O Momento Certo

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Os dias com Taehyung passavam como mágica. Ele me proporcionava um efeito nostálgico, que nem eu sabia explicar direito. Parecia como num filme infantil, onde ele era a atração principal de um show de magia e levava uma mulher para o palco. Mas enquanto ela dividia o espaço com ele, o mesmo fazia com que, por um momento, ela fosse o centro das atenções.

Essa era a explicação mais próxima que conseguia definir o modo que me sentia perto dele. Ele era como um mago que tinha atenção de todos, não por ser famoso, mas pelo carisma, generosidade e socialização. Quando estava com ele, me sentia alguém diferente. Talvez uma Bianca melhor e mais próxima daquilo que realmente queria me tornar. Uma mulher mais sociável, paciente e tolerante.

Ele parecia me ensinar todos os dias e minha gratidão se tornava cada vez maior. O que, consequentemente, aumentou a angústia no meu peito por conta da mentira que inventei. Mas convenhamos que era difícil revelar a realidade quando tudo aquilo parecia perfeito demais.

Como ele iria reagir? Ficaria zangado que menti ou desanimado ao saber que vou embora em duas semanas? Talvez queira até se afastar, para que a gente não se envolva muito. Como se eu já não estivesse entregue a essa relação.

Ele me fazia tão bem que, sinceramente, não estava mais animada para embarcar para o meu último destino e depois disso voltaria para casa.

Mas o que seria casa agora? Ao longo dos dias e das vivências que estive acumulando, o significado dessa palavra mudou muito para mim. Antes casa era o lugar de onde vim, minhas raízes. Mas depois que embarquei em uma viagem só de ida para o mundo, percebi que casa pode ser qualquer lugar que me faça sentir pertencente.

Ao longo do meu ano sabático, já acumulei três casas espalhadas pelo planeta: a minha própria na Bahia, a Itália, porque fiquei apaixonada desde a primeira vez que comi a verdadeira pizza italiana, e agora Taehyung. Será que poderia considerar uma pessoa casa também? Não sei, mas sei que ele tornou-se minha zona de conforto e, para além disso, uma pessoa que conseguia confiar cegamente.

Agora estava em meu chalé, esperando-o tomar banho para montarmos o nosso piquenique na praia no final da tarde. Tínhamos acabado de voltar de um passeio de bike, mas me arrumei mais rápido que ele. Taehyung era tão lento para fazer as coisas. Chegava ser engraçado, mas era uma de suas características. Ninguém é perfeito.

Quando estava montando a cesta para o encontro, Taehyung tocou na minha porta e parecia um lorde de tão arrumado que seu cabelo estava. Não porque tivesse se dado o trabalho de arrumar, mas porque seu próprio cabelo parecia estar arrumado por vida.

– Adoro seu cabelo, sabia? – toquei na raiz dele. – Entra, ainda estou separando a cesta do piquenique.

Ele passou a porta, adentrando-se no meu pequeno e confortável chalé. Ele deu uma olhada geral e logo jogou-se na cama do quarto.

– EI! Você sabe que não gosto que se deite com roupa suja na minha cama. – Dei dois tapas na perna dele, repleta de picadas de mosquitos.

– Aí! Eu sei! Mas você sabe que amo me deitar. – ele disse, esticando o corpo no colchão forrado de lençóis brancos. – Vem cá, Bi!

Ele me puxou, fazendo com que desmanchasse meu carão em questão de segundos. Ele me apertou tanto em seus braços que era difícil não ceder o carinho. Ficamos se encarando em silêncio, existia tanta coisa que gostaria de falar. Mas só de olhá-lo bastava.

Repouso minha cabeça sobre seu peito e ele acaricia meus longos cabelos. O carinho estava tão bom que peguei no sono e só vim acordar três horas depois, quando o pôr do sol já tinha esvaído.

– Tae, não acredito. Perdemos o pôr do sol. – sacudi ele pelo ombro, mas o mesmo parecia imóvel e, pelo que conhecia, só deveria acordar no outro dia agora. Bufei pelo nariz conformada e puxei as cobertas para cobri-lo, antes de deixar meu próprio quarto.

