Dezesseis. Tulkun

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Os dias tem se passado cada vez mais rápido, quando vi já tinha cerca de uma mês e meio que havia saído da ilha de minha mãe pela primeira vez. As tribos do povo da água estão lotados com um total de 6 exércitos de clãs diferentes, com um único plano seguindo as instruções do Toruk Makto e minhas. Por ser filha de Eywa eles me tinham um enorme respeito, me reverenciavam a toda vez que passava, e me obedeciam caso eu pedisse. Era muita coisa pra mim inicialmente, apenas pedia que me tratassem como igual, mas isto era a única instrução a qual eles não seguiam.

Enquanto alguns me tinham total respeito outros me tratavam com indiferença, afirmando que eu era só uma criança, que não tinha ideia de como liderar não só um, mas quinze exércitos diferentes, e para ser sincera, não estavam errados. Não tinha ideia de como fazer isso, por isso estava com Jake. Ele já fez isso, tem experiência na área, enquanto eu apenas cuido de controlar meus poderes e convencê-los a lutar ao nosso lado.

Neteyam tem ido bastante ao meu Marui nos últimos dias, isto quando temos tempo, estamos bem ocupados nos últimos dias, com reuniões com os líderes dos clãs, com treinos, entre outros. Mas sempre que podemos damos uma fugida pro bosque, num espaço reservado que encontramos. Deitamos lá e ficamos conversando sobre qualquer coisa que não envolva a guerra ou os treinos.

(...)

As crianças estavam brincando à beira mar, e eu conversava com Tsireya na areia. De longe via Neteyam brincar com a irmã mais nova, jogando água na mesma enquanto ela fugia, Kiri e Lo'ak também brincavam um com outro. Era adorável ver ele cuidado dos irmãos desta maneira. Ficamos ali olhando para o mar que brilhava com a luz do sol. O tempo passou e decidimos que já era a hora de voltar. Tuk ficou chateada porque gostaria de ter ficado mais, Neteyam precisou pega-lá no colo pra que assim ela ir conosco. Andado na praia, chutando a areia e olhando pro chão enquanto conversamos, era uma sensação gostosa. Num momento minha cabeça começou a doer, com uma dor aguda, diminuo meus passos até ficar parada, levo uma mão na cabeça e começo a massagear de leve.

A dor aumenta e como em flash imagens começam a aparecer, memórias mas não minhas. Ao longe ainda nas imagens vejo Tulkuns e especificamente um filhote. Levanto meu olhar e vejo os outros se afastando e eu ainda atrás. Novamente a dor aumenta, como numa pontada no centro de minha testa, acompanhado de uma zumbido auto no ouvido, a dor era tão agonizante que deixei escapar um grunhido, fazendo os que estavam à frente notarem o que se passava.

Mais e mais flash's apareciam, eu gritava, minha respiração estava ficando cada vez mais descompassada e então uma dor no peito, pior que um tiro, pior que uma facada, senti a vida se esvaído de mim, foi tão forte que não suportei e caí de joelhos, sem força.

— Rey? Ei Rey olha pra mim! Rey! Rey! — A voz de Neteyam era apenas um eco na minha cabeça.

Agora num transe via apenas algumas imagens passarem rápido pela minha cabeça. Um rastreador, bolsões de ar, um tulkun morto com seu filhote ao lado. Como uma filha de Eywa eu podia sentir os animais caso eles quisessem minha ajuda, e foi isso que aconteceu. Eu sabia exatamente onde ele estava e precisava avisar, podia não ter salvado sua vida mas poderia salvar a vida de outros que com certeza poderiam correr o mesmo perigo que ele.

Abro os olhos e estou desacordada no Marui dos Sully. Olho para os lados e analiso a situação, vejo Tsireya e Kiri ajudando Neytiri, Tuk coletando algumas folhas de um raminho, Neteyam segurando minha mão, e conversando  com Lo'ak. O mais novo parece perceber meu despertar e olha pra mim fazendo o mais velho fazer o mesmo.

— Rey. Oi. Você está bem? — Ele pergunta e eu começo a levantar rapidamente, precisava avisar a Tonawari o que vi, precisava ajudá-los. Todos no Marui se voltam para mim preocupados.

— Ei vai com calma, precisa descansar, você desmaiou. — Diz Kiri preocupada.

— Precisa ficar quieta criança. — Falou Neytiri, estendo um pequeno pote para mim. — Vamos, beba.

— Não. — Solto vendo ela franzi o cenho. — Preciso avisar. Perigo. Tulkun. Tonawari. Tsahik. — Solto as palavras sem contexto certo.

— O que? O que tem os Tulkuns? E meu pai? Eu não entendo. — Disse Tsireya com um certo pânico no olhar. Até aí consigo me por sentada.

— Me leve até seu Marui, rápido! — Digo com uma certa dificuldade agarrando o braço da menina que me olhava assustada, ela apenas concordou e me acompanhou.

Neteyam, Lo'ak e Kiri nos acompanharam até o local, chegando lá vi Ronal sentada ao chão preparando o que provavelmente era o jantar da família.

— Senhora. São os Tulkuns, eles correm perigo! — Vejo o pânico se instalar nos olhos da mulher e logo em seguida se dirigir a filha.

— Chame seu pai e seu irmão, agora Tsireya!

— Sim mãe. — A garota se retirou.

— Mano, eu vou com ela, ok?! — Ele diz e sai rápido.

Saímos o mais rápido possível, peguei Murphy ainda tonta, mas mesmo assim segui, preferi ir pelo céu porque assim pelo menos encontraríamos eles com mais facilidade. Vi a mesma imagem que vi antes e senti uma dor no peito, me doía ver aquilo mas mesmo assim tinha que permanecer forte. Sinalizei para os Metkayina na água que foram até o grande animal morto. Ronal se aproximou nadando até o animal que ao chegar mais perto notou que era sua irmã de espírito, um grito alto foi emitido pela mulher, a dor em sua voz era aparente. 

— O que é isso Tonawari? O que é isso? — A mulher gritava em dor, pela sua perda.

Jake analisava a situação, e percebeu que tudo que eu havia citado nas minhas visões de fato aconteceram ele viu o rastreador e já sabia o que fazer. Tonawari acalentava a esposa que chorava e gritava de dor.

— Minha querida irmã. Isso tem que acabar! — Ela repetia agarrada ao marido.

Me aproximo do animal pondo a mão sobre sua cabeça e com os olhos marejados digo:

— Eu sinto muito. Seu corpo fica aqui, mas sua alma ficará com Eywa. Descanse em paz.

. . .

Atente-se!

A caça aos Tulkuns acontece hoje na vida real, com nossas baleias.
A caça às baleias é ilegal e está sendo um ato recorrente hoje em dia.

Saiba mais em:  Baleias: Histórico da caça de baleias no mundo - UOL Educação

Never Been HurtWhere stories live. Discover now