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 Pela primeira vez Kaipa estava se perguntando o que diabos ele estava fazendo de sua vida.

Um homem de terno cinza, bem passado e alinhado, estava sentado na frente dele enquanto encarava papéis espalhados sobre sua mesa. Kaipa contava sua própria respiração tentando desviar os próprios pensamentos do que realmente importava. "Acho que você devia pensar melhor nisso." A voz de Alan, o consultor de empréstimos do banco, soou rouca e carregada de emoções que Kaipa não podia entender. Eles apenas ficaram em silêncio durante um tempo. Alan parecia não ter pressa em obter uma resposta de Kaipa e o rapaz sentiu sua garganta se apertar com o gesto.

O fato era que Kaipa estava ali, mais uma vez, para ajudar tio Jim. Jim, o homem por quem esteve apaixonado há tanto tempo que mal podia se lembrar quando isso começou. Kaipa precisava provar a Jim de que ele era suficiente, de que ele era necessário e de que apenas ele podia ajudá-lo de verdade. Mas Kaipa se lembrava nitidamente do sorriso de Jim quando estava com Wen. Seu peito doía. Jim nunca tinha sorrido assim pra ele, como se tivesse apaixonado, como se Kaipa fosse seu sol.

Não importava o que Kaipa fizesse, e ele fazia muito, Jim nunca parecia olhar pra ele como algo mais do que um irmãozinho. Ele detestava isso, mas estar lá para Jim era a única coisa que Kaipa conhecia e ele continuaria fazendo com a esperança de que um dia Jim sentisse seu coração bater mais forte por ele.

— Por que eu deveria pensar melhor? - Kaipa interrompeu seus pensamentos e ergueu os olhos para Alan.

O homem o olhou de volta, seus olhos levemente arregalados o encarava quase como se estivesse assustado com sua pergunta. Ele apertou os lábios um contra o outro e Kaipa pôde ver como ele travava uma luta para manter suas emoções sob controle. Alan retirou os óculos e o posicionou em cima dos livros empilhados na mesa.

— Você vai fazer isso por ele, não vai? - A voz de Alan era baixa. Kaipa pensou ter ouvido errado.

— O que?

— Jim. Você está fazendo isso por ele, não é? - Alan precisou desviar os olhos, ele sabia a resposta. Ele sabia quem era Kaipa.

Alan se lembrava nitidamente do dia em que confrontou Wen sobre sua relação com Jim. Apesar de estar com os nervos alterados, a gravata rasgada entre os dedos apertados com força e o choro estrangulando a garganta, Alan não pôde deixar de perceber o rapaz que parecia estar congelado do outro lado da calçada. As vozes de Jim e Wen se consolando dentro do restaurante mal podiam alcançar os ouvidos de Alan, não quando ele encarava seu próprio reflexo.

Um menino baixinho e esguio chorava miseravelmente enquanto encarava a cena à sua frente. Ele apertava as alças de uma sacola com força, seus ombros tremiam e o ranho misturava as lágrimas tornando seu rosto bonito uma grande bagunça. Apesar de não estar em uma situação melhor que a dele, Alan precisou se controlar para não ir até lá consolar o rapaz.

Até porque, o que ele diria?

Aquela cena não deixou sua mente por dias a fio. Imagine a surpresa que teve quando viu, sobre sua mesa, um pedido de consultoria justamente para aquele rapaz?

Kaipa.

Alan achava que esse nome combinava com ele. Ele assentiu para si mesmo e precisou de um tempo no banheiro, as imagens daquela noite flutuando por trás de seus olhos enquanto ele respirava uma e outra vez, tentando manter longe a dor de não ter Wen ao seu lado. Ele precisaria ser forte para encarar seu reflexo preso naquela sala. Não o reflexo de um espelho, que só mostrava o que ele se deixava ver, mas um reflexo real. A imagem de quem ele era, pouco a pouco se tornando em quem ele é.

Waiting for loveUnde poveștirile trăiesc. Descoperă acum