Capítulo 1 - Bom dia, Grimhilde!

537 30 5
                                    

Havia acabado de amanhecer na Ilha dos Perdidos, mas mesmo assim o céu se encontrava nublado e úmido, com uma brisa fria invadindo a casa de todos os azarados que ousaram confiar na sorte e deixar uma fresta aberta em suas janelas, enquanto outros...

Oops! This image does not follow our content guidelines. To continue publishing, please remove it or upload a different image.

Havia acabado de amanhecer na Ilha dos Perdidos, mas mesmo assim o céu se encontrava nublado e úmido, com uma brisa fria invadindo a casa de todos os azarados que ousaram confiar na sorte e deixar uma fresta aberta em suas janelas, enquanto outros sofriam com o clima gélido por simplesmente não terem um teto sobre a cabeça.

Porém, em um dos becos nas ruas vazias, encontrava-se uma grande estrutura mal acabada, com claros erros de construção e detalhes que não se sabia se foram deteriorados pelo tempo ou por mão humana. E lá no topo dessa grande estrutura, em um quarto escuro e intimidante, uma adolescente de cabelos azuis se contorcia de agonia em sua cama por conta da forte onda de ar congelante que entrou por sua janela quase quebrada e lhe deu um dos piores "bom dia" que ela já havia recebido. A falta de vontade de acordar, principalmente de maneira tão desassossegada, fez com que a garota resmungasse de frustração, se arrependendo de ter escolhido que sua cama ficasse justo em frente a grande abertura na parede e amaldiçoando a pessoa que fez uma janela tão disfuncional a ponto de nunca fechar completamente.

— Evie, cala a boca, eu estou tentando dormir. — do outro lado do quarto, deitada na cama que ficava na parte mais escondida em meio da escuridão, sua amiga Mal a repreendeu.
— Bom, eu também estou tentando dormir, mas esse frio desgraçado simplesmente não deixa! — ela exclamou em puro ódio. — Me dá um dos seus cobertores, eu preciso mais que você!
— Sem chance, se vire com os seus.
— Mas estão todos esburacados e puídos, é injusto eu, a única que pega frio diretamente, ficar com os piores cobertores.
— Oh meu pai... — Mal resmungou baixinho, rosnando de raiva. — Se eu te der um dos meus cobertores você cala a boca e me deixa dormir?
— Sim! — ela uniu as mãos em frente ao próprio rosto, como uma criança mimada faz quando quer algo de seus pais.
— Tá bom. — Mal se levantou, pegou o primeiro cobertor que viu pela frente e caminhou em passos pesados até a cama de Evie, jogando a colcha de retalhos bruscamente em cima da garota azulada. — Feliz agora? — ela rapidamente voltou para onde dormia, se jogando no colchão sem nem pensar duas vezes e logo enrolando-se com os cobertores que lhe sobraram.
— Poderia ser um mais quentinho... — Evie começou a falar e logo foi interrompida pelo olhar raivoso de sua amiga deitada. — mas definitivamente está bem melhor agora. — ela completou, com um sorriso forçado nos lábios, se aconchegando também, pronta para retornar ao seu sono.

— Meninas! Acordem! — uma voz aguda masculina, que Evie já conhecia bem, exclamou em tom alto, entrando no quarto como se um incêndio estivesse se alastrando no cômodo de baixo, enquanto batia palmas da maneira mais barulhenta possível, no objetivo de acordar as garotas quanto antes.
— O que? — Mal balbuciou com uma voz sonolenta, franzindo as sobrancelhas e apertando mais os olhos, claramente incomodada.
— Que som infernal! — Evie exclamou, se virando de bruços, pegando um de seus travesseiros e o colocando em cima de sua própria cabeça, na tentativa de tampar os ouvidos e abafar os sons estridentes.
— Acordem suas preguiçosas, vocês precisam ver quem estão aqui! — a voz jovial exclamou novamente.
— Carlos, sai daqui agora. — a de cabelos azuis disse para o garoto que entrou, já irritada.
— Aposto que quando eu jogar água fria nelas, elas acordam rapidinho. — agora foi uma voz mais grossa e também masculina que disse, revelando também estar presente no quarto.
— Saiam daqui! — Mal pegou um de seus travesseiros e jogou na direção dos dois garotos em seu quarto.
— Wow — o mais jovem disse, dando um pulinho para trás. — Viu só, Jay? E depois elas vão dizer que a gente não avisou.
— Relaxa, mano — o maior começou a falar em um tom calmo. — aposto que elas nem se importam mesmo com a única visita que a gente tem da realeza em anos. — ele completou, fazendo questão de falar a frase em alto e bom-tom, dando ênfase em cada palavra separadamente.
— Realeza? — Evie levantou imediatamente, se sentando na cama como se já tivesse acordado a horas. Agora ela via os dois garotos claramente, um de cabelo curto e descolorido, com roupas das cores branco, vermelho e preto, e outro um pouco maior, que facilmente poderia ser confundido com um adulto, de cabelos longos e escuros, uma touca em sua cabeça e roupas das cores amarelo, azul e vermelho.
— Sim, nós vimos um carro da realeza passando pela barreira a pouquíssimo tempo atrás, e nem era daqueles que trazem comida e coisas do tipo, era um dos bem chiques mesmo. — o garoto de cabelo comprido, Jay, explicou.
— O que? E vocês só falam agora? — Evie pulou de sua cama, correndo imediatamente na direção do seu armário, abrindo as portas do mesmo e começando a olhar suas roupas com rapidez. — Será que dá tempo de me maquiar? Tem que dar tempo de me maquiar! Porque vocês não falaram antes que era sobre a realeza?
— A gente tentou, mas as madames estavam com sono demais para ouvir. — o garoto menor, Carlos, respondeu com claro deboche em sua voz.
— Mano, eu não deveria ter ficado assistindo TV até tarde ontem… — Mal comentou, de maneira quase inaudível por conta da sua voz rouca de sono.

