VIVIAN

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Essa semana virá uma aluna nova à Nunca Mais, é estranho, a diretora Weens não costuma aceitar alunos no meio do semestre.

Durante uma reunião com os professores perguntei a ela quem seria a nova aluna.

_ Larissa, quem é essa nova aluna?

_ Wandinha Addans. Mas por que você quer saber? – Responde a diretora.

Esse nome, eu sabia que seria questão de tempo até ela ser enviada pra cá. Por isso me tornei professora e vim pra esse inferno de lugar. Ela só vai vir um pouco mais cedo do que eu imaginava.

_ Nada de mais. Só fiquei curiosa, você não costuma aceitar alunos no meio do semestre.

_ Esse é um caso especial. Os pais dela são antigos alunos de Nunca Mais e são uma grande influência. E a garota tem excelentes notas, apenas o seu comportamento não condizia com as escolas em que ela frequentava, aqui ela será bem acolhida.

Termino a conversa por ali mesmo. A semana pareceu demorar demais para passar, mas finalmente chegou o dia da garota chegar, e todo essa espera se devia ao fato de que iria ver Mortícia novamente.

Fico ali parada na frente do portão esperando, até que vejo um carro surgir na estrada que vinha dos portões de entrada, presumo que seja ela e me viro de costas para que não pudesse ver meu rosto. Quando estão prestes a parar o carro entro e já não estou com minha forma, me transformo em aluno e os vejo entrar.

E lá estava ela, linda como sempre naquele vestido preto de cetim, ao seu lado estava Gomes, baixo e astuto, como sempre com a mesma cara de idiota, e no meio deles estava Wandinha, me assusta a semelhança de suas feições com as minhas e seus cabelos negros tão marcantes como os da mãe, acredito que tenha sido a melhor junção já criada. Ao lado dela vejo um garoto, mais jovem que de tudo era a cara de Gomes.

Ao vê-lo eu entendi, ela realmente era feliz com ele, mas ao olhar mais enquanto os seguia de forma cautelosa, percebo que Tish estava distraída, olhando para os lados com uma cara de serenidade, mas seus olhos diziam outra coisa, eu conseguia ver que ela estava tentando esconder, estava a procurar algo ou alguém desesperadamente. Talvez ela tenha me visto na entrada do colégio e ficou curiosa.

Continuo os seguindo até a sala da diretora e de lá vou para a sala onde estariam as coisas a serem entregues a Wandinha para iniciar suas atividades, olho seu horário de aulas e verifico se as minhas também estão incluídas e elas estão. Certifico que tudo está ocorrendo como o planejado. Volto para perto da sala da diretora para verificar se ainda estão lá, quando estou chegando os vejo sair e os acompanho, estavam indo em direção aos dormitórios onde a garota ia ficar, ela ficaria no prédio Ophélia, no mesmo que eu e sua mãe um dia ficamos.

Mortícia, Gomes e o outro garoto saíram e foram em direção a cidade local enquanto Enid mostrava a escola para Wandinha. Chegando na cidade volto a minha forma original e continuo os seguindo de longe, Gomes e o garoto ficam na cafeteria e vejo Tish conversando com Gomes e logo após saindo do mesmo e indo em direção ao cemitério.

Vou atras não tão de longe como antes, a vejo pegar uma rosa amarela na banca de flores, ela ainda se lembrava da minha flor favorita, e seguir em direção ao cemitério, quando ela entra vai em direção ao túmulo em que eu deveria estar enterrada, ela para, olha por um bom tempo e pões uma das mãos na lápide que estava escrito meu nome "Vivian Bron", nunca tive a oportunidade de dizer a ela que esse não era meu verdadeiro sobrenome. Ela se senta no túmulo e começa a sussurrar algo, a distância em que estava não conseguia ouvir então me transformei em um gato preto e me aproximei, ela estava tão concentrada que nem percebeu minha presença, ou sequer se importou com ela, fico ali parada ouvindo tudo o que ela tinha para me dizer.

Essa era a primeira vez, desde que eu supostamente morri que ela veio visitar, ouvi atenciosamente o que ela estava dizendo e quando terminou tudo o que estava entalado nela a tanto tempo ela simplesmente ficou olhando para aquela lápide, imóvel, com as lágrimas rolando. Ela ficou assim por bastante tempo até que olha ao relógio e percebe que estava tarde, ela se levanta limpa o rosto pega a linda rosa amarela e retira as pétalas como sempre fazia e jogou para o túmulo o caule da flor e vai embora.

