5❜ Heart to Heart, 1978

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"Se sobrevivermos à Grande Guerra." 

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  O corpo de Barty doía. Seu olhos tinham manchas, machucadas como violetas. Seus dedos estavam cortados e ele certamente não esqueceria como seu pescoço estava doendo, e na pior porém mais provável das hipóteses, estaria vermelho. ─ Otários eram aqueles que haviam o castigado fisicamente, e não parado nem mesmo no instante em que seus mais dolorosos gemidos se transformaram em um silêncio tremendo, coberto por espasmos de dor no chão frio e vazio daquela enorme mansão onde só se habitavam os fantasmas e os tolos.

  E tudo isso porque ele se recusou a praticar uma maldição imperdoável contra um coelho. Ele realmente não faria isso, e mesmo se quisesse, não poderia. ─ Foi bem vinda a conclusão naqueles dois minutos eternos, onde ele se via refletido nos olhos do animal; seriam aqueles homens, aquelas pessoas, tão egoístas que, não só são desprovidas de humanidade, como aceitaram que a crueldade foi um presente que deram a si mesmos. E de bom grado, partiram com ela a acolhendo como uma velha amiga.

  A forma com que ele quase foi levado ao túmulo essa noite foi covarde.

  Barty não sabe quanto tempo ficou ali, largado sobre o carpete azul, agora manchado com seu próprio sangue. Ele não sabe o que era real e o que não era, mas podia sentir a lágrima escorregar em sua bochecha enquanto ele observava a escritura rasgada em sua pele, "fraco", bem encima de onde havia um beijo de Barty há alguns dias. Aquela palavra rondava sua mente da mesma forma com que a voz de quem o fez.

  Lucius Malfoy era um cretino, e Barty nunca teve medo dele. Mas após ser destruído, ele se lembra bem de como o garoto pouco tempo mais velho se abaixou e escrevia em seu braço sem dó. Sua voz era cruel e fria quando ele se aproximou do ouvido de sua vítima. "Você é fraco. E vai perder."

  Aos poucos ele estava se empurrando do chão, e tudo doía. Mas não era seu corpo, e sim sua mente, que se sentia impotente, porque ele estava apoiado de quatro no meio de uma sala, sozinho. ─ Eventualmente ele respirou, Barty precisa se controlar mais. Nada dói, nada machuca, e isso se repetiu até que ele estivