CAPÍTULO 2 - AMNÉSIA

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Lalisa Manoban.
Sedona, Arizona - 11:25 PM
Dias atuais.

Enquanto mantinha meus olhos fechados tive uma sensação de formigamento em minhas pernas e pés, meu subconsciente parecia incomodado mas ainda adormecido, eu insistia em mexer os dedos da minha mão e eu senti uma dorzinha aguda em minha cabeça quando ameacei abrir os meus olhos que pareciam estar grudados. Um ruído baixo e quase inaudível ponderou em meus ouvidos e de repente uma memória correu em minha cabeça como um choque seguida de outra e outra e em todas elas havia sempre um mesmo rapaz de cabelos pretos, pele branca e característica asiática.

"Lalisa, não feche seus olhos, fique comigo"

Lembro da sensação de ter a minha cabeça zonza e dolorida, de sentir o sangue escorrer e de cair no chão sem forças e quase sem movimento, mas eu não consigo me lembrar como tudo aconteceu e não sei dizer quem é o homem das minhas memórias. Seu rosto é vívido em minha memória, mas seu nome e indícios de onde o conheço não se encaixa na minha cabeça.

Abri de supetão meus olhos analisando o forro de gesso branco, pisquei algumas poucas vezes e observei a sala em que eu ne encontrava. Havia uma enorme janela de cortinas roliças a minha direita e uma mesa com um vaso e flores azuis, ao meu lado esquerdo um sofá aparentemente confortável e aparelhos médicos ligados ao meu corpo, eu estava sozinha e um ruído baixo ainda ecoava do lado de fora do cômodo em que eu estava. Me sentei na cama sentido-me um pouco confusa e puxei o lençol de cima do meu corpo revelando a roupa tosca que eu vestia de doente, observei meu braço esquerdo e então arranquei a agulha e o medidor de batimento cardíaco do meu dedo indicador. Me sentei de modo que minhas pernas ficassem para fora da cama e me esforcei para mexer o meu dedão do pé que assim fez enviando ondas de formigamento para o resto das pernas.

Incentivei mexer as pernas até que finalmente parassem de formigar e no minuto seguinte eu saí da cama meio lenta pisando divagar e tonta, fixei meus olhos nas flores em cima da mesinha em baixo da janela e procurei por algum cartão ou algo do tipo, mas infelizmente não tinha nada, a pouca iluminação que atravessava a janela me fazia perceber que estava de manhã, mas estranhei o fato de que lá fora parecia silencioso demais. Ao invés de espiar pela janela a cidade, eu apenas decidi que saíria, quando abri a porta notei que havia uma cama na porta impedindo que eu saísse então eu apenas empurrei para o lado e caminhei para fora encontrando um corredor vazio, silencioso e pouco iluminado.

Continuei a caminhar sem pressa e me sentindo ainda um pouco fraca, abri algumas portas de algumas salas e notei que estavam vazias, permaneci andando para a direção que dizia "exit" e então dei de cara com uma porta fechada com correntes e um cadeado grande nela estava escrito com sangue "zumbis, não abra". Batidas frenéticas ecoavam da porta e elas eram fortes de modo que fazia com que a porta mexesse. Voltei para a direção contrária entrando em um corredor com outra porta trancada, mas dessa vez sem corrente e cadeado indicando que ela poderia ser aberta a qualquer momento.

De repente comecei a me perguntar a quanto tempo exatamente eu estava dormindo e como algo desse tipo poderia ter acontecido, zumbis? Claro que cenários como esses não são tão improváveis, mas eu nunca imaginei que viveria em um verdadeiro filme de pós-apocaliptico e além do mais sozinha e sem um pingo sequer de memória. Pensei que eu estivesse realmente encrencada.

Entrei em algum outro corredor naquele hospital e peguei a saída de emergência pela escada, mas assim que abri a porta dei de cara com um corredor completamente tomado por zumbis que notaram minha presença e vieram em minha direção. Eu não voltaria para a escada, eu teria que encarar aquela manada e seguir para a direção contrária até chegar na saída. Me arrependi de tal ato quando senti minhas pernas falharem, eu ainda me sentia fraca e minhas pernas perdiam vida gradativamente, pensei que eu não podia parar de correr levando em consideração que haviam cerca de mais de dez zumbis correndo atrás de mim sem parar.

Eu literalmente acabei de acordar de um possível coma, basicamente eu estava morta a alguns minutos atrás, mas percebi que estou viva agora então pretendo continuar viva e seguir para qualquer lugar. Abri a porta de saída do hospital com tudo sentindo meu sangue gelar ao reparar que fora dali ainda haviam mais deles, eu estava em aberto e vulnerável e senti alívio quando encontrei um carro estacionado logo a minha frente um pouco distante.

