Naomi

1.1K 127 33
                                    

Há um ano

     Senhor Marshall quer que eu vá para a sua sala antes de ir para casa.
     Pelo olhar pretensioso, diria que está interessado, mas sinceramente o que um homem de quarenta e quatro anos, bem sucedido, ceo de uma empresa de lapidação de diamantes, milionário, lindo e extremamente atraente — sem esquecer que é casado, claro — iria querer comigo?
     Admito que sinto atração por ele desde que vim trabalhar aqui, o que são apenas dois meses. August Marshall é um colírio para os olhos, loiro, corpo bem cuidado, olhos azuis intensos, a voz grave, inteligente para caralho e cheira a paraíso. É errado cobiçar o marido de alguém, mas não consigo impedir que ele apareça nos meus sonhos.
      Organizo as minhas coisas e endireito a minha saia. Não quero parecer atrevida ou dar a impressão errada, mas também não quero parecer desleixada. Prefiro nem sair de casa se não estiver bonita.
      Tomo uma respiração funda antes de bater na porta. Ouço a voz do senhor Marshall a dizer para entrar e assim que coloco os pés na sua sala e fecho a porta atrás de mim, sinto o meu estômago revirar e as minhas mãos começam a suar. O que será que ele tem para me dizer de tão importante assim?
       — Pediu que eu viesse, senhor.
       Senhor Marshall levanta o rosto e olha para mim de cima a baixo. — Aproxime-se, por favor.
      Caminho em passos firmes até chegar na sua mesa, de frente para ele. Senhor Marshall levanta e apoia as mãos na mesa, seus olhos fixos em mim e os dentes prendendo os seus lábios. Ele é sexy, mas agora estou desconfortável.
      — Você é linda.
      O quê?
      Arregalo os olhos, incrédula. — O senhor não pode dizer que eu sou linda.
      — Mas você é. Você também me acha lindo.
      Ah, merda.
      Ele ouviu a minha conversa com Teagan ontem. Eu disse para ela que ele tinha ouvido, agora estou completamente envergonhada.
      — Senhor...
      — Não me chama de senhor. — Vem até mim e fica na minha frente. — Prefiro August ou Gus.
      — Mas isso não seria nada profissional.
      — Vamos esquecer o trabalho por um instante. — Dá um passo para frente.
      Dou um passo para trás. — O senhor é casado.
      — Eu sei. Eu sou casado apenas no papel agora. — Mostra o seu dedo sem aliança. — Vou me divorciar da minha esposa. Nosso casamento não deu certo.
      — Mas são tantos anos. Não pode desistir assim.
      — Eu não sou o que ela quer, e desde que você veio, eu tenho me controlado para fazer as coisas bem, mas já não consigo. — Toca o meu rosto como se eu fosse feita de cristal.
      — Senhor, eu não quero me envolver nisso. Não quero ser uma destruidora de lares.
      — Você não será, prometo. Cecil destruiu o nosso lar. Se quiser, podemos começar sem que ninguém saiba, assim ninguém te acusa de nada.
      — Eu não quero ser apenas uma amante.
      — E não será porque eu não quero uma amante. Eu quero que seja a minha namorada. Não quero apenas uma noite ou uma semana com você, Naomi. Quero muito mais.
      — E a sua esposa?
      — Esqueça dela. Ela não me quer. Eu me sinto tão sozinho, já não funcionamos bem.
      Afasto-me do seu toque, mas ele toca a minha cintura. — Senhor Marshall, eu não posso.
      — O que tenho que fazer para acreditar em mim? Como provar que eu quero você?
      — Eu não gosto de partilhar. Não quero ser a outra.
      — Você não seria a outra porque eu não tenho mais nada com a minha esposa. Eu vou provar para você.
      O seu cheiro me deixa tonta. — Já posso ir para casa, senhor Marshall?
       Ele tira a sua mão da minha cintura e coloca a mão no bolso para tirar um cartão. Recebo e vejo o nome de um hotel com o endereço e número.
