Encaro a Dra. Melina e seu sorriso amplo, que ostenta o quanto está contente com os meus últimos relatos, antes que o relógio na mesinha de centro apite, informando que a sessão acabou.
─── Obrigada por hoje, Melina. ─── levanto da poltrona e me inclino para pegar o meu celular enquanto ela desliga o alarme. ─── E desculpa o incômodo. O Eros insistiu que eu viesse.
─── Ele se preocupa com você, Clara. ─── ela sorri, apertando o meu ombro de leve. Um toque amigável no lugar do até mais. ─── Fico muito feliz de vê-lo entregue ao relacionamento, assim como você, provando que o amor não precisa envolver dor.
A fala me faz voltar alguns dias atrás, Eros deitado com a cabeça no meu colo, contando que ser traído pela namorada teve um peso que quase o esmagou, porque aquilo o lembrou do pai e de todas as vezes que o viu destruindo pessoas incríveis para viver novas aventuras. Como tinha medo de conter os meus impulsos cruéis, de simplesmente esquecer-se da sensação de amar de verdade e que, dessa maneira, a certeza de estar apaixonado se tornou uma confusão de questionamentos e incertezas.
─── Aliás, Clara. Eros estava mais animado na semana passada. ─── A Dra. Melina impede a minha saída. ─── Estão pensando em um próximo passo? Algo mais sério?
Arregalo os olhos pela menção séria que ela faz, mostrando o sorriso malicioso que só indica uma coisa: Filhos. Balanço a cabeça, negando. Somos muito novos no requisito namoro para pular para essa fase, e sinceramente, ainda me classifico como imatura e irresponsável para cuidar de miniaturas nossas por aí.
─── Nós vamos adotar um cachorro quando voltarmos da praia. ─── revelo e a alegria dela continua grudada no rosto.
─── Estou orgulhosa do crescimento... Como a sua amiga chama mesmo?
─── Cleros. ─── informo, rindo baixinho. ─── Acho que vai ser o nome do nosso cachorro.
─── Perfeito. ─── fala Melina, contente, abrindo a porta para mim e oferecendo um sorriso para Eros sentado no sofá de dois lugares da recepção. ─── Boas festas. E tome cuidado nessa viagem de moto, Eros.
─── Nunca colocaria a cunhada em risco. ─── ele diz se levantando e puxando o capacete consigo.
─── Para com isso. ─── o repreendo.
─── É. ─── concorda Melina. ─── A frase sempre soa um pouco talarica demais.
Eros bufa e revira os olhos, como se fosse crime impedi-lo de chamar a namorada de cunhada.
─── Diz pra ela que também te chamo de amor e omelete, Clara. ─── ele pede, mas o ignoro.
─── Boas festas, Melina! ─── exclamo, puxando-o pelo corredor bem iluminado.
Descemos a escada de mãos dadas, tilitando os capacetes um no outro com a nossa pressa. Sei que Eros está louco para cortar o caminho entre os carros, exibindo uma das vantagens que é pilotar uma moto ao invés de uma lataria lotada de conforto e segurança, mas não quero pegar engarrafamento. Quando chegamos no estacionamento, mesmo que tenha um sol de trinta e poucos graus no topo do céu, ele estende a jaqueta de couro para que eu coloque os braços.
─── Não acredito que me fez comparecer a uma sessão no dia trinta e um de dezembro. ─── falo, ajeitando a peça no corpo. ─── E que está me fazendo vestir uma jaqueta nesse calor de tostar.
─── E desde quando é ruim começar o ano com a saúde mental em dia? ─── ele puxa o zíper da minha jaqueta, fechando-a contra a minha vontade. Após entregar o capacete para mim, Eros veste a dele. ─── E o vento da serra pode te deixar doente, então para de reclamar. Eu estou cuidando de você.
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UMA GEMA PARA CLARA
RomanceAtualmente Clara Agostini se vê presa na casa dos vinte, sem grandes conquistas e um bom planejamento para o futuro, contudo, a maior preocupação da família está voltada para o fato de a garota não ter apresentado sequer um primeiro namorado; ela de...