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Mitsuya

Faz três dias que estou em Paris.

Andando pelas ruas. Fotografando as vitrines das lojas. Captando o estilo de roupa que costumam usar na capital.

E tudo é tão surreal.

É como se não existisse pobreza aqui. Não há mendigos dormindo na praça. Há apenas casais, crianças e idosos desfrutando do local. Não se vê crianças trabalhando ou pedindo dinheiro no trânsito. Ao invés disso, ver-se apenas carros luxuosos e brilhantes.

Posso dizer, sem muita preocupação, que em Paris, não há lugar para pobres.

E eu não sou rico. Tudo é tão caro aqui, que passei o dia inteiro sem comer. Mas já é fim de tarde e minha barriga não aguenta mais. Me direciono a primeira lanchonete/restaurante que vejo.

Vou até o balcão e procuro lanches americanos. Ainda não encontrei um McDonald aqui.

- Boa tarde, vocês vendem algo parecido com batata frita, hamburguer, sanduiche...? - Pergunto ao atendente que me encara sério, por um bom tempo.

- Seu francês é péssimo. - Ele sorri. - Aposto que é turista, então vou te ajudar. No fim da rua, dobre a direita, você vai achar o que procura.

O encaro, me sentido um pouco ofendido, mas sigo seu conselho, o amaldiçoando em minha mente. Quando chego a porta, olho para trás, prometendo para mim mesmo que jamais voltarei aqui. Sob hipótese alguma.

Alguém, apressado até demais, esbarra em mim. E sequer parou para pedir desculpas.

- Ei, parceiro. - Chamo a sua atenção. - Olha por onde anda. Acabou de me dar um encontrão.

Ele me olha, calado. Como se estivesse estudando o meu rosto. Encara meu cabelo, repara nas minhas vestes e volta a olhar-me nos olhos.

- Eu te conheço. - Embora pareça uma afirmação, soa como uma pergunta.

- Só presta atenção, cara. - Viro-me para ir embora.

Até que ele segura meu braço.

Não sei se é a fome ou o atendente, mas isso me deixa extremamente puto. Sinto que poderia socar a cara dele só por ter tocado em mim.

- Eu te conheço, cara.

- É? De onde caralhos me conhece? - Dou um passo a frente, enterrando as mãos em meu bolso.

- De Londres. Último ano do ensino médio. - Ele põe a mão em meu ombro. - Sei que não chegamos a ser amigos, mas, você sumiu, cara.

Agora que ele mencionou, sou eu quem o estudo. E ele não tem mais aquele cabelo ridículo de surfista.

- Breno?

Ele concorda e, imediatamente, sinto que estou no lugar certo. Ela pode estar aqui. Mas não quero ficar aqui e fazer amizade com seu amor adolescente.

- O que está fazendo por aqui, mano? - Ele me pergunta. - Não quer entrar? Podemos comer algo.

Encaro a porta do restaurante. Olho sobre seu ombro e vejo o atendente no balcão, atendendo as pessoas, todo sorridente e amigável.

- Não. Vou ter que passar essa. - Me afasto discretamente, para que ele tire a mão de mim. - Eu já vou indo.

- Ainda bem que fui eu quem te encontrei, porque, se fosse ela, cara... - Sua voz soa com extrema provocação, como se ele estivesse se gabando por algo.

E não preciso perguntar para saber que é da S/n que ele está falando.

Mas, entro no jogo dele e faço-me de desententido.

- E quem seria "ela"? - O olho e vejo um sorriso crescer em seu rosto.

- Vamos lá, você sabe que é da S/n que estou falando. - Ele dá um passo a frente e me olha com empatia. - Sei que você tinha uma quedinha não correspondida por ela.

Ele dá alguns tapinhas em meu ombro e observo seu movimento, tentando me acalmar.

De repente, aquela vontade de socar a sua cara voltou três vezes mais forte.

- E porque ela é a primeira coisa que precisa falar para mim?

Ele cruza os braços.

- Como assim, cara? - Ele sorri, desajeitado.

- Me diz você, já que está usando uma garota como um troféu. - Vejo a confusão em seu rosto. Ele está buscando uma resposta, mas não consegue nada. Então continuo. - Você não amadureceu nada, cara. Continua estando com garotas que não quer estar.

- Está insinuando que não a amo? - Ele avança para cima de mim e segura-me pela gola.

- Estou insinuando que não está apaixonado por ela. - Seguro seu pulso e o faço tirar as mãos de minha camisa. - Porque, se estivesse, não teria me dito que ela está aqui. Sabe que vou rouba-la de você.

Sorrio satisfeito com o efeito que minha frase causou nele.

Ele sorri, incrédulo. Esfrega as mãos no rosto. Dá uma volta e então aponta para mim.

- Olha aqui. - Seu dedo indicador paira sobre minha face. - Se estragar nosso relacionamento, eu te mato, Mitsuya.

- Eu não vou fazer nada. - Abaixo sua mão, tirando seu dedo de tão perto do meu rosto. - Você vai estragar tudo sozinho. Otário.

Ao insulta-lo, o surfista fica nervoso e tenta me golpear. Seguro seu punho e o empurro, fazendo ele bater contra a parede.

- E, se o seu relacionamento está como num dia ensolarado... - Organizo meu cabelo, enquanto ele me olha parecendo um cão raivoso. - Pode ficar preocupado, porque, a tempestade chegou.

Agora sou eu quem dou tapinhas em seu ombro.

- Se cuida, Breno.

Ele não me parece ter mais nada para falar, então viro-me e vou embora.

Sigo as coordenadas do atendente babaca e encontro a tal barraca.

Um idoso, muito gentil, me serve enquanto conversa comigo. Quando não tenho mais fome, vou para casa, com um sorriso no rosto.

Paris, realmente, estava guardando surpresas para mim.

...

BADBOY?Where stories live. Discover now