Capítulo Bônus

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ZOE

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ZOE

Dois dias depois

Estou evitando a estrada, não sei o que posso encontrar, a noite é complicada, o barulho dos bichos me assusta e nem sei direito para onde estou indo, só sei que preciso chegar o mais longe possível. A roupa suada e a falta de banho me deixam enjoada. Preciso encontrar um riacho urgente para me banhar.

Suspiro e vejo uma pequena gruta, esse lugar tinha bastante delas, mas meu medo de que haja alguma cobra era maior para pensar em entrar e dormir um pouco. O barulho de água chama à minha atenção, uma felicidade genuína me domina. Banho, só nisso que penso, será que consigo alguns peixes? O meu pão está quase no fim.

Com essa ideia de conseguir banho e comida, me aproximo do pequeno riacho, a noite já estava quase chegando, precisava urgente arrumar um local para descansar, mas antes iria desfrutar de um bom banho. Olho para todos os lados buscando olhares, mas parece que não havia ninguém por ali, era muito esmo essa parte da floresta. Guardo minha trouxa, tiro o vestido pela cabeça e desenrolo a faixa que prende meus peitos – desde que começaram a crescer, passei a usá-las –, dona Mina, da fazenda do "coronel", quem me ensinou, ela disse que era mais fácil passar despercebida no meio de tantos homens ruins. Desde então, sempre usava e acabei me adaptando; no começo, foi difícil, minhas costelas doíam, mas hoje já vivo bem com isso. Sonho em um dia não necessitar mais usá-las, e um dia poder dizer que sou livre, sem olhares de cobiça.

Poder vestir o que desejar e comer pão lambuzado no mel, bolos doces e biscoito quentinhos, um trabalho, comprar sapatos coloridos e roupas bonitas com bastante cor. Com esse pensamento, entro na água, ela está gelada, mas isso não é um incômodo, estou grata por encontrá-la. Jogo um pouco para cima e, como há muito anos não faço, brinco com a água sem me preocupar com mais nada.

Os pássaros voaram das árvores, isso deveria ser um presságio para fugir, mas estava tão entretida na minha liberdade falsa que só percebi quando eles se aproximaram de mim.

— Olha só o que achamos!

Antes que pudesse emitir qualquer som, minha boca foi tapada por mãos calosas e fedidas e meu corpo arrastado da água e jogado na terra, eram cinco brutamontes.

— Olha que preciosidade, totalmente pura! — diz, sorrindo com seus dentes apodrecidos aparecendo.

— Não me toque! — brado, e eles se entreolham e soltam gargalhadas — Me dê minha roupa!

— Você não precisa de roupas para o que vamos fazer.

Todos eles gargalham, se abaixando para me apalpar, um segura minha perna, outro toca meu seio, e eu choro em desespero, estou com tanto medo que meus dentes batem forte um no outro. Lágrimas obscurecem meus olhos, lembro que matei um homem para ser livre, passei dias e noites sonhando com minha liberdade, enterrei minha mãe com minhas próprias mãos e agora vou morrer pela mão de homens sujos, invadida por mãos imundas. A vida era injusta demais comigo, sentia rancor.

PERSEU: FILHO DO FOGOOnde histórias criam vida. Descubra agora