Capitulo 2

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Eu não voltei ao hospital durante o resto da semana. No domingo fiquei em casa, vendo filme e comendo pipoca, com os pensamentos atormentados demais pra ficar sozinha com eles. 

Nos dias seguintes fui até o escritório da tal Rachel, que me parecia ser legal apesar de um pouco... perua, digamos. Ajeitei alguns detalhes do meu quarto, já que a única preocupação de papai em relação á mim parecia ser isso. 

Também aproveitei pra ajeitar o resto das minhas coisas e me situar melhor em minha própria casa. Apesar de já conhecer tudo, não era a mesma coisa. Afinal, quando criança, eu nunca ficava mais do que uma semana ali. E muitas coisas haviam mudado, também. 

Fora o fato de papai passar indetermináveis horas no hospital e ir para casa só pra dormir, outra coisa que me incomodava eram os olhos azuis e o sorriso torto do Dr. Horan. Frequentemente eu me pegava relembrando aquele dia no hospital, e num desses pensamentos, ouvi meu celular tocar. 

Levantei do sofá cambaleante, ainda de pijamas, mesmo sendo quatro da tarde. Subi as escadas até o andar de cima e entrei no meu quarto – que estava todo desmontado já que os móveis novos chegariam essa semana – pegando meu celular que estava em cima do colchão. 

- Alô? 

- Charlotte, preciso que você se arrume para hoje a noite. Temos um evento beneficiente aqui no hospital e eu gostaria que você viesse. 

Deixei um grunhido reprovador escapar pela minha garganta e contestei. 

- Pai... Eu não tenho roupa – essa sempre era uma boa desculpa. 

- Não tem problema, compre uma – ele respondeu, seco, e eu subitamente senti a raiva borbulhando na ponta de meus dedos. Eu odiava que falassem assim comigo. 

- Mas pai... 

- Passo pra tomar um banho às oito e nós vamos – ele disse e desligou. 

- Cacete! – xinguei, atirando o celular em cima do colchão. 

Fui ao closet e peguei uma saia jeans, uma camiseta branca, um cardigan marinho e meus all stars da mesma cor. Me vestirapidamente, ajeitei meu cabelo com os dedos mesmo e peguei minha bolsa, saindo com meu Chevy logo depois. 

Parei na primeira boutique que eu vi, só pra me vingar. Já que eu estava sendo obrigada a ir, que fosse pra causar. Irritar meu pai também seria divertido. 

Passei o resto da tarde me arrumando. Tomei um banho, prendi meu cabelo pra trás deixando meus ombros a mostra, me maquiei e fiz questão de passar meu perfume favorito: Nina, da Nina Ricci. 

Pus o Valentino verde tomara-que-caia, com uma fenda no comprimento e o sapato Jimmy Choo que eu havia comprado hoje mais cedo. 

Enquanto calçava-os ouvi a voz do meu pai na escada. 

- Estou em casa. Não demore! – e ele já estava indo em direção ao seu quarto no andar de cima. 

Sorri vitoriosa e terminei de colocar os sapatos. Pus um brinco discreto e chequei meu visual no espelho do closet. Eu vi aquele sorriso que eu tinha guardado dentro de mim brincar nos meus lábios e, na minha imagem do espelho, me senti diferente. 

Aquela não era a Charlotte do dia-a-dia. 

E o porquê disso, eu gostaria de ignorar. No fundo, eu só queria mostra pro Dr. Horan quem era a criança ali. 



- Que bom que você aceitou vir comigo – papai disse enquanto estávamos a caminho da 'festa' em sua BMW 6 Coupé preta, que eu amei desde o momento que vi. 

Hyperthermia / N.HOnde histórias criam vida. Descubra agora