Fim de Um Ciclo

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Fecho o zíper da minha mochila e observo meu chalé. Taehyung disse que não gostava de despedidas, motivo pelo qual na noite anterior ficamos juntos até tarde e voltei para meu chalé sozinha. Decidimos que não queríamos dormir juntos e, sinceramente, acho que foi melhor assim.

Era provável deu chorar nos braços dele e estragar todo o clima maduro que criamos nos últimos dias, mesmo após a nossa primeira e única briga. Respirei fundo e coloquei a mochila nas costas, dando uma conferida em todos os móveis de madeira do local. Felizmente, tudo estava em seu devido lugar e não havia nenhum pertence meu escondido. Nem acredito que já estou indo embora. Sinto meus olhos lacrimejarem e me encosto na porta do lugar.

Vejo minha cama perfeitamente forrada, completamente diferente de quando tinha sido o palco de muitas noites compartilhadas com Kim Taehyung. Meu banheiro estava limpo e organizado, sem nenhuma calcinha secando na pia. Meu armário vazio, sem nenhuma roupa esperando ser vestida.

Abro a porta e vejo à minha frente o número "304". O chalé de Kim Taehyung. O misterioso chalé de Kim Taehyung. Não entrei lá nem sequer uma única vez. Por que será que nunca pedi isso? Agora não importava mais. Porque não poderia compartilhar mais aquele ambiente com ele.

Fecho minha porta e me ajoelho em frente a ela. "Obrigado 305. Você será para sempre lembrado por mim." Sigo meu caminho em paz, até chegar a recepção. Coincidentemente ou não, lá estava a primeira pessoa que me recebeu neste paraíso: Kay.

– Então... foi difícil ficar sem o celular? – Kay perguntou quando entreguei as chaves do meu chalé.

– Mais fácil do que nunca poderia ter imaginado.

– É impossível querer ficar com o rosto no celular, estando em um lugar desse. É não saber aproveitar o momento.

– Concordo plenamente.

Ele me entrega meu aparelho e estranho em recebê-lo em minhas mãos. Aquele ponto ele não parecia ter mais utilidade nenhuma para mim e fico me perguntando como deveria ser a vida das pessoas antes da criação deste pequeno aparelho com inúmeras utilidades.

– Deveria ter sido bom viver nos tempos em que não tinha celular.

– Nem tanto. –disse Kay. – Imagina precisar de uma emergência e não ter como falar com ninguém de forma rápida? Tudo tem suas vantagens e desvantagens.

– Você tem razão. – aceno para ele e ando em direção a portaria do resort. – Kay, foi uma honra dividir esse espaço com você. Espero que a gente ainda se encontre em algum outro momento nesta vida. 

– Boa vida, Bianca! – ele acenou sorridente e voltou sua atenção para as toalhas que estava dobrando, antes deu chegar.

Quando chego na portaria do resort, paro no mesmo lugar que tirei uma foto há 30 dias e sorrio grata. Não estava triste por partir e sim feliz por ter vivido tudo aquilo. É incrível como essa placa agora tem um significado completamente diferente para mim de quando eu cheguei aqui. Agora ela sempre vai me lembrar de coisas extraordinárias.

Era verdade que não queria ir embora, mas não tinha mais o que fazer. Tinha uma viagem planejada, meu dinheiro estava acabando e eu precisava arranjar um trabalho. Motivo pelo qual meu último destino seria a Austrália: emprego fácil, bem remunerado e com boa qualidade de vida. Era tudo o que eu mais precisava.

Enquanto ainda estava parada em frente a fachada com o letreiro "Casa de Buda", meu olhar vagou pela trilha dos chalés. Será que Taehyung já tinha acordado? E se desse uma "louca" nele e viesse se despedir? Confesso que amaria e abraçaria ele com tanta força que o garoto iria reclamar.

Mas não era do seu feitio bancar de romântico da noite para o dia, especialmente depois de parecer bem decidido quando me pediu para não fazermos uma despedida. Então dou de ombros e me viro, antes que minha gratidão se transforme em tristeza com a mesma velocidade da luz.

***

O dia estava lindo em Sidney quando desembarquei no Aeroporto Internacional de Kingsford Smith. Diferente do caos que era Bangkok, a cidade australiana era completamente planejada. Não tinha prédios muito altos, como as grandes metrópoles asiáticas, e ao mesmo tempo que tinha um lado comercial, existiam zonas residenciais lindíssimas

Sidney era uma área portuária com uma vista deslumbrante. Tudo ali era tão perfeito que parecia a Barbielândia. As pessoas eram brancas, com pele bronzeada, a maioria loira com olhos claros e viviam felizes e sorridentes o tempo inteiro. Era realmente como um filme.

Na Europa, especialmente no Norte, as pessoas tinham uma qualidade de vida muito boa. Acredito que seja semelhante ao australiano. Mas era engraçado como as pessoas, apesar de terem quase as mesmas características físicas e o mesmo padrão de vida, eram completamente diferentes.

Talvez fosse o clima do lugar? Convenhamos que uma cidade com um céu azul tem uma atmosfera muito mais feliz. Por mais que ame temperaturas baixas e céus cinzentos, tenho que admitir isso.

De qualquer forma, não ficaria muito tempo em Sydney, porque em quatro horas estaria na rodoviária central para seguir meu caminho para a cidade dos meus sonhos: Byron Bay. Desde que comecei a pesquisar sobre a minha viagem de autodescoberta, eu sabia que meu destino final seria ali.

Uma cidade tranquila, com praia, sem o caos da vida urbana e as cobranças que a sociedade moderna insiste em impôr para todos os jovens: "trabalhe, se atualize, faça isso, faça aquilo". Em outras palavras: seja um robô. E Isso era tudo o que menos queria ser.

No meu caminho de autodescoberta, queria passar um tempo aqui, trabalhar em um emprego simples, que pague bem e dê para curtir um pouco a praia. Que eu possa fazer novas amizades, quem sabe até ir em algumas festas. Muitas coisas novas me aguardavam. Mas mesmo falando tudo isso e sentindo genuinamente a vontade de viver tudo isso, por que eu não estava animada?

30 dias com vocêOnde as histórias ganham vida. Descobre agora