Ninfeta do Fogo (Kakashi's Daughter)

A ᴅᴇsɢʀᴀᴄᴀᴅɪssɪᴍᴀ Trindade

Eu estava com medo.

Meus pés pareciam pisar pesadamente e profundamente sobre vinhas, permitindo que os espinhos os perfurassem. O ar estava rarefeito ao ponto de sentir meus pulmões se comprimindo. Como um calafrio subir por rodar minha pele e o revirar dos meus órgãos, é como se estivesse do avesso.

Depois do que meu pai falou, de tudo que ele passou, dos meus avós, do meu pai-... Digo, Obito, até mesmo de toda sua trajetória que fez ele querer me adotar. Eu não quero odiar o meu pai ou coisa do tipo, pois eu o escutei e sei que muitos acontecimentos foram difíceis, todavia existem coisas que são injustificáveis. Eu acho que estou apenas tomando meu tempo para processar.

Eu estava vivendo esse tempo todo com um assassino, por algum acaso?

-Eu sempre fui muito sensível, eu acho... - Meu pai havia me pedido para me manter calada, mas eu contei para Mitsuki. Sua expressão gritava de espanto e apavoro. Acho que estava conseguindo ler demais os olhos dele, sendo que sua face não se moveu desde que eu comecei a falar. - Eu pareço louca quando digo que eu não consigo aceitar isso?!

-Não... Não, não, é... - O azulado balançava a cabeça bruscamente e piscava os olhos, parecendo querer sair de algum transe. - Ah, eu nem sei o que dizer...

-Não precisa dizer nada, Mit... - Olhei para o lado e lá estava ele, sendo estranho de novo. Estava com os olhos fechados e lábios se comprimindo, parecendo estar fazendo força. - Ahn... Mit...? - De repente ele virou para mim e abriu seus braços com tudo, parecendo querer imitar o Cristo Redentor.

-Pode... Pode falar... - Sua voz parecia sair com dificuldade, como se estivesse fazendo esforço e seu rosto ficava vermelho como um pimentão.

-Mitsuki, você está bem? - O questionei querendo colocar minha mão sobre sua testa, a fim de checar a sua temperatura, porém ele virou e abaixou seu rosto, se encolhendo.

-Se for fazer... Fazer você ficar mais leve... - Eu não sabia o que ele queria dizer, mas essas palavras me soaram como deja vu.

-Mit, não precisa. - Com minhas mãos, abaixei seus braços tensos, contudo o olhar dourado do outro não voltou a mim. Levantei seus rosto com cada mão segurando uma das bochechas ruborizadas do azulado. - O que deu em você? Você está vermelho e muito quente. O que 'tá te deixando assim?

-É difícil de dizer, Yua... Você vai rir de mim. - Suspirou, deixando cair o seu rosto de um lado sobre a minha palma, acariciando meus dedos e a presença do meu toque naquele lugar.

-Pode me dizer o que quiser. Lembre: Yuasuki para sempre! - Mostrei à ele um grande sorriso, afinal, ele precisava. Foi só ver o sorriso fraco no rosto do outro pareceu me encher de satisfação.

-Eu posso te confortar, pelo menos uma vez? - Como é a história? O que são essas mãos querendo me alcançar?

-E-eu não sei se... Se eu entendi... - Gaguejei de nervoso. O que estava acontecendo? Ele tocou os meus ombros e... E eu não achei que fosse ficar estranha com o toque dele. Meu rosto parecia ter entrado em uma fornalha.

-Eu acredito que você sempre foi como um sol e eu, mesmo sendo do jeito que sou, sempre consegui ser melhor quando estou com você. - Parecia que ele soltava pequenos risos entre as palavras, como se fizesse leve com o que dizia. - Me deixe te confortar. - Ele abriu os braços de novo e aquele rubor em seu rosto voltou. Eu já nem sabia se deveria falar ou não, então eu apenas caí em seu abraço, colocando minha cabeça sobre seu peito.

Era bom eu estar ali, talvez... Eu estava me sentindo bem, acho que é isso que importa no final de contas.

Espera, ele me chamou de "sol"? Ele... Ele chamou o Boruto assim e... Ah, o que está acontecendo?! Eu consigo ouvir o coração do Mitsuki e ele bate forte, como um tambor exposto ao eco. Senti, em meu peito, que meu coração estava tão acelerado quanto o dele, e estavam batendo praticamente em pura e perfeita sintonia.