Capítulo 39 - Yukinohi

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Apesar de tudo, o boneco continuou em silêncio. Eu achei que ele poderia me explicar tudo aquilo, mas não. Só olhei ao redor, para aquelas memórias que não eram minhas e, em uma delas, eu vi aquela garota de olhos dourados. Ela não conseguia ver nada também, apenas o reflexo de si mesma no que parecia uma poça luminosa. De repente, alguém apareceu ali, um homem grande com grandes asas e pura luz.

Por um momento, tudo ficou silencioso, eles apenas se encararam. Então, começaram a falar, a moça tão parecida comigo disse estar assustada, disse que uma hora estava ajudando os seus amigos, salvando o mundo, e, quando tudo explodiu, a negritude acompanhou. Tudo que ela pôde enxergar era apenas a escuridão, e não era uma escuridão quente com a minha, era fria, mas tão solitária quanto na qual eu estava agora. O anjo, ou o que quer que aquele homem fosse, disse para ela não ter medo, disse que não era hora dela partir, não agora que havia encontrado o amor e um pai, o pai de sangue. Ele a guiou para outro lugar.

De repente tudo que eu podia ver pelos olhos da garota eram estrelas, uma imensidão delas. Era mágico e belíssimo. Para todos os lados que olhávamos só podia ver mais e mais estrelas e uma leve fumaça de nebulosas, todas as cores conhecidas e desconhecidas estavam ali, era a coisa mais encantadora que eu já vi. O anjo guiou ela até um ser que parecia estar deitado, deitado no vácuo (o que era bem estranho e um pouco engraçado), quando nos aproximamos dele, ele abriu os olhos. Era uma luz pura, mas que não cegava, era confortável ver, era uma luz que aqueceu todo aquele lugar.

Ser: finalmente... Nos conhecemos...
Moça/Yuki: quem é você?
Ser: eu sou o presente... O passado e o futuro... Os humanos, como você, me chamam de Universo.
Moça/Yuki: eu não sou um humano *sorrio vacilante*

Universo: de fato... Você não é humana. Mas também não é anjo... Demônio... Ou deus. O que você é?
Moça/Yuki: se nem você sabe, como que eu iria saber?
Anjo: Kaayra, seja mais respeitosa com ele! *nervoso*

Um riso reverberou por todo o meu ser e, pelo visto, havia feito até mesmo a tal Kaayra tremer.

Universo: está tudo bem, Rafael... Pode ir, eu e essas crianças... temos muito o que conversar
Rafael: sim senhor...

A presença do anjo sumiu, mas parecia que só havia se afastado de nós. O tal Universo me deixou curiosa por tratar Kaayra como mais de uma pessoa, me deixando um pouco inquieta também. Por um momento, eu havia me esquecido completamente de Gowther e o escutei arfar baixo de surpresa.

Kaayra/Yuki: crianças? Mas... Só tem eu aqui.
Universo: visualmente, só você... Mas será que é só mesmo? Sempre há coisas escondidas... Nos menores detalhes e fora do alcance da nossa vista.
Kaayra/Yuki: isso não responde minha pergunta... E nem me diz se sou mais de uma coisa ou não. Nem mesmo o que exatamente eu sou.

Universo: você talvez não se lembre disso... Mas a outra você vai lembrar. Você é tudo que é e mais coisas... É sim, uma guerreira, uma semideusa, um anjo, um deus e até mesmo um demônio... Você em si, é a minha verdadeira sucessora, mas até lá... É minha guardiã... No lugar daquele que foi mal escolhido.

Kaayra/Yuki: isso é... Confuso.
Universo: eu sei... Mas logo tudo fará sentido para você, eu garanto. Agora... É hora de você voltar... Voltar para sua família e parece salvar aqueles que estão em perigo.

Antes que pudéssemos perguntar algo a mais, o anjo de antes reapareceu e guiou a tal Kaayra para fora dali. Voltei minha atenção para Gowther, ignorando completamente as outras memórias.

Yukinohi: isso fez sentido para você?
Gowther: sim e não... Mas não acho que agora seja um bom momento para pensarmos nisso.
Yukinohi: é... Acho que temos muito o que pensar já.
Gowther: com certeza temos, Yuki...
Yukinohi: é curioso... Não consigo achar um lugar que seja casa para que ocupe esse espaço negro.

Gowther: você ficou milênios selada... Mas não tem nenhum lugar mesmo que você se sentia tranquila?
Yukinohi: bom... Os bares era onde eu me preocupava menos, na verdade. O Chapéu de Javali é um bom lugar, mas é feio e pequeno...
Gowther: que tal isso, então?

Ele tocou minha cabeça com suavidade e me mostrou uma visão dele mesmo, uma memória vinda de suas experiências. Era um bar, grande e espaçoso... E bonito. Madeira polida enfeitava o lugar, uma bancada enorme ficava na área da cozinha e o cheiro era maravilhoso, convidativo. Era o lugar mais perfeito e mais aconchegante que eu já havia visto. Ele tirou as mãos da minha cabeça e me olhou.

Gowther: o que acha desse lugar?
Yukinohi: é perfeito *sorrio* eu realmente me sentiria em casa e segura num lugar assim. Principalmente... *Abaixo a cabeça, um pouco abatida* principalmente... Se pudesse compartilhar com Namekoo...

Ele me abraçou com suavidade, ficando em silêncio e me fazendo carinho. Ao nosso redor, senti aquelas memórias sumirem de nossa vista e darem espaço aquele lugar das memórias do Gowther.

Gowther: a gente vai dar um jeito, Yuki... Vamos achar um meio de salvar e...
Yukinohi: *interrompo ele* não tem como, Gowther. Se nem mesmo Merlin pode usar o cancelamento absoluto, não há quem possa ajudar.
Gowther: talvez... Talvez o Arthur possa ajudar com os poderes do Caos...

Yukinohi: não. *Saio do abraço, séria* eu não confio naquele garoto. Não para isso.
Gowther: por quê? Ele é de fato um garoto bom...
Yukinohi: eu não duvido de que ele foi um garoto muito bom um dia... Mas o Caos vai corromper ele. Escute minhas palavras, ele vai se tornar uma ameaça e um ser nada confiável... Vai tentar matar vários seres e deixar apenas os humanos sobrando, se bobear, mesmo ele mesmo não sendo mais um ser humano.

Ele levantou as mãos, em rendição de uma vez. Eu sei que talvez o Arthur conseguiria desfazer aquele encantamento, mas não podia confiar em alguém que carrega os poderes daquele ser primordial. Eu sabia muito sobre ele, mas apenas coisas ruins.

O Demônio Primordial só me contou coisas ruins sobre ele, como era um monstro, um ser que prezava mais pela destruição do que pela criação, mesmo tendo feito todos os outros clãs. E eu havia visto, enquanto selada, a situação que aquele Caos meteu o meu irmão com aquele gato esquisito.

Gowther: independente... Está na hora de acordar, logo deve amanhecer e precisamos de você...
Yukinohi: talvez fiquem melhor sem mim...? *sorrio de leve*

Gowther: você sabe bem que ficaríamos muito piores sem você
Yukinohi: é, você está certo. Eu sou incrível e a salvação de vocês.

Nanatsu no Taizai: Nova Guerraحيث تعيش القصص. اكتشف الآن