VALENTINA

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Eu acordei atrasada, porque infelizmente o meu celular não despertou. Iria levar umas duas horas, para chegar ao meu estágio e pelo tempo necessário até lá, não ia ter como chegar no horário. Pulo da cama no susto assim que me dou conta da hora. Ontem demorei muito a dormir depois de ter aceitado a carona da estúpida da Valentina. Além dela ter dirigido feito uma louca ainda teve a cara de pau de me dizer que iríamos nos casar um dia. Olha até parece que eu faria uma loucura dessas. Ela realmente acha que só porque é bonita, rica e todas as meninas da faculdade se jogam aos pés dela, eu vou fazer o mesmo. Sonha, Valentina.

Contrariada eu demorei muito a dormir e mesmo tomando banho o cheiro dela, quase não saiu. Sério! Parecia que tinha empregnado na minha pele. Nas roupas nem se fala. Também, vim agarrada nela como se minha alma estivesse prestes a sair do meu corpo do tanto que ela correu. Juro, que fazia de propósito, pois deixava pra freiar bem em cima dos sinais.

Uma das coisas que mais me irritavam nela, junto com a vontade que ela tinha de me contrariar era esse jeito convencido de quem sabe que é a dona do mundo. Já eu sempre fui muito tímida, mas nunca deixei de me posicionar e nem lutar pelas coisas, que eu queria.

A estúpida estava no antepenúltimo semestre. Praticamente todo mundo da faculdade conhecia ela, não só porque era de uma família muito rica, mas também porque a mãe dela era Catarina Albuquerque. Tinha um escritório famoso de advocacia e era muito renomada na área. Todo mundo falava o quanto ela era conhecida por consegui ganhar os casos mais improváveis. Certeza Valentina tinha herdado toda presunção da mãe. Além dela e do Igor serem os reizinhos das melhores festas.

Assim que tomei banho corri até o ponto de ônibus e como previsto em duas horas e meia cheguei no estágio. Ia ser um dia longo e teria que ir direto da faculdade até lá. Às vezes durante a semana, eu conseguia voltar em casa e tomar banho, mas na maior parte do tempo tinha que fazer isso na faculdade. E para piorar tava sempre contando os centavos para poder jantar.

Cheguei lá às 18h e minha aula começava às 19h. Logo fui ao banheiro, para poder tomar um banho, quando estou me vestindo ouço Sarah e Leila conversando. Reconheci as duas pelas vozes. A Sarah, era super chata e inconveniente, eu detestava que ela tivesse o mesmo nome da minha irmã, que era um doce de menina. Já a Leila era super gente boa, o que me fazia não entender como elas acabaram sendo amigas. Ambas faziam direito comigo.

_ Então, eu juro que não entendi o bolo, que ela me deu ontem. Tava tudo certo para passar lá em Casa. Mas sumiu do nada, ficou sem atender o telefone e do nada hoje disse que acabou esquecendo.

_ Sarah, eu juro que se fosse você eu desencanava. Não sabe como a Valentina é.

Espera, Valentina? Elas estavam falando da estúpida e de um bolo, que ela tinha dado. Logo percebi, que ela não tinha ido, porque me levou até em casa.

_ É que não dá para entender. Num minuto, ela parece tá muito afim e do nada some.

_ Mas vocês já ficaram alguma vez né?

_ Sim. A gente transou uma vez e foi o melhor sexo da minha vida.

_ Não exagera, que você já rodou meio mundo nessa faculdade, Sarah.

_ Mas eu juro. Por isso mesmo. De homem a mulher, que eu já peguei. Ninguém me deu tanto prazer quanto a Valentina. É uma coisa de louco, sério. Eu tive dois orgasmos, que num deles eu juro que pensei, que ia de comes e bebes.

_ Do jeito que você fala até atiça a curiosidade. A gente acaba querendo pagar para ver.

_ Só tem uma coisa que me incomodou.

_ O que?

_ É o desapego que ela tem, sabe. Já tinham me falado isso. Ela te leva a loucura, mas não cria laços, intimidade. Até hoje não ouvi de uma só mulher, que tenha dormido com a Valentina, que ela tenha feito uma conchinha ou que tenha tido algo mais íntimo, Leila.

_ Como se sexo não fosse íntimo. Mas acho que entendi. Todo mundo sabe que a Valentina conquista e depois descarta e quem cai não é inocente. A verdade é que todas às mulheres se jogam sabendo ou sonham que com elas vai ser diferente.

As duas saem e eu fico pensando justo no que a Leila disse: "a gente fica até querendo pagar para ver". Ai credo, Luiza. Era só o que me faltava ficar imaginando como essa estúpida é na cama, até parece. A verdade é que a desgraçada era linda e tinha uns olhos, que eram difíceis de esquecer. A Valentina era toda convidativa e quando falava mancinho, dificilmente tinha alguma menina que resistia. Até hoje eu devo ser uma das poucas do meu curso, que são lésbicas, que ela não pegou. Talvez por isso vivia me cantando.

A Valentina e eu tínhamos um padrão. A gente brigava, ela me irritava e entre querer matá-la, ela tinha esse jeito desconcertante de me paquerar e jogar flertes aleatórios só para me desconcertar. E a verdade é que ela era tão incisiva e cara de pau, que acabava mexendo comigo. Mas eu jamais iria fazer parte da listinha de conquistas dela.

Me visto e quando estou prestes a sair do banheiro ouço Valentina e Cecília entrarem.

_ Me conta isso direito. Assaltada?

_ Sim e o pior que foi perto da minha casa, já no último sinal mesmo.

_ Mas você está bem Valentina? Não aconteceu nada mais grave?

_ Não. Eles só levaram meu celular e a mochila da faculdade. E por sorte não quiseram a moto. Imagina, se levassem minha mãe iria aproveitar essa situação, para me tirar de vez.

_ Mas me conta como é que você acabou de sair de um encontro com a Sarah, para acabar dando carona para a Luiza?

_ Oportunidade.

_ Claro, né. Já pegou a Sarah e a Luiza é terreno desconhecido.

_ A verdade é que eu fiquei preocupada com ela no ponto sozinha, sabe. E eu já disse para você que o lance com a Luiza é diferente.

_ Diferente, porque é a única que você vem há o que seis meses tentando pegar?

_ Não é isso. Se fosse qualquer outra garota, eu já teria desistido. O problema é que ela mexe comigo de um jeito que eu não sei explicar, sabe.

_ Aham sei. Mas vamos para aula que a gente já tá bem atrasada.

As duas saíram e eu fiquei tão absorta na conversa que nem me dei conta, que eu também estava atrasada. Enquanto eu andava às pressas duas coisas ecoavam na minha cabeça: Valentina tinha sido assaltada, porque tinha me dado carona e ela realmente gostava de mim???

A única para mimOnde histórias criam vida. Descubra agora