Lentamente - Yizhan

Capítulo 7 - Machucados

– Ele disse a você: "E quem disse que eu superei?".

Yibo assentiu e Lia suspirou. Era domingo, Yibo tinha ido à inauguração do bar na sexta à noite, sozinho. Ele sabia que o primo não queria ir, mas era tão difícil assim? Eles estavam se dando bem e Zhan não parecia ter nada que o impedisse, nenhum compromisso no sábado pela manhã, nenhuma namorada... A não ser, Lia. Ele se pegou pensando no que o primo tinha dito uma vez e quando se deu conta, já estava falando sobre isso com ela.

Os dois estavam no que seria "a grande aula de culinária básica de Yibo". Zhan tinha achado a ideia incrível porque até que seu primo pegasse o jeito, todos os pratos eram feitos por Lia e ele amava o tempero da melhor amiga. Ele estava inspecionando a curagem dos queijos enquanto a dupla de chefs entrava em ação na cozinha da casa.

Yibo estava cortando tomates enquanto Lia picava as cebolas. Eles tinham se aproximado bastante nos últimos tempos. A admiração e carinho de Yibo por Lia só aumentou ao ouvir as histórias dela no hospital. Ao mesmo tempo, a relação da enfermeira com Zhan ainda era nebulosa e isso passou a incomodá-lo. Talvez porque não aguentava mais ver o primo preso nesse relacionamento difuso.

– Eu não sou um monstro, Yibo. Eu sei dos sentimentos dele, mas... – Lia parou de cortar as cebolas e olhou pra ele – eu o amo também. Muito. Só que como amigo, irmão. E eu sou egoísta o bastante para não me afastar de alguém que eu amo desse jeito. Além disso, ele nunca realmente mostrou insatisfação ou incômodo por eu estar por perto.

– Você não me deve explicações, Lia. Eu conheço vocês dois há pouco tempo, mas se as coisas são do jeito que você disse... Xiao Zhan não parece ser do tipo que demonstra amor, raiva ou qualquer outro sentimento muito bem.

Yibo tinha lembrado do dia em que a "raiva" do mais velho foi solta numa torrente de lágrimas após Yibo ter vomitado o problema real entre eles. Zhan estava de luto e o fazendeiro não pareceu lidar muito bem com isso e a chegada de Yibo ao mesmo tempo.

Eles eram primos, mas estranhos um para o outro. A única pessoa que os ligava estava a sete palmos do chão e isso impactava a ambos de formas diferentes. Yibo queria respostas para o presente e futuro. Zhan só queria voltar ao passado, antes de tudo mudar.

Yibo colocou o tomate que tinha cortado numa panela. Enquanto isso, Lia marejava os olhos, fato que ela atribuiu à cebola, mas se Yibo a conhecesse, saberia que ela nunca chorou por causa de cebolas antes.

Mais tarde, no estábulo, Lia conversava com Zhan enquanto ele alimentava os cavalos.

– Eu sei que faz pouco tempo, mas agora que Yibo está aqui, vocês dois poderiam ir à cidade para se divertir. Eu ouvi que o Haikuan abriu um bar e tem música ao vivo toda sexta-feira.

– Yibo reclamou da minha hospitalidade pra você?

– Não, não. Yibo é ótimo! Dê uma chance a ele, sim?

Lia não queria provocar mais discórdia, pelo contrário, queria que Zhan vivesse mais. Ela se acostumou a vê-lo sempre ali na fazenda, mas seu amigo só tinha 30 anos. Talvez agora com Yibo ele pudesse sair mais e conhecer outra pessoa. Alguém que fizesse seu coração bater mais forte.

– Ok, ok. Se você está me pedindo, eu farei um esforço. Embora eu ache que nós dois somos muito diferentes. Ele é... Explícito em tudo. Se acha ruim, se acha bom e não tem filtro pra nada. Não parece ter vergonha de nada também. Nem do fato dele ter sido expulso de casa e preso. Como se fosse algo para se orgulhar.

– Talvez seja bom dizer o que realmente sentimos. Não mascarar quando é algo que pode nos sufocar...

Zhan engoliu em seco, mas não falou nada.