Prólogo

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13 de abril de 2016.

Não havia muito na estrada que pudesse enxergar, talvez um ou dois metros à frente, porém nada mais que isso e Sarah sabia disso, por isso o velocímetro não passava dos sessenta, ainda que as placas da pista diziam que poderia estar a oitenta quilômetros. O rádio estava ligado em uma estação qualquer, na tentativa de afastar o sono cada vez mais presente e forte. Tanto que seus olhos ardiam e as piscadas se tornavam mais lentas, quase letárgicas demais. Tinha de aguentar mais cinco quilômetros e estaria em casa, quente e acolhida.

Fora uma questão de tempo mínima, suas pálpebras se fecharam por míseros segundos e quando abriram uma luz forte a despertou e cegou-a momentâneamente, seu cérebro reagiu no modo automático fez a melhor escolha, a que lhe dava uma mínima chance de continuar com vida. Seu carro poderia ter se chocado contra a parede de metal que era era o caminhão de uma transportadora, mas ao invés disso saiu da pista, sua mente estava turva demais para entender que o carro capotou quatro vezes antes de se chocar contra um pinheiro. O cheiro de gasolina, sangue e relva lhe deixava atordoada, a chuva continuava caindo, aumentando a cada segundo, os pingos grossos eram gelados e de forma precária lavavam o sangue que emplastrava seus fios, deixando-os com a sensação de estarem grudados no couro cabeludo. O único som que quebrava o silêncio era sua respiração rasa e o coração martelando em seus ouvidos. Morreria ali? aquele seria o seu fim? Não podia morrer ali, sozinha e com frio.

Sarah tentou forçar os ouvidos, tanto ouvir sirenes ou qualquer barulho que pudesse indicar que chegariam para tirá-la de lá, mas havia apenas o silêncio ensurdecedor de estar sozinha, o frio parecia fazer doer seus ossos e a cada mínimo movimento sentia o corpo inteiro reclamar. Seus olhos ardiam, de sono e de lágrimas desesperadas que tentavam lhe afogar em desespero, mas que ela tentava a todo custo conter a barreira.

"Você sempre foi chorona, Sarah." a voz de Lauren viera à mente num sussurrar tranquilo e debochado, como ela costumava fazer enquanto se apoiava na pia e lia a coluna de economia no jornal de papel, um hábito de velha que Sarah não perdia uma oportunidade em recordar-lhe num tom implicante ou às vezes simplesmente lhe oferecia o tablet como forma de provocação, que era recebida com um revirar de olhos e um sutil erguer do dedo médio. Haviam planejado uma longa viagem pela costa leste no próximo verão, Sarah tiraria suas férias acumuladas e Lauren continuaria a trabalhar de forma remota. Aos poucos a consciência fora se esvaindo, as lembranças pareciam filmes confusos e borrados, não conseguia se recordar com clareza nem mesmo do tom da cor dos olhos de Lauren, o cansaço lhe impedia que se forçasse a recordar, seu corpo parecia ter, e tinha, coisas mais importantes para dar atenção.

Por fim, completamente exausta, se permitiu cair nos braços da escuridão, sem oferecer resistência, abraçando-a como uma velha amiga.

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