      — Pode ir para casa. Mas eu vou passar a noite nesse hotel. É onde tenho estado nesses dias. Se quiser passar a noite comigo, é aqui que estarei. — Beija o canto da minha boca e volta para a sua mesa.
      Saio da sua sala e respiro. Tiro alguns minutos para processar o que aconteceu e vou buscar a minha bolsa para ir embora. No mesmo momento, senhor Marshall sai da sua sala e entra no elevador, antes que as portas se fecham, pisca um olho para mim e sinto que vou desmaiar.
      Eu já vi a esposa dele. Cecil Marshall é uma mulher linda, aposto que também é desejada por muitos homens, quero ser como ela quando tiver quarenta anos, então como é possível o marido não querer mais nada com ela? Esse é o truque de querer uma amante negra enquanto tem uma esposa loira e linda para mostrar ao mundo?
       Não faz mal eu pedir provas, não é?
       Vou para casa também, sem tirar as palavras do senhor Marshall da minha cabeça, e nem mesmo a fofura do meu gato, Galileu, consegue me distrair. Minha bola de pêlo branca e castanha nas orelhas, uma parte das costas e cauda de três anos de idade está no sofá, lindo como sempre, e bem comportado. Minha amiga Anne cuida dele quando estou no trabalho, ela trabalha à noite e gosta de cuidar do meu menino, então não se importa.
      — Boa noite, meu amor. — Sento ao seu lado e dou um beijo nele. — Há que horas sua tia saiu daqui? — abraço meu bebé. — Sabia que o meu chefe me convidou para passar a noite com ele?
     Ele mia em resposta. Talvez seja realmente uma resposta, mas tudo o que eu sei é que não vou conseguir dormir essa noite. Porquê isso tem que acontecer comigo? Eu sempre fui boa para todo mundo.
      Respiro fundo e dou um último beijo no meu gato. — Desculpa, meu amor. Eu não vou passar a noite com você hoje. Por favor, não estrague nada e cuide de tudo. Eu te amo.
      Vou tomar banho para ficar cheirosa, faço depilação, esfoliação, até lavo o cabelo e demoro algum tempo a secar, passo a minha escova alisadora, faço um coque e vou atrás da roupa.
      Escolho um vestido preto sexy, justo e saltos altos vermelhos, faço uma maquiagem leve, passo o meu perfume para ocasiões especiais, pego uma bolsa prateada e coloco o telefone, batom, dinheiro, coisas importantes e olho para o espelho sem vontade de desistir a meio do caminho.
      Chamo um táxi e dou o endereço do hotel. Deixei Galileu sozinho em casa, felizmente ele não é como alguns gatos que só fazem bagunça, o meu é preguiçoso quando se trata disso, também não é um gato normal porque ele gosta de banhos, Anne diz que os animais se parecem com os seus donos, por isso que Galileu é tão fofo, mas ainda acho que talvez o meu treino tenha resultado.
      Meu coração pára quando vejo Blue Mountain e pago o homem com as mãos trêmulas. Quando desço do carro e entro no hotel, a recepcionista olha para mim com desdém, assim como algumas pessoas que passam. Recebo olhares como esse com frequência então não me incomoda mais.
      Ligo para o senhor Marshall porque não sei em que quarto está e não acho que a recepcionista irá me dizer. Agora estou nervosa e minhas mãos não param de tremer.
      — Naomi. — Ele atende. O jeito que ele diz o meu nome... Ele com certeza faz de propósito.
      — Eu estou aqui. Quer dizer, estou na recepção do hotel. Pode vir me buscar?
      — Com prazer, amor. Vou descer. Cinco minutos, está bem?
      E esse Marshall super carinhoso?
      — Está bem. — Desligo.
      Um homem ruivo bem vestido olha para mim como se eu fosse um pedaço de bife. É bom quando olham assim para nós algumas vezes, mas eu não gosto, sinto que eles só vêem o meu corpo. Prefiro ser amada e desejada por alguém que veja tudo em mim.
       Senhor Marshall chega depois de seis minutos. Veste um suéter azul escuro, um pouco justo, calça branca e traz um sorriso lindo enquanto caminha na minha direção. Agora não sinto o meu corpo e acho que vou desmaiar.
