CAPÍTULO 16: Fugir do passado não é uma opção

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Quando você é jovem, eles deduzem que você não sabe nada
Cardigan,
Taylor Swift

...

Ella Rodrigues

Eu odeio não ter as coisas sobre controle. Definitivamente odeio.

Desde que aquele maldito blog apareceu na minha vida, as coisas coisas vêm piorando dentro dessa cidade. As pessoas enlouqueceram de vez! Todos evitam fazer escândalos para não serem vítimas do "alguém qualquer", mas nem isso funcionou, visto que o dono da página tem uma cede por vingança muito forte. Ou seja, se você tiver feito algo — nem que tenha acontecido a anos —, ele vai revelar.

E eu estarei a espreita.

Até agora, só houve uma única publicação envolvendo o meu nome, o que me assusta... Seja quem for, ele vai voltar com algo ainda maior. Sei que não sou a pessoa mais inocente de todas, já cometi muitos erros em nome da minha vitória pessoal. Ademais, mesmo que tais coisas tenham acontecido na surdina, possa ser que elas vazem a qualquer momento. Mas a pergunta que não quer calar é:

— Como ele poderia saber? — Sussuro, curvando a coluna para adquirir o ar que me faltava. — Estou realmente com falta de prática. — Brinco comigo mesma.

Cansaço é a palavra que define perfeitamente o que sinto. Fazia quase uma semana que a primavera havia começado, então aproveitei para retomar minhas corridas diárias. Apesar de ser magra geneticamente, não poderia deixar que o tempo driblasse isso. Se há algo que tenho como meta, é permanecer no mesmo corpo, uma obsessão na verdade. E sim, eu sei que isso é "maluquice", mas eu só não suporto a ideia de não ser mais perfeita.

Ergo-me novamente e olho ao redor a procura de Jason. Havíamos combinado de nos encontrar na praça da cidade — um lugar um tanto movimentado, mas que, segundo o guruzinho, não é cogitado pelos jovens de Sunset Ville. Repiro fundo não o encontrando.

— Se ele me deixar aqui sozinha, eu juro que arranco aquele cabelo... — Grunho em português, evitando que algum enxerido ouça minha indignação. Uma das vantagens de ser poliglota.

Então, para esperar a criatura, sento-me num dos bancos da praça e aumento o som da música do celular. Meus ouvidos quase estão sendo estourados pelo fone, mas não me importo. Eu só gosto de me sentir num outro plano, quando estou com eles. É reconfortante se imaginar numa realidade que não lhe pertence e agradeço mentalmente por Cardigan da Taylor estar fazendo isso.

Sopro uma lufada de ar e observo meio aérea o movimento do lugar. São realmente poucas pessoas que ficam aqui — a maioria sendo famílias ou crianças fugindo umas das outras numa brincadeira parecida com pega-pega. Sorrio meio nostálgica. Isso me lembrou a versão infantil da Isabella que sonhava em brincar com as outras crianças, mas era sempre impedida de tal, porque estas sentiam medo dos seguranças que me rondavam desde aquela época. Reviro os olhos cansada demais para afastar esses pensamentos.

— Se fosse só por isso... — Minha voz sai levemente triste por algo que gostaria de esquecer, mas é impossível.

Por mais que não goste de mencionar esse tipo de coisa, é inegável ignorar a sua existência. Cruzo os braços numa autodefesa imaginativa.

Poucas vezes durante minha infância, Antônio — nosso mordomo — convencia papai e me levava para brincar no parquinho que tinha no prédio, uma tentativa de me fazer sentir como uma criança normal. O que funcionava por algumas horas.

Porém, em um dos nossos passeios, eu senti pela primeira vez o que é ser negra no meio da classe alta... Não estou culpando todos os ricos do mundo, mas ignorar a existência de pessoas assim é ignorância.

Ela é Ella || ✔Donde viven las historias. Descúbrelo ahora