Quando ela vai embora cada palavra que saiu de sua boca havia fincado em meu coração como um punhal envenenado. Em minha cabeça estavam passando tantas emoções que eu estava começando a me sentir louca, estava com raiva de mim por acreditar que ela havia me esquecido e que estava bem, quando na verdade estava vivendo aquele inferno, estava triste por ela pensar que era culpada pelo que aconteceu aquela noite sendo que Gomes foi o culpado, ele a viu pegar a espada e me empurrou em direção a ela e ainda usou isso como chantagem para obriga-la a ficar com ele. Mas o que realmente predominava em mim era o ódio e a vontade de fazer com que Gomes pagasse muito caro pelo que fez e ainda faz com Mortícia.

Eu com certeza irei fazê-lo sofrer muito, mas não antes de descobrir o que ele fez com a Wandinha.

Volto para Nunca Mais para vê-la uma vez mais antes de ela ir embora, ela está se despedindo da filha junto a Gomes e o filho mais novo, estou como aluno outra vez e passo por eles, esbarro em Gomes de proposito para poder marca-lo e apenas lhe ofereço uma desculpa e saio sem esperar resposta, agora tenho como me manter ao tanto do que ele fará e se necessário impedi-lo. Os observo de longe e vejo Wandinha se despedindo de Gomes e de seu irmão que entram no carro e as deixam a sós, vejo Tish entregar a garota um colar, mas estou longe e não consigo ver em detalhes, depois de uma breve conversa ela entra no carro e vai embora.

No dia seguinte encontro Wandinha no corredor antes de começar a aula. Ela olha pra mim e diz:

_ Bom dia. Professora Nera correto?

_ Bom dia! – Precisei trocar meu nome, afinal de contas Vivian Bron estava morta, agora meu nome era Elise Nera – Isso mesmo, e você é a Wandinha correto?

_ Isso. Posso te fazer uma pergunta? – Diz ela tentando não mostrar real interesse.

_ Claro

_ Por acaso você conhece minha mãe, Mortícia Frump Addans?

A pergunta me pega de surpresa, afinal ela não deveria saber quem sou, mas mantenho meu personagem e digo:

_ Acredito que não. Por que a pergunta?

_ Nada de mais. Acho que confundi você, minha mãe tem uma foto de uma garota muito parecida com a senhora. Mas percebi que realmente não teria como, seus olhos e cabelos estão diferentes. Desculpa incomodá-la com isso.

_Não se preocupe, está tudo bem. Você irá participar da minha aula hoje, certo?

_Sim, mas não entendi direito do que se trata.

_ Não se preocupe, acredito que vá se interessar, minha aula é de história, porém eu trato de mostrar a história de todas as famílias e línguas extintas de excluídos de todos os tempos.

_ Realmente me parece fascinante. Parece que vai me entreter com os detalhes sórdidos de cada queda familiar. – Diz com um leve riso de canto e entra na sala.

Conforme os dias passavam eu me aproximava mais a ela, me mantinha atenta ao que fazia após se meter em confusões em Jericho e começar as suas investigações com o que estava acontecendo aos arredores de Nunca Mais. Sempre que ela tinha algum problema com os livros de línguas arcanas vinha até mim para ajudá-la, segundo ela algo estava faltando e a resposta não estava em livros usuais, ofereci passe para minha biblioteca particular onde tinha guardado vários livros e diários de diferentes linguagens excluídas. Com isso nossa relação foi se estreitando, eu gostava de passar parte do meu tempo com ela e parecia que ela estava gostando também.

Durante esses dias também me mantive atenta aos atos de Gomes, o mantinha longe de Mortícia o máximo que podia. Isso me esgotava de uma maneira que eu não gostava, mas pelo menos a mantinha segura, e ao fim dos dias sempre recebia a visita de Wandinha, do fruto do nosso amor, da minha filhinha.



ESPERO QUE GOSTEM E ATÉ A PRÓXIMA ;)

Tudo por elaOnde histórias criam vida. Descubra agora