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☽【ᗰᵢ𝚗】☾

Já faziam trinta minutos que a coordenadora não parava de falar.

Dava todo e qualquer tipo de sermão. O diretor, quem deveria estar dando a bronca, estava quieto, surpreso com o ânimo da senhorita ao nos repreender.

— Já é o suficiente — cortou o barato da mulher — Acredito que eles já entenderam o recado, e não repetirão este ato, não é!? — olhou para nós como quem implorasse para concordar e acabar com aquilo de vez.

— Sim — respondemos desanimados em uníssono.

— Voltem aos seus afazeres — ordenou e nós saímos da sala.

Logo que a porta fechou, pudemos escutar a voz estridente da coordenadora inquieta com a leve punição que tivemos. Foi inevitável dar uma leve risada ao menos.

— Valeu por fazer a gente ir pra diretoria — Chris deu um soco "leve" na cabeça do ruivo.

O mesmo só mostrou a língua sendo brincalhão e saiu correndo. Jisung foi atrás. Não quero nem perguntar.

— Você tá bem? — ele me olha depois de uns segundos no silêncio.

— Estou! — respondi rápido até demais — Sei lá... — parei de falar.

— Eu tenho ouvidos.

— O que? — achei estranho.

— Eu tenho ouvidos, e vou ouvir o que você tem pra dizer — acertou na lata. É perceptível quando penso demais.

Suspirei e tentei começar. Mas cada vez minha voz falhava e eu não conseguia mais falar nada.

Chris percebeu que não estava dando certo. Por algum motivo, me levou até a sala de teatro. Nem se importou em acender as luzes. Apenas subimos no palco. Ele me empurrou para trás das cortinas e saiu.

— Agora você não me vê.

Entendi na hora.

Podemos concordar que falar pro nada é mais fácil que na cara da pessoa.

— Eu só vou escutar, então não se preocupe comigo. Eu simplesmente não estou aqui — escutei o barulho da cadeira rangendo. Ficou em silêncio.

— Eu não gosto de ficar parado — me sentei no chão, seria melhor — Ter tempo para pensar me assusta.

Deixei o silêncio ficar no ar, pensando que ela perguntaria algo, mas parecia mesmo que não estava ali.

— Durmo tarde e fico cansado. Mas me assusta ter tempo para pensar. Ficar ocupado me mantém longe dos meus pensamentos. Não quero pensar e me preocupar com minha bolsa de estudos. Não quero me preocupar com minha mãe morando sozinha. Não quero me preocupar. Não quero pensar. Já estive em dias que só quis chorar. Mas não podia. Porque os outros perguntariam. E eu não quero que todos saibam que não sou a pessoa alegre que está sempre cumprimentando a todos por aí.

Em algum momento eu comecei a chorar. Mas eu não liguei. Ele não me via mesmo.

— Eu só... — eu não conseguia ter fôlego suficiente pra falar tão rápido — Eu só não quero lembrar — funguei e continuei chorando — Não quero lembrar do que me assombra toda noite.

Eu tentava segurar o choro mas aquilo veio tão rápido que estava impossível aguentar.

Vi uma mão branca cheia de anéis segurar a cortina e abrir espaço para passar. Ele se abaixou e me segurou. Me abraçou. Eu só queria conforto.

Nós estávamos ali. No chão. Eu no colo dele, o abraçando enquanto ele fazia carinho no meu cabelo. O choro aumentou mas logo fiquei tão calmo que poderia ficar ali por horas.

Era tão bom ser confortado por alguém pelo menos uma vez na vida.

Acho que tínhamos dormido abraçados, porque do nada tinham pessoas nos olhando deitados no chão.

Percebi que era o grupo do teatro. Eu tinha teatro naquele dia e nem lembrava. Levantei rápido e acordei Christopher. O mesmo arregalou os olhos, assustado.

Peguei as coisas dele e o levei para fora. Depois eu daria muitas satisfações para os rapazes na aula.

— O que aconteceu? — perguntou meio desnorteado, por ter acabado de acordar.

Seu cabelo cacheado estava com umas mechas emboladas pra cima, dando a impressão de que tinha dormido muito. Me aproximei e arrumei.

— Eu tenho aula agora — recuei depois de ajudá-lo com o cabelo.

Fiquei olhando para ele.

— E obrigado — ele levantou a cabeça e me olhou por fim — Por tudo... — apontei para a porta — aquilo.

— Ah... — ficou envergonhado — Quando precisar, eu tenho ouvidos — sorriu, meigo.

— Obrigado.

— Bem, eu acho que já vou indo — se virou devagar.

— Chris!

Ele se virou rápido e roubei um beijo seu. Um selinho. E sai correndo. Entrei no teatro e fechei a porta.

Puta merda. Eu fiz isso.

★ ƈԋαɳ ★

𝐬𝐨𝐮𝐥𝐦𝐚𝐭𝐞𝐬 ♥ 𝐜𝐡𝐚𝐧𝐦𝐢𝐧Where stories live. Discover now