem sons de relógio ao se aproximar. Relíquias escondidas em ilhas desertas e desconhecidas. Princesas que viviam presas em torres. Um menino que nunca envelhecia. Fadas. ''Existem peixes que carregam lampiões consigo'', um pirata uma vez disse. ''Existem dragões ao leste, além do horizonte'', outro afirmou. Eram coisas absurdas.

Eles diziam que existiam terras além da linha onde o mundo acabava.

Todo mundo sabia quem eles eram, e ouviam suas histórias. Mas ninguém acreditava, não de verdade. Afinal de contas... Não se deve confiar em um pirata. Nunca.

Uma coisa é fato: o ser humano sempre teve medo do desconhecido. Principalmente quando esse desconhecido envolvia vastos oceanos e monstros voadores. As coisas que os piratas pregavam desafiavam todos os historiadores da época, céticos e cientistas.

Mas as histórias, as lendas, eram tão interessantes que chamavam a atenção de qualquer um. E isso é algo que se estende até hoje.

Lynn Stevenson, uma garota sardenta de pouca beleza e muita raiva no olhar, trabalhava em um bar sujo e fétido que ficava próximo ao porto. Ela detestava tudo sobre a própria vida. Odiava o cheiro de peixe, os clientes mal educados, a brisa sempre fria, e o assédio constante que sofria pelos marinheiros e trabalhadores. Acima de tudo, ela odiava o fato de ter que aguentar tudo calada.

Até que um dia uma mulher alta e na média dos quarenta adentrou aquele bar específico em uma madrugada. Homens gordos e barbudos festejavam e bebiam cerveja em grandes copos como se fosse água. As velas estavam acesas no alto, e o som do violão dos bardos era animado e incansável. Lynn limpava as mesas imundas com um pano encardido. Ela estava cansada.

Ninguém notou a mulher alta que tinha acabado de entrar, mas Lynn a encarou como se fosse uma espécie de sonho. A garota observou o cabelo curto dela, em corte de homem, o que era extremamente incomum. Notou também suas vestes: Calça marrom, larga e encardida. Regata branca apertada, realçando os bustos. Duas espadas cruzadas nas costas. Pés descalços.

Darling I'm Ready (to burst into flames for you)Where stories live. Discover now