Capítulo 2: Pirata

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— Me soltem! — João se debatia nos braços dos piratas que estavam parados no convés esperando a capitã.

— Pare de se mexer! — falou o segurando com mais força — Ei, eu conheço você — aproxima o rosto do de João, que afasta o olhando com os olhos arregalados.

— Não conhece, seu estranho — João responde rápido. — AI! — grita quando ele aperta o seu braço com mais força.

— Enrique — fala tentando chamar a atenção do amigo —, esse aqui não é aquele garoto lá? — o outro o olha confuso — Aquele que saiu na capa da revista da semana retrasada com a família? — volta a olhar João.

— A família Romania? — Enrique pergunta.

— Essa mesmo! — exclama — É você, não é? — pergunta a João.

— Não — João respondeu por impulso.

Se eles descobrirem que é ele, podem pedir resgate, mas, se os seus pais soubessem, eles surtariam, provavelmente colocariam a culpa toda em Pedro e o matariam. Além do mais, poderiam arrancar uma parte do seu corpo e mandar para os seus pais para pedir o resgate. As últimas coisas que João queria.

— É você sim — Enrique riu, logo soltando o braço direito de João e ficando à frente dele — Quanto você vale, aproximadamente? —  pergunta abaixando o olhar e olhando o outro nos olhos — Provavelmente muito mais do que esse colarzinho — ele fala e leva a sua mão para o colar no pescoço de João.

— Nem pense nisso — com o braço livre, João segurou com força o pulso de Enrique — se você ousar encostar nesse colar, eu te mato — falou o olhando no fundo dos olhos.

— Olha, o burguês é bravinho — falou sorrindo para João. — Vamos ver se você é tudo isso mesmo — ele direciona o seu olhar para o amigo — Solte-o.

— Tem certeza? — ele pergunta olhando para o amigo que assente em positivo — Tá bom — logo ele solta João, que o olha com dúvida — Boa sorte — ele fala baixinho em seu ouvido.

— Como assim "boa sorte"? — João pergunta olhando para Enrique — Você vai lutar comigo?

— Olha, tá com medo agora? — pergunta olhando debochado para João.

— Quê? Medo de você? — João o olha de cima a baixo — Nunca!

— Você deveria começar a medir as suas palavras — sorri.

— Vejo que já está se divertindo, Enrique — uma voz feminina chama a atenção de todos no recinto —, mas sinto lhe informar que não iremos lutar com ele — ela se aproxima de João. — Bom, pelo menos por ora.

João arregala os olhos.

— Muito prazer, eu sou a Capitã Malu — ela se apresenta, sorrindo tão generosa que, se João não estivesse ali à força, acreditaria que ela era uma pessoa boa —, bem vindo à tripulação.

— Como assim, comandante Malu? — João pergunta a olhando com dúvida.

— Seu suposto namorado matou o meu irmão, que fazia parte da tripulação. Como você era uma pessoa importante para o — pausou, tentando lembrar o nome — Pedro, eu te peguei para mim, para que ele sinta o mesmo que senti quando ele matou meu irmão — ela sorriu falsamente. Você irá aprender a saquear, lutar e a limpar o convés… Qualquer coisa que você fizer errado, a gente te mata, corta um pedaço do seu pau e manda para o Pedro para ele ficar ciente de sua morte — ela disse simplista, como se aquilo não fosse nada.

— Que maravilha — João sussurra irônico.

— Realmente, bom podem voltar ao trabalho, marujos! — Malu ordena e todos voltam aos seus postos — E eu quero falar com você, me siga — ela fala saindo do convés e indo para a cabine.

João olha em volta assustado, mas logo a segue. Quando ele entra na cabine, a vê secando algumas lágrimas, mas ela disfarça.

— Vou falar as tarefas que você vai fazer e também… — João se colocou na frente dela e a viu chorando.

— Ei, tá tudo bem? — pergunta colocando a mão no ombro de Malu, que levanta o olhar o olhando assustada.

— "Tudo bem"? — ela pergunta incrédula — Meu irmão acabou de morrer! Ele era a única família que eu tinha! — ela se afasta de João e começa a andar em círculos — E agora eu estou aqui com um estranho falando da minha vida com ele! — solta um suspiro triste.

