Hong Kong, China
18 anos atrás 
—Ansiosa, meu amor?— Acariciou seus ombros, se abaixando em seguida para lhe dá um beijo na bochecha.
A garota virou o rosto em sua direção e tombou a cabeça para o lado, mostrando que não sabia responder a pergunta de sua mãe. Terminava o almoço com uma certa lentidão, porquê a verdade era que estava sim ansiosa, não com o que devia fazer, isso seria a coisa mais simples do mundo, a questão era toda a situação. Era sua primeira missão como uma Agente, mesmo tendo que amadurecer desde que deu seus primeiros passos nesse mundo, ainda sim era muito nova para uma tensão tão grande como aquela. Até porquê, no auge dos seus míseros dezessete anos, já carregava um título único dentro de sua família, era a Agente mais nova que a China já teve. Quase seria algo mundial, mas ainda havia um garoto Israelense de quinze anos que mantivera esse título intacto até hoje.
—Mamãe, o Lucas disse que ganhou pudim. Por que eu não ganhei pudim?— O pequeno Jeon andava resmungando pela cozinha até chegar em sua mãe, que imediatamente pegou seu garoto birrento no colo.
—Seu pai deu pudim pro Lucas pra compensar, ele chegou atrasado ontem do trabalho e não conseguiu ajudar na lição de casa.— Foi até a geladeira, já sabendo o que ele pediria.
—Mas eu também quero pudim, mamãe...— Pediu dengoso, enrolando os dedinhos na alça do vestido dela.
—Três filhos viciados em doce, que benção.— Entregou o potinho de pudim para o garoto, que pediu para sair e comer seu doce no quarto.— Um pra você também.— Deixou outro potinho ao lado do prato dela, que agradece com um aceno de cabeça.— Seu pai disse pra ir direto pra empresa, e não pro quarto.
Revirou os olhos enquanto colocava sua louça na pia, já pegando uma colher limpa para comer seu pudim, e com a mesma lentidão que comeu seu almoço, comeu sua sobremesa. Talvez estivesse um pouco nervosa, não de errar, nunca errou nos seus treinamentos, mas a circunstância lhe dava um tremendo frio na barriga, nem mesmo no seu teste de aptidão ficou desse jeito. Seria oficialmente um Agente.
Suas longas pernas a levavam para lugar quando não tinha seu foco no que fazia. Como agora, parada na frente do quarto de seu irmão, observava o garotinho comer seu pudim, segurando a colher um pouco torta, ele se sujava as vezes. Seu outro irmão, Lucas, assistia algum desenho na televisão que mais parecia uma tela de estádio, fissurado nas animações como se fosse um viciado. 
Eram momentos como esses que faziam a Jeon, por meros segundos, em um piscar de olho, sentir inveja daqueles pirralhos. Eles tinham tudo. Tudo o que alguém precisa e iria querer. Qualquer entretenimento infantil, qualquer peça de roupa personalizada com seu personagem favorito, atividades que faria qualquer criança ter uma overdose de tanta alegria, e principalmente, tinham uma família que os amava. Jungkook e Lucas não tinham apenas dinheiro, tinham carinho e amor.
Muitos diziam que os Jeon's eram bastante parecidos, não somente na aparência, mas aquilo era a grande diferença dele. Pode-se dizer que Jungkook nasceu rodeado de todas àquelas coisas, mas July teve que fazer diferente. Se acostumar. Ninguém de bom coração deveria se "acostumar" a receber a amor. Ela queria ter sido uma criança normal que nem Jungkook, não fazia questão dos luxos. Poderia ter sido até mesmo uma desabrigada. 
Por que sabe a diferença entre uma criança sem teto e a pequena Jeon? A criança pede dinheiro para um dia viver, e a pequena Jeon, queria pagar para um dia morrer. 
Mas isso durava pouco tempo, a cada ano que se passava, se tornava quase inexistente. Hoje poderia ver seu irmãozinho crescer com tudo o que não pôde ter, era isso que ele merecia. E era óbvio que estava incluída nisso, ela fazia parte de tudo o que Jungkook merecia. Ele tinha uma irmã que arriscou a própria vida para mantê-lo vivo.
                                      
                                   
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Égide sob mudez
RandomÉGIDE SOB MUDEZ|"Eu fui obrigada a crescer sem fé, mas você foi o culpado por me fazer acreditar no inferno." As pessoas fogem de várias coisas diferentes, desde um teste escolar surpresa até uma bala perdida. Pode-se dizer que alguém é especial por...
 
                                               
                                                  