• Capítulo 26 •

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    A vida era imprevisível. O controle era total ilusão dos seres humanos que teimavam achar que sabiam de tudo, que podiam prever tudo. Mas o “tudo” estava em constante mudança, em constante amadurecimento, e, muitas vezes, toda essa imprevisibilidade era demais. Nós nos sentíamos pequenos, impotentes.

    Mas a vida era pra ser assim; cheia de inconstâncias, movimentos e incertezas. Não era essa a graça?

    Maraisa passou exaustivamente as mãos pelo rosto até os cabelos e suspirou, encarando a vista que a varanda enorme do seu quarto proporcionava. Cobriu a boca com as mãos e fechou os olhos por um momento.

    Ela achou que o dia seria interessante; novos ares, novos acontecimentos... Achou que fosse ser um dia leve, previu que fosse ser um dia leve. Mas o devaneio de previsibilidade era autossabotagem, e Maraisa estava aprendendo isso.

    Um único acontecimento de relativamente pouca duração, mas que na hora pareceu uma eternidade, foi suficiente para que Maraisa se retraisse e voltasse a sentir o peso rotineiro sobre ela, como diversas bigornas soltas sobre suas costas. Era só um de vários que Maraisa enfrentaria nesse quesito? Quantas mais pessoas chegariam apontando o dedo em sua cara, acusando-a do que não fez, ameaçando-a? Quem acreditaria nela?

    Enquanto isso, no quarto ao lado – o de Maiara –, Marilia estava sentada na beira da cama enquanto observava a cunhada andar de uma ponta do quarto à outra, apenas esperando dar um tempo razoável para que pudesse ir atrás da irmã. Marilia estava mais calma, a raiva um pouco mais controlada, e se deitou no colchão espalhando seus cabelos.

    — Eu preciso falar com você — disse, em um tom pouco mais alto que um sussurro.

    Maiara parou de andar e olhou pra ela alarmada.

    — Mais bomba?!

    Marília virou o rosto pra ela, pra pilha de nervosismo que a melhor amiga estava.

    — Senta, Maiara — deu umas batidinhas no colchão. — Vai fazer um buraco no chão? Você está muito nervosa.

    — Será que ela tá bem? Não deu hora de ir até lá ainda? — Maiara passou as mãos pelo cabelo.

    — Desacelera, nanica. Você conhece sua irmã, ela não fala com ninguém até ter um espaço. A gente vai lá daqui a pouquinho.

    Maiara suspirou e deixou o peso do seu corpo cair sobre a cama, se rendendo.

    — E você, hein? O que tá rolando? Tá meio estranha... Está tudo bem? O que disse que quer me falar? — indagou tudo de uma vez.

    Marilia voltou a se sentar, as mãos cruzadas no colo.

     — Eu tô bem, eu só tô...

    Maiara esperou, mas Marilia não finalizou sua fala então a ruiva pronunciou-se:

    — O que que tá rolando? — repetiu.

    Tudo, Marilia pensou. Levou um tempo para cogitar todos os caminhos que a pergunta poderia levar, mas decidiu falar logo antes que sua cabeça explodisse por excesso de pensamentos;

    — Você acha que a Maraisa é a mesma pessoa? — disse, preferindo ser direta.

    Maiara olhou pra Marilia como se ela tivesse criado asas bem diante dela.

    — Ahn? Como assim?

    Marília começou e interrompeu a própria fala, suspirando, e então continuou:

Jogo da PaixãoWhere stories live. Discover now