      Ele me recebe com um abraço e um beijo atrás da orelha, o que só piora a minha situação. — Fico feliz por ter vindo.
       — Sim. — Sim? Sim, o quê, sua idiota!
      Ele segura a minha mão e leva-me no grande elevador. Entramos com uma mulher de meia idade e senhor Marshall passa a mão ao redor da minha cintura.
      — Eu adoro quando usa cores chamativas, mas o preto também fica muito bem em você.
      Forço um sorriso para ele. — Obrigada.
      — Relaxe, está bem? Não vamos fazer nada errado. — Ele nota as minhas mãos trêmulas.
      — Não vamos?
      — Claro que não. — Beija o meu ombro e deixa a minha pele toda arrepiada. Seu toque queima o meu corpo.
      As portas do elevador se abrem e deixamos a senhora para trás. Senhor Marshall abre a porta com a chave que é um cartão e entramos num quarto que é o significado de luxo. Quase engasgo com o tamanho da cama porque nunca tinha visto uma tão grande na vida real.
     — Você está tão linda para mim. Eu adorei.
     — Obrigada.
     — Quer alguma coisa? Está com fome?
     — Sim.
     — Vou pedir o jantar para você. — Ele liga para o serviço de quartos enquanto eu admiro o lugar.
      Há uma parede de vidro com a paisagem de Portland, iluminada durante a noite, é simplesmente maravilhosa. Gosto de ver as estrelas, dormir sobre elas, para mim noites estreladas são magníficas. Já fiz piqueniques com as minhas amigas sob as estrelas.
      Estou tão distraída que assusto com o beijo no meu pescoço. — Gostou do quarto?
      Viro para ele. — Sim, é lindo, mas não podemos transar.
      — Você é virgem?
      — Não. Infelizmente não, mas eu não confio no senhor.
      — Não me chama de senhor, por favor. E sei que é difícil de acreditar, mas eu quero alguém para amar, não uma amante.
      — Então, não se importa se não houver sexo. Podíamos apenas conversar.
      — Não posso sequer te beijar?
      — Pode tentar me convencer que o seu casamento acabou.
      — Oh, pode crer que acabou. Mas eu entendo, você merece uma explicação melhor.
      — Obrigada.
      — Mas eu posso beijar você pelo menos?
      Eu também quero que me beije.
      — Acho que é melhor não.
      — Tem medo de não resistir? Não vou fazer nada que não queira, amor. — Traz o meu corpo ao seu, bem juntinho, que me deixa sem fôlego.
      — Senhor...
      — August. Melhor, me chame de Gus.
      — Eu estou com fome.
      Ele lambe os lábios. — Também eu. Fome de dez cavalos.
      Afasto-me. — Porquê eu?
      Ele passa a mão no cabelo. — Porque eu sei que gosta de mim. Eu também gosto de você, nenhuma outra mulher me chama atenção. Já disse, não será apenas um caso. Eu prometo que vou te fazer feliz.
      — Então, não quer apenas sexo casual?
      — Claro que não. Podemos não transar essa noite, posso provar que meu casamento acabou.
      — Por isso eu vim. Quero que me convença.
      Ele morde o lábio. — Está bem. Mas eu garanto que depois de ter pisado os pés aqui, já ganhei você.
      — De verdade?
      — De verdade, amor.
      Penso por um instante que se ele está num hotel é porque deve ter problemas no casamento, mas não sei se devo confiar. Eu quero ele, não vou mentir, mas não quero sofrer, por isso preciso saber se ele vai mesmo se separar da esposa. Ele pode querer apenas sexo comigo e me abandonar na primeira semana.
      Senhor Marshall conta sobre a sua esposa, coisa que muitos homens devem dizer para as amantes, mas o meu eu, que vai para o inferno, quer acreditar nele. Teagan também me disse que ele não usava aliança há algum tempo, o que me deixa com dúvidas.
       — Eu ainda preciso de provas de que o seu casamento realmente acabou.
       — Se eu der as provas, vai ficar comigo?
