dois

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Helô desistiu várias vezes de voltar para o brasil no meio tempo que teve até a viagem. Precisou colocar a cabeça no lugar muitas vezes para conseguir pensar com clareza. Yone observava a inquietude da amiga de longe.

Helô estava em um impasse que nunca pensou que estaria. Em qual momento a incerteza, e até mesmo o amor, ficou acima do seu trabalho?

Foi um caminho árduo até ela chegar onde estava, e estava sendo também, o caminho até onde queria chegar.

Helô era incansável, odiava conformidade, marasmo, mesmice. Helô era um furacão.

Mas a verdade era que a delegada já não se sentia mais como ela mesma há muito tempo, e tudo isso só veio para confirmar o que ela já sabia desde o primeiro ano na cidade: Foi estupidez vir à Nova Iorque.

Foi um impulso impensável, embora necessário.

Em três anos longe do que julgava sua vida, Helô se sentiu como em uma reabilitação. Cresceu, aprendeu, mas ainda não estava confortável em casa.

Amava a cidade, amava as oportunidades que a cidade lhe ofereceu e como ela a acolheu, mas não tinha sentido. Não mais.

Helô queria voltar, precisava voltar, mas alguma coisa a impedia, e ela não sabia nomear.

"Mas, Helô, você não quer ir ou está com medo?" Perguntou a amiga, tentando aquietar Helô.

Helô parou. Percebeu que, desde a conversa com Lais, sua vida estava sendo feita de pausas. Tinha que parar para respirar, parar para não pensar em Stênio, parar para lidar com a sensação que era passar para a federal. Parar para pensar em Marcelo. Parar. O que nunca era possível na vida agitada da delegada.

Ela nunca pensou na palavra "'medo", nunca atribuiu esse espaço vazio que ela não sabia nomear, a medo. A última vez que ela sentiu medo foi quando chegou em nova iorque. Era medo? Era medo o que estava sentindo?

Com certeza não, ela pensou. Heloísa Sampaio não sentia medo.

"Que medo o que? mané medo, Yone." Ela disse veementemente, como se tivesse certeza do que estivesse falando. Afinal, Helô sempre foi expert em lidar com tudo como se estivesse tudo bem, mesmo e quando não estava. "Só não sei se estou preparada para ver Stênio de novo. Impressionante, né? Tem certas pessoas que a gente não consegue tirar da vida da gente. A gente joga fora, joga pra lá, arranca da tomada, mas de certa forma elas estão sempre retornando pra nossa vida." Desabafou a delagada fazendo a amiga rir.

A ida dela para o Brasil não era sobre Stênio, mas atribuía o Brasil a ele. E pensar na federal e não pensar em Stênio era quase impossível, visto que foi ele quem caminhou com ela por tantos anos, mas ela sabia que precisaria desvencilhar uma coisa da outra. Ser delegada federal era o seu sonho em realização, Stênio não fazia mais parte de sua vida.

"Helo, às vezes chamamos isso de amor."

"Yone, por favor." Ela bufou enfiando as roupas na mala de forma mais bruta. "Me ajuda aqui, vai."


ATUALMENTE


"Mãe, já que meu pai saiu com a Ateninha e ainda não voltou, vamos jantar lá no Ginger Mamut?" Sugeriu Drika.

"Acho que não tenho opção." Helo declarou recebendo uma cara feia da filha.

"Credo, mãe." Repreende Drika.

Helô sorriu para a filha e foi até o quarto se arrumar. A relação que Helô tinha com a filha sempre foi uma parceria muito bonita. Desde quando soube que estava grávida de Drika, Helô fez vários juramentos de mãe de primeira viagem, e se orgulhava de ter cumprido todos. Drika era sua vida, sua amiga, tudo o que sempre sonhou em ter. Para a delegada, Drika era a personificação de todos os seus sonhos.

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