Grimhilde olhava todas as roupas em seu armário como se sua vida dependesse daquilo, pegando as que mais pareciam combinar e as arrastando junto a alguns acessórios para trás de seu biombo azul e prata, começando a se vestir ali mesmo. E com a falta de Evie em seus campos de visão, os dois garotos perceberam que Mal também estava se arrumando, mas silenciosamente, sem trocar muitas palavras com os outros adolescentes.

— Ué, você também está interessada na visita da realeza, Mal? — o maior garoto perguntou, confuso, pois sabia que sua amiga repudiava qualquer coisa que viesse de seus governadores e não se interessava nem um pouco em participar dessa tal nobreza, diferentemente de Evie, que faria de tudo para ter uma coroa verdadeira sobre sua cabeça.
— Eu estou interessada porque eles podem ser úteis para gente finalmente sair daqui, não para tentar ser namoradinha de um príncipe encantado. — a de cabelos roxos respondeu, rabugenta.
— Sinceramente, eu acho que se casar com um príncipe e se tornar uma possível rainha no futuro, é um bom plano para escapar daqui e ainda dominar o mundo mais fácil. — falou o garoto de voz mais fina e cabelo descolorido.
— Cala a boca, Carlos. — Mal ordenou, com um tom opaco em sua voz.
— Eita! Sim, senhora. — ele novamente respondeu em tom debochado, fazendo Evie soltar uma risadinha baixa.
— Ok, como estou? — a de cabelos azuis perguntou, saindo de trás do biombo após acabar de vestir as roupas que ela achou mais adequada a uma visita real.
— Hm... Se você não fosse tipo uma irmã para mim, eu super te daria uma chance. — o garoto de cabelo comprido respondeu, mostrando um sorriso paquerador em seu rosto.
— Eca. — Evie respondeu, rapidamente se virando para sua outra amiga, que fechava o zíper das botas que havia acabado de colocar. — Mal?
— Linda, Evie, você sempre está linda. — Mal respondeu com um tom indiferente, quase revirando os olhos, enquanto sorria por achar engraçado a maneira que a azulada procurava por sua aprovação.
— Obrigada! — com um sorriso nos lábios, Evie respondeu, mais confiante ainda de que aquela era a roupa certa.
— Eu gostei bastante da combinação do vestido com as botas, mas acho que você poderia colocar uma pulseira de couro em algum dos braços para não ficar muito carregado na parte de baixo e vazio na parte de cima. — Carlos sugeriu.
— Tem razão... — Grimhilde ficou em silêncio por alguns segundos, com uma expressão pensativa, que logo se tornou em um sorriso animado novamente, quando uma ideia brilhante chegou a sua mente. — Já sei! E se eu colocar aquela jaqueta com uma daquelas golas grandes que minha mãe costumava usar nas capas dela? Traria mais volume para a parte de cima.
— Boa ideia, acho que vai ficar bem melhor. — Carlos respondeu.
— Pessoal, desculpa atrapalhar o showzinho de moda, mas vamos logo. — Mal ordenou novamente, já começando a andar em direção a porta do quarto antes mesmo de ouvir uma resposta.

Os outros três adolescentes se entreolharam, torcendo a boca e se segurando para não rir do claro mau humor de Mal. Evie viu os garotos darem de ombros e começarem a seguir sua amiga de cabelos e roupas roxas, sem dizer mais nenhuma palavra em oposição, e Ela só teve tempo de pegar sua jaqueta em cima da sua cômoda azul rapidamente, antes de fazer o mesmo que eles e ir em direção a porta de saída do quarto.


· ♔ ·

Desde o Primeiro DiaWhere stories live. Discover now