       — Se der as provas serei toda sua.
       Seu sorriso é tão vitorioso, que eu não esperava que depois de uma semana ele enviasse o começo de uma carta de divórcio e mandasse vídeos todos os dias daquela semana, provando que dormia sozinho e ainda áudios de seu advogado dizendo que deu entrada no processo de divórcio.
       Acho que não faz mal tentar. Se for mentira, acabo com isso. Simples.

Presente

        Despeço-me de Anne e Stela sem acreditar ainda que vou embora. Achei que vir para Oregon iria mudar tudo na minha vida e mudou, mas não do jeito que eu queria.
        Há dois meses, eu ainda pensava que iria casar com August. Ele praticamente me pediu em casamento, pediu que eu escolhesse uma casa para nós morar, foram tantas promessas, tudo para ter uma amante, uma garantia de foda sempre que precisasse. Ele mentiu tão bem, eu acreditei e agora não sobra muito de mim.
       Mas eu sei que mereço tudo isso. Devia ter dito que não desde o começo, mas ele me deu provas sobre o fim do seu casamento, como eu poderia saber que as provas eram falsas? E foi mais difícil quando percebi que o meu coração estava totalmente entregue a ele.
       Minhas lágrimas agora são por ele, mas também por saber que vou embora. Não quero mais ficar aqui, vou ficar na casa dos meus pais algum tempo, se eu poder voltar, talvez um dia volte. Mas, por enquanto não é uma opção.
      — Não chora, por favor. Desse jeito eu também vou chorar. — E as lágrimas já surgem nos olhos puxados de Stela.
      — E eu vou sentir saudades de você. — Anne abraça o Galileu.
      — Eu também vou sentir saudades de vocês. Obrigada por estarem sempre para mim. Vocês tentaram me avisar sobre ele, eu não quis ouvir. Eu sinto muito.
      — Eu não gostava dele. — Stela sempre deixou isso claro. — Mas agora que ele vai te afastar nós, eu o odeio.
       — Eu preciso pensar sobre o que é melhor para o meu filho. O que é melhor para mim. Trabalhar na Empire não vai me fazer bem.
       — E como vou entregar isso para ele? — Stela olha para a caixa nas suas mãos.
       São apenas todas as lembranças que tenho dele. O álbum de fotos que fiz com muito amor e quis dar no aniversário dele, o anel de safira que ele disse que seria meu anel de noivado, algumas roupas dele que deixou no meu apartamento, os presentes que ele meu deu, tanta coisa. Desperdicei um ano da minha vida.
      — É so mandar para o endereço dele. Ele decide o que fazer com isso.
      — Porquê não fica com o anel? Vende e fica com o dinheiro. — Anne sugere.
      — Não quero que ele pense que o dinheiro ou os presentes sempre foram mais importantes. Eu quero que ele saiba que o amei e amaria mesmo que não tivesse um tostão e se arrependa amargamente por ter perdido uma mulher como eu. — Soluço.
      — Está bem. Vamos fazer o que deseja, amiga. — Anne sorri com tristeza.
      Damos um abraço triplo e recebo Galileu, para coloca-lo na sua caixa de transporte para gatos azul fofinha. Despeço-me das minhas amigas mais uma vez e vou para a sala de embarque, pronta para começar tudo de novo. Com sorte, encontro um emprego melhor em Maine.
      Na sala de embarque envio uma mensagem para as minhas amigas a dizer que as amo demais, depois faço o que tenho que fazer. Foi ontem que estive na casa do August e terminamos definitivamente, foi ontem que decidi que era melhor ir embora e comprei bilhetes de avião para Portland, Maine à última da hora. Foi ontem que decidi que August já não faria parte da minha vida.
      Envio a carta de demissão para o recursos humanos e também uma para ele. Queria fazer isso quando estivesse inalcançável para ele, mas duvido que depois que ver a carta de demissão virá atrás de mim. Aposto que ele ficará aliviado por não me ver mais.

Estrelas de Safira [COMPLETO NAAMAZON]Where stories live. Discover now