Capítulo 4: A rainha da sala de TV

46 7 89
                                    


Após o frustrado dia na escola de magia, Katerina retornou ao Orfanato St. Prieva. Ela se encontrava muito triste, arrastando sua mochila pelos degraus acima. Já que era meio-dia, intervalo de almoço, muitas meninas vieram recepcioná-la na entrada.

"Como foi na Academia de Magos?", "Deu tudo certo?", "Aprendeu alguma mágica?", elas perguntavam. A garota apenas sorria e passava por elas alegando estar com fome. E, de fato, estava. Ainda com a roupa de maga, foi ao refeitório, atraindo a atenção de todos. Falou com seu amigo cozinheiro e pediu que enchesse a bandeja com todo tipo de alimentos que estavam disponíveis.

Como de praxe, Grieska foi de encontro a ela na mesa do refeitório, mas antes mesmo que a loira abrisse a boca, Katerina disse:

— Você estava certa sobre a academia de magos. Eles não são prestativos com seres não-mágicos. Assim que souberam que não tenho arcano, me recusaram — confessou, enquanto comia vagarosamente o prato de arroz.

— Pobre Kat... — disse Grieska, sentando-se ao lado dela. — Não ligue para isso. Como eu disse, eles são uns babacas. Não te merecem.

— Não precisa se preocupar. Eu ainda não desisti, Gri. Não é porque eles não querem me ensinar, que eu não possa aprender — ela sempre tentava ser positiva nas coisas.

— Tem certeza? — perguntou a amiga, apresentando certo receio.

— Sim... — ela ponderava. — Esse sempre foi meu sonho... Eu sinto que a magia faz parte de mim. Mesmo não possuindo nenhum indício mágico, eu me sinto tão bem quando leio sobre o assunto, vejo filmes... Me lembro de, quando mais nova, eu brincar com as meninas fingindo que eu tinha poderes.

— Eu lembro disso... — Grieska riu.

— Eu sempre me imaginei como uma Maga da Água. Por algum motivo, esse era meu arcano favorito... — ela se lembrou. Sentia alguma nostalgia em meio ao dia frustrante.

— Na verdade, eu sempre te vi como uma Maga do Trovão. Ou do fogo — comentou Grieska.

— Por que não os dois? — Katerina retrucou, mais animada. — Ou os três. Água, fogo e trovão!

— Agora você está viajando demais... Nunca ouvi falar de magos com mais de um arcano. Esse lance é tipo aptidão, sabe? Você nasce com isso.

— E eu não nasci com nenhum... — Katerina se lembrou de repente, de modo que algo embrulhou no seu estômago. Ela parou por um momento, depois voltou a apanhar mais comida com o garfo e a mastigar. Fazendo isso algumas vezes rápido podia evitar as lágrimas que ameaçavam escorrer.

— Eu sei que você está comendo para não chorar — interveio Grieska, tocando no braço dela. — Vamos voltar àquele assunto. Você acha que pode aprender magia sozinha? Como pretende fazer?

— Eu ainda não sei... — disse ela. Depois de mastigar, engoliu tudo de uma vez. — Eu ainda não sei, Gri... — ela a olhou com olhos brilhantes, tremeliu os lábios, depois se rendeu ao choro, desabando aos braços da amiga.

— Calma, calma... Eu sei que você é forte — a loira consolava, enquanto todas as meninas que faziam suas refeições nas mesas pensavam porque aquela aluada vestida de mago chorava sem parar.

*

De noite, todas as atividades do orfanato haviam acabado. Após o banho, Katerina se encaminhou para a área de recreação. Um quarto amplo, com um armário repleto de jogos de tabuleiro — Katerina gostava bastante deles —; um cavalinho de madeira — esse era de criança —; e o principal: uma televisão antiga enorme. Haviam vários puffs espalhados. As garotas fechavam as cortinas do local e acendiam os vários abajures espalhados, fazendo com que a sala ganhasse tonalidades coloridas, sobressaindo-se o tom de vermelho. Uma supervisora da escola ficava ali no canto, lendo seus livros. Sempre havia um momento em que ela caía no sono. Era quando as meninas tiravam os filmes infantis e assistiam os de romance.

Katerina, A Sonhadora Maga do CaosOnde histórias criam vida. Descubra agora