Capítulo 16: Katerina, o espírito guerreiro

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Com o canto espalhafatoso do galo Godofredo, sob o primeiro raiar de sol, Katerina acordou assustada, erguendo o corpo rapidamente e acertando a cabeça nos caibros do teto da casa.

— A-iii!

Não era a primeira vez que aquilo acontecia. Ela levou a mão à testa, esfregando a área dolorida. Certificou a si mesma de que depois pediria a Caveirudo para dormir na cama de solteiro abandonada do outro lado do cômodo, pois começava a se irritar com a beliche. O calombo criado em sua cabeça não seria motivo para tirar seu contentamento, todavia. No dia anterior, ela tivera a experiência de desfrutar de um pouco de diversão com Grieska, Biscoito e seu mestre Caveirudo, o esquisitão.

Ela não estava confinada, nem presa numa rotina massante. Tinha a oportunidade de se divertir também.

Passou a entender que não devia ser tão competitiva, nem ansiosa, pois essas caraterísticas eram pertinentes àqueles magos de Maystar. A filosofia de Caveirudo sobre a Magia do Caos pressupunha sabedoria e ponderação. Ela dizia a si mesma que podia lidar com isso.

A garota foi depressa tirar seu pijama rosa, vestindo em sequência sua fantasia de maga. Depois respirou bem fundo e partiu com semblante erguido para mais um dia de treinamento. Estava pronta para pegar pesado.

A caminho da arena, passou pelo gramado entre as galinhas e os pintinhos. Kiwi estava por ali. A garota queria muito pegá-lo e apertá-lo, mas tinha medo de Godofredo, que observava do alto do poleiro toda sua prole e suas esposas galinhas. Quando Katerina chegou à arena, não viu seu mestre no recanto de meditação, onde sempre o encontrava; ao invés disso, avistou-o de pé, com seu traje-armadura e sua capa roxa, com o grande livro dos arcanos preso a cintura, cabelos brancos esvoaçantes ao vento.

"Como pode?! O cabelo dele é mais bonito que o meu", pensou Katerina.

Apesar da idade, o mago tinha um rosto jovem, pois era possuidor do arcano da morte, arcano qual capacitava absorver a confluência arcana de seus oponentes e adicionar a si mesmo, fortalecendo saúde e aumentando os anos de vida. Embora isso tenha acontecido um dia, Caveirudo não era mais essa pessoa. De algum modo, tornara-se alguém gentil, que sempre se preocupava em fazer boas refeições e ser um bom anfitrião. Nem mesmo quando era mais inocente perante o mundo dos magos, Katerina imaginou ter tal recepção de um grande mago.

— Está pronta? — perguntou o mago de longos cabelos brancos.

— Estou sim — respondeu Katerina, animada.

Para surpresa dos dois, Biscoito apareceu por ali. Grieska devia estar dormindo. Sob um sinal de Caveirudo, Biscoito foi ao canto da arena e se sentou no tronco de madeira caído sobre a terra; de onde passou a observá-los com muito interesse.

Então, Caveirudo iniciou a aula:

— Como eu havia dito antes, o verdadeiro início na magia não está em aprender conjurar bolas de fogo, mas sim no controle das emoções. Eu tenho certeza que você aprendeu a respeito. Estou certo?

Sim, ele estava certo. Katerina finalmente sabia. A torre dos magos era alta e distante; nem todos podiam tocar. O mundo era injusto, nada harmonioso; e cabia a ela fazer sua parte na balança do mundo. Poderia usar a Magia do Caos para literalmente causar um caos, mas tinha aprendido com Caveirudo que até mesmo o caos podia participar na gestão do equilíbrio das coisas. Por fim, ela não poderia se esquecer de algo muito importante: seus amigos. Por algum motivo, a magia tendia a elevar o ego, facilmente corrompendo a pessoa mais pura.

— Sim, mestre. Eu sei de todas essas coisas agora. — A garota ainda estranhava ter que chamá-lo pelo título, mesmo que Caveirudo nunca tenha cobrado. Após as últimas experiências, no entanto, ela sentia ânimo por aprender mais com seus ensinos.

Katerina, A Sonhadora Maga do CaosOnde histórias criam vida. Descubra agora