Caminho pelo resort sem pretensão de ir a um lugar algum específico e no meio da caminhada, acabo parando na areia da praia. O lugar estava deserto e escuro, o que permitia ver perfeitamente as estrelas e escutar o som do mar. Tudo parecia tão relaxante, tranquilo. Então mais uma vez, tive a sensação de estar no paraíso.

"Talvez não seja tão ruim morrer", pensei rindo. "Não que eu queira morrer agora, universo. O que quis dizer é que o paraíso deve ser lindo.", corrijo em seguida com medo do cosmos entender diferente o meu pensamento.

Distraída com a calmaria do lugar, me permiti vagar. Me sentia segura ali, de forma e maneira que nunca senti no Brasil. Andei pela longa extensão de areia, agradecendo, mais uma vez, por estar ali. Acho que o universo já estava de "saco cheio" da minha gratidão, já deveria ser a quinta vez que fazia isso. Mas era um sentimento tão bom e de paz que não poderia deixar de agradecer sempre. Parecia que a palavra "obrigada" não era o suficiente.

Jamais havia imaginado que realizar meu sonho de adolescência fosse cinquenta vezes mais mágico do que estava sendo. E só agora, 10 anos depois, que compreendi porque a espera valeu tanto à pena.

Talvez quando mais nova, não tivesse a maturidade para aceitar aquele bom sinal do universo. Talvez nunca tivesse coragem para fazer tantas coisas que me desafiei a fazer até aquele momento. Talvez ele nunca se interessasse por mim, já que eu era uma adolescente enquanto ele um jovem adulto. Eram tantos fatores que na época não faziam sentido, mas agora estavam claros para mim.

Enquanto estava envolta nos meus pensamentos, de repente, sinto uma pessoa me abraçar por trás e, pelo cheiro suave de perfume cítrico, sei exatamente de quem se tratava. Inclino minha cabeça e estico meus braços para alcançar o pescoço de Kim Taehyung.

– Pensei que só fosse acordar amanhã.

– E perder uma noite linda dessa ao seu lado? Claro que não!

– Estava pensando em você agora mesmo, sabia?

– O que?

– Anos atrás pedi ao universo apenas uma única coisa: ir ao show do BTS. Era tudo o que eu mais queria. Isso e um intercâmbio para a Coreia.

– Mas seu desejo não se realizou, né?

– Não. Mas não tem problema, porque exatamente hoje entendi tudo. E caramba, o universo foi mais do que generoso comigo.

– Por quê?

– Porque pedi apenas para ir a um show e ele me deu muito mais. – digo, virando-me para olhá-lo. – O universo me deu você e isso vai além do que poderia imaginar.

– Então você está dizendo que gosta de mim por eu ser o V, do BTS? – ele perguntou, franzindo as sobrancelhas assustado.

– Claro que não! O universo foi tão bom comigo que ele me deu a oportunidade de conhecer Kim Taehyung, o verdadeiro menino por trás daquele gostosão que fica nos palcos do BTS.

Virei meu corpo e dei um abraço forte nele, seguido de vários beijos em seu pescoço cheiroso e provocativo. Mas ele pareceu sentir cócegas com meu ataque amoroso, caindo na areia e me levando junto.

– Posso te falar uma bobagem? – perguntei, olhando o nos olhos. – É uma grande bobagem mesmo, coisa de fã maluca.

– Pode! – Ele assentiu e sai de cima dele, sentando-se ao seu lado. Como eu estava com vergonha de admitir aquilo. Mas precisava, porque era verdade e queria me livrar desse fardo que carreguei escondido até aquele momento. Então cobri meu rosto com as mãos, pronta para revelar meu segredo mais infantil.

– Eu morri de ciúmes quando soube que você namorou a Tzu do Twice, sabia?

– Quê? – ele perguntou, rindo muito alto. – Como você descobriu isso?

– Eu gostava muito do BTS antes de me decepcionar com o grupo, tá?

– Tira a mão do rosto. – ele pediu, puxando meus braços para baixo.

– Não, tô com vergonha. – Respondi dengosa, mas Taehyung insistiu mesmo assim.

– Vamos, quero te contar uma coisa...

30 dias com vocêWhere stories live. Discover now