— Eu e você perdemos pessoas importantes hoje, então eu sei, sim, pelo que você está passando — João fala com algumas lágrimas nos olhos. — Acabei de me afastar, possivelmente para sempre, da única pessoa que amei de verdade em toda a minha vida! — ele já chorava.

— Sabe o quão irônico é ouvir isso? A única pessoa que você "amou de verdade"? — zoa — Você tem tudo! A sua família é rica e você provavelmente nunca vai precisar trabalhar! Sua mãe, seu pai e suas irmãs estão vivas! Eu não tenho mais ninguém — fala se jogando na cadeira —, eu só tinha o Lucas — fala voltando a chorar.

— Malu — João fala se aproximando dela —, eu não estou desmerecendo a sua dor, mas a minha vida não é perfeita só porque sou rico — ri tristemente. — Eu só era eu mesmo com o Pedro, ele era o único não me julgava e não cobrava nada de mim, eu não só o perdi como também me perdi — João se ajeita no chão e abraça a Malu. — Nós dois perdemos pessoas importantes hoje, você tem a sua tripulação para te ajudar também.

— Não tenho, João! — ela abraça João com força — Eu não posso chorar na frente deles! Eu sou a capitã, tenho que mostrar força, coragem e confortar todos eles! — se afasta e olha João nos olhos — Você só podia ser você mesmo com o Pedro e eu com o Lucas — solta um sorriso triste.

— Então vamos fazer o seguinte —João se ajeita no chão e a olha —: vamos ser sinceros pelo menos um com o outro. Sempre que estiver alguma coisa errada, que você queira chorar ou qualquer coisa, a gente desabafa um com o outro. Tudo bem?

— Tudo bem — ela responde e o olha.

Ficaram por horas dentro da cabine, conversavam, riam, choravam e bebiam um pouco. Ao exato beberam o total de uma garrafa e meia de rum cada um.

— Pensava que ser pirata era uma coisa libertadora — João desabafa dando mais um gole em sua bebida.

— Às vezes é — Malu fala olhando para sua garrafa que estava quase vazia. — Se você não é capitão, que no caso eu sou… — termina de beber.

— Por que pirataria? — João pergunta a olhando.

— Minha mãe tinha uma doença e o tratamento era muito caro — fala abrindo outra garrafa —, então eu comecei a saquear. Mas o tempo passava e eu não conseguia o dinheiro, a minha mãe morreu e eu fiquei procurada — dá um gole na garrafa nova. — Certa noite a polícia bateu à porta, desesperada eu fugi com o meu irmão e fomos para um navio, na hora descobrimos que era um navio pirata. Lá eles cuidaram de mim e do Lucas, desde que eu tinha 8 anos e ele 4 — solta uma risada. — Um tempo atrás o capitão morreu e deixou o navio comigo — terminou, dando uma enorme golada.

— Espera — João para para pensar —, quantos anos você tem?

— Não te ensinaram que é errado perguntar a uma dama a idade dela? — pergunta o olhando sorrindo.

— Mas você é uma pirata — João responde rindo

— Touché! — ela responde sorrindo — Tenho 18 anos, vou fazer 19 — ela o olha. — Não é errado uma criança beber tanto? Você não tem só 17 anos?

— Sim — João responde rindo —, mas o que é uma gota pra quem tá encharcado? Além do mais, eu vou fazer 18 anos daqui a algumas semanas.

— O Pedro tem quantos anos? — Malu pergunta apoiando a cabeça no ombro de João.

— Ele fez 18 esse ano —fala dando outra golada no rum —, e o Lucas? Tinha só 14?

— Sim, ele ia fazer 15 mês que vem — ela dá mais uma golada.

— Sinto muito, de verdade — ele abaixa o olhar para Malu.

— Eu também sinto por você — fala fechando os olhos e se aconchegando melhor no ombro de seu possível novo amigo.

Capítulo revisado pela Sofi.

My Dear Pirate | PejãoWhere stories live. Discover now