Capítulo 14.

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Domingo, 24 de Abril.
New York
05:00AM

ADDISON POV

Acordei com o despertador tocando, não costumo colocar e muito menos acordar às 05:00 em um domingo, mas com tantas coisas à serem resolvidas precisei fazer ambos.

Desliguei o despertador, cocei meus olhos e me sentei na cama. Me espreguicei para mandar o resquício de sono que tinha em meu corpo embora, levantei, arrumei a cama e fui para o banheiro.

Minha cabeça não para um segundo sequer. Estou presa no que senti quando nonna falou sobre minha mãe, é uma sensação horrível e até então eu não sabia o que era, mas tenho certeza que foi causada pelo bombardeio de informações, pelo fato de conversar com duas pessoas que sentem o mesmo que eu, de maneiras diferentes, em relação ao Robert esses anos todos.

Estar fora da minha rotina, principalmente do dia para noite como aconteceu à nossa ida para Milão também fora um fator complementar para acontecer, eu conheço meus limites e sei que ao ultrapassá-los coisas ruins me acontecem.

É claro que eu preciso me acostumar com essas mudança repentinas, minha cabeça precisa trabalhar com o "novo" e me desprender de certas manias é algo à ser pensado. A mudança vem de dentro para fora e, se eu não me propor à isso, sentirei essas coisas pelo resto da minha vida. Minha tatuagem deixaria de fazer sentido e eu seria a maior hipócrita do mundo.

E eu não quero isso para sempre, não quero ser refém dos meus pensamentos. Eles me matam aos poucos...

Saio do banheiro após fazer toda minha higiene, entrei no closet e separei uma roupa para correr um pouco, colocar meu corpo em movimento para espairecer, esvaziar a mente ao som de um bom álbum da Adele.

Coloquei um short de malha preto, um top vermelho e calcei meus tênis de corrida. Prendi meu cabelo em um rabo de cavalo firme, peguei meu Ipod ao lado da minha cama e meu fone de ouvido.

Escolhi o álbum Adele 21, de 2011. Saí de casa, alonguei meu corpo no passeio mesmo e corri.

Liberar endorfina.

Eu corri como nunca, sem pensar para onde iria, apenas corri. Meus pensamentos já estavam silenciados o suficiente, o suor escorria por cada parte minha.

Quando minhas pernas falharam pela primeira vez, olhei ao redor de onde eu estava e soltei uma risadinha ao perceber... Eu corri até o cemitério.

Respirei fundo e entrei, fiz o mesmo caminho que sempre faço há 12 anos. Me encostei na mesma árvore, de frente para a mesma lápide. Fiquei a encarando por um tempo, a foto, o escrito e tudo que esse pequeno pedaço de mármore significa.

- Eu visitei meus avós, eles me contaram o porquê não pude mais voltar aos verões... - respirei fundo e me sentei na grama. - Entendo seu lado, mãe. Entendo que estava fora de cogitação ficar sem sua única filha e eu não te culpo por não conseguir me deixar, eu também não te deixei ir ainda e penso que talvez nunca consiga de fato.

Limpei meus olhos que estavam inundados, eu não preciso esconder meus sentimentos aqui. É o meu lugar para desabafar, é onde eu me sinto mais perto dela...

- Mas você foi egoísta, mãe. - disse balançando a cabeça em negação. - Quando pensou só em como se sentiria estando longe de mim, você foi egoísta. E eu cheguei à conclusão de que não posso mais olhar para o passado e ver como era mais difícil para você do que para mim, não irei excluir suas dores mas, no momento em que ele nos bateu pela primeira vez e você escolheu ficar, pensou somente em você, nos bens materiais que perderia e em nenhum momento deve ter pensado em quão ferrada eu ficaria. E agora eu preciso conviver com essas crises horríveis que nem sei o que são ao certo. Preciso conviver com o fato de que meu pai nunca foi capaz de me amar. Preciso conviver com o fato de que o que aconteceu me fez ser essa mulher cheia de inquietações e traumas. Preciso conviver com o fato de que talvez eu nunca ame alguém, porque eu tenho medo de que o amor me machuque como o seu amor te machucou... Estou fodida, essa é a verdade e a culpa disso ao menos é minha.

Dangerous Passion - Meddison.Where stories live. Discover now