CAPÍTULO 03

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     Não sei porque caralhos escolhi economia como graduação. Não é que eu desgoste de matemática. Eu simplesmente não tenho ânimo algo pra ficar fazendo cálculos e mais cálculos e mais cálculos durante horas e horas e horas (pensar nisso já me fez soltar um suspiro de desânimo).

     Eu não sei cozinhar. Não gosto de ler. Não gosto de português. Não sei cantar ou dançar. Não quero ser advogado ou juíz. Não gosto de cuidar de animais (não me julguem). Morreria antes que o paciente caso fosse médico. Cairia na porrada com os alunos na primeira provação se fosse professor. Derrubaria cada prédio que fizesse se fosse engenheiro...

      Resumindo: a minha vida é um desastre, e eu não sou mais do que um rostinho bonito.

      Talvez seja por isso que escolhi economia. Cálculos não vão matar ninguém, e embora não goste tanto, é algo que eu sei fazer.

      Infelizmente, não teve como eu dá uma passadinha no apartamento de Dean para me entupir de comida até ficar sem ar. Aquele alí faz melhor comida do mundo, mas eu resolvi vestir uma roupa confortável e ir assistir pelo menos o último horário daquela bendita aula, depois de ter comido apenas um velho sanduíche que não tinha sabor de nada e que provavelmente estava na geladeira à dois séculos.

      Uma dica para os iniciantes no mundo da cachaça: um banho gelado faz a lerdeza ir embora rapidinho; gelo nas olheiras diminui um pouco a aparência de morto-vivo; analgésicos bons fazem a dor de cabeça ir Deus rapidinho; um café puro e sem açúcar faz acabar com a sonolência, quanto mais amargo e ruim, melhor (mas só aconselho a tomar depois de algumas horinhas de sono para amenizar o cansaço).

      Agora estou caminhando em direção ao campus novinho em folha, com meu cabelo branco e raspado dos lados perfeitamente organizado e o meu sorriso de lado que desmancha corações presente nos meus lábios. A calça cargo folgada num estilo militar que estou usando e os coturnos de solado bem alto podem até esconder minhas curvas, mas todos já me viram vestindo roupas justas por tempo suficiente para saber que eu não sou uma tábua completamente.

       Estou levando a mochila apoiada em apenas um dos ombros, e a camisa de moletom sem mangas mostra os meus braços pálidos e torneados. Hoje está nublado, então eu não preciso usar nada que cubra a minha pele por completo.

      — Hey, Sean. — Colton, um cara grandalhão que deve pesar uns duzentos quilos surge ao meu lado, vestindo um casaco verde do time de hockey. Ele é bonito, tem um cabelo castanho claro espetado e um par de olhos escuros. O seu nariz tem uma ponte proeminente, como se ele tivesse sido quebrado e colocado no lugar de qualquer jeito (não que isso seja um ponto negativo. Eu acabei de falar que o cara é bonito).

      Lembro vagamente de quando eu estava de joelhos na sua frente no chão do banheiro de uma boate por aí, pagando um boquete rápido enquanto ambos estávamos já meio bêbados.

     — Oi. — Cumprimento-o com um aceno, enquanto ambos vamos em direções contrárias, porque pelo visto a sua aula já acabou. O safadinho faz questão de roçar o seu braço em mim quando passa, e isso me faz soltar uma risada besta e lhe dar uma leve cotovelada, sem parar de seguir o meu caminho para dentro.

       Gosto de manter contato com alguns caras e tê-los como amigos. Não é como se simplesmente ignorasse alguém depois do sexo, porque isso é um pouquinho escroto (eu sou um pouquinho escroto, mas nem tanto assim). Não é um estilo de amizade do tipo "NOOOOSSA, VAMOS VIRAR MELHORES AMIGOS E FAZER FESTA DO PIJAMA TODO FINAL DE SEMANA".

       O único amigo de verdade, com quem eu possa contar pra tudo, é Dean. O resto dos meus amigos não são tão próximos assim, como o Colton. A gente dança junto nas festas, ri de piadas juntos, e caso estivermos no clima, podemos repetir a brincadeirinha do banheiro uma vez ou outra.

      Eu marcho em direção ao elevador do prédio cumprimentando a galera de vez em quando, acenando e dando um rápido "oi", porque não tenho tempo para começar com conversinhas se quiser pegar pelo menos uma presença durante a aula de hoje.

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       No fim, acabou que eu realmente consegui a presença do último horário, mesmo que eu tenha chegado faltando uns vinte e cinco minutos pra aula acabar por completo. Bastou eu conversar com a professora e implorar pra que ela não marcasse uma falta minha naquele computador porque eu poderia ficar reprovado (e torcer silenciosamente para que ela acreditasse nas minhas desculpas inventadas de última hora para explicar o porquê de ter faltado durante todo o dia).

      Confesso que mesmo tendo sido aceito na sala nos acréscimos do segundo tempo, eu não prestei atenção em porra nenhuma e fiquei meio avoado o resto da aula inteirinha.

      Isso faz de mim um péssimo aluno? Provavelmente. Vai fazer de um profissional de merda? Provavelmente também. Mas vocês já sabem a resposta de Sean Thompson para a maioria das perguntas que exigem um pouco de raciocínio: um grande "FO-DA-SE".

       Depois que a professora anuncia o término da aula, eu me sim meio tapado por ter caminhado de casa até aqui pra ter assistido apenas vinte minutos de aula, mas pelo menos não recebi mais uma falta no boletim, que se somaria com as outras 46654676586 mil que já há lá.

     Além disso, caminhar talvez possa ajudar a acabar com os efeitos letárgicos da outra noite, e caso não queira voltar caminhando, eu posso arranjar uma carona num piscar de olhos também.

       Saio da sala em passos tranquilos, tirando o celular do bolso traseiro da calça cargo e ligando-o enquanto vou até o banheiro fazer xixi rapidão. Há algumas mensagens de uns amigos, uma de Dean, pedindo para eu dar uma passadinha lá no seu apê pra comer uns novos 'experimentos' que ele andou testando, e que tenho certeza de que estão ótimos, como tudo que ele faz.

      Sequer noto quando chego no banheiro, porque estou com os olhos grudados no celular, dando uma rápida olhada nas várias pessoas que começaram a me seguir de ontem para hoje. O banheiro está vazio e silencioso pra caramba, e a porta fecha automaticamente atrás de mim assim que eu entro.

       Estou prestes a enfiar o celular de volta no bolso, mas é quando recebo umas mensagens de um número desconhecido, sem foto de perfil.

"ACHEI QUE VC IRIA QUERER DAR UMA OLHADINHA NISSO AQUI, SEAN 🤫"
13:43 P.M.

(VÍDEO)
13:43 P.M.

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MEU NERD SECRETO (COMPLETO)Where stories live. Discover now