Não tive tempo para respirar e eu sentia que ficaria sem ar a qualquer momento, agora os zumbis duplicaram e eu só pensava que deveria chegar logo naquele carro ou acabaria virando comida de zumbi. Eu estava com uma distância considerável deles, parei perto do carro apenas para pegar a chave do mesmo que se encontrava no chão e então trêmula eu conseguir abrir e entrar fechando a porta rápido e ligando o mesmo que por sorte funcionou no mesmo segundo.

Me assustei quando o primeiro zumbi alcançou o carro chocando-se contra o vidro respingando sangue, acelerei para fora do estacionamento e entrei na avenida que também tinha zumbis e além disso corpos e sangue para todos os lados, lojas saqueadas e coisas desse tipo, tudo estava deserto e morno de alguma alma viva de verdade. Pensei que eu poderia estar sozinha então aquilo me assustou; sem memória e sozinha.

Eu quase bati o carro quando uma pontada aguda preencheu minha cabeça, eu sentia muita dor como se alguém estivesse batendo nela então mais memórias correram pela minha mente. Uma casa em um bairro chamado Sedona, poderia ser a minha casa então eu apenas senti que deveria ir até lá, mas obviamente tomando cuidado.

Assim que cheguei no bairro desolado e pacato percebi que a baixa de zumbis eram poucas, haviam corpos por ali desfigurados e o odor me fazia querer vomitar, tinham alguns zumbis, mas bem pouco comparado com o centro da cidade. Entrei em um bairro de casas e andei alguns quilômetros até encontrar uma casa famíliar para mim, estacionei o carro de qualquer jeito e entrei na casa lembrando que havia uma chave reserva embaixo do tapete da entrada.

Quando a porta abriu eu entrei um pouco desconfiada, a casa tinha uma baixa iluminação e era organizada e bem limpa. Fechei a porta e caminhei pela sala com uma televisão grande, sofá moderno e uma fileira de porta-retratos em uma armário pequeno. Eu estava em todas elas, algumas com um senhor e uma senhora que pareciam comigo e uma única de um homem e uma mulher que carregavam um bebê, outras eu estava com o homem da minha lembrança mais recente e de fato havia várias com ele e tinha uma em si que me chamou bastante atenção. Eu estava fardada como xerife e junto a mim ainda haviam mais dez pessoas na foto, nós seguravamos um certificado enorme que dizia "honra".

Talvez eu fosse policial, mas por que não consigo me lembrar de algum momento da minha profissão?

Deixei os retratos ali e explorei o resto da casa, adentrei na cozinha notando que tudo parecia em ordem e segui para o segundo andar. A casa não era grande pois havia apenas mais três cômodos no andar de cima, um banheiro e dois quartos um vazio e outro mobiliado. Me sentei na cama e tentei lembrar de qualquer coisa, mas nada vinha então abri o guarda roupa e peguei uma calça e uma camisa padrão branca, a toalha e segui para o banheiro.

Eu sentia que precisava de um banho por isso me senti a vontade para trocar de roupa e molhar meus cabelos. Assim que terminei eu saí com vestimentas melhores e cabelos úmidos enquanto eu fazia questão de esfregar a toalha para seca-los.

Enquanto eu penteava o cabelo, senti meu estômago roncar avisando que eu precisava comer alguma coisa. Sendo assim, desci até a cozinha e vasculhei os armários procurando por alguma coisa apetitoso para comer e preencher o vazio da minha barriga. Preparei um ramen com legumes e me servi, eu tinha a sensação deliciosa do gosto do macarrão, do tempero e dos legumes, para mim aquele ramen era o melhor de todos os tempos pois eu não conseguia me lembrar de nenhuma outra sensação em relação a comida.

Assim que terminei eu lavei a louça e me permitir sentar no sofá e pensar um pouco em como eu faria daqui pra frente, eu sabia que eu não viveria aqui para sempre embora eu me sentisse a vontade, eu tinha que sair por aí e encontrar ajuda ou algo do tipo mesmo que isso parecesse ser a coisa mais idiota a se fazer. Mas eu me sentia perdida e sozinha e eu queria ter alguém, eu também gostaria de encontrar o homem das minhas lembranças, talvez eu fosse idiota por isso pois talvez eu estivesse atrás de alguém que tecnicamente estaria morto e que eu não conheço e conheço.

Referências: The Walking Dead
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APOCALIPSE, A EXTINÇÃO - JENLISA, G!PWhere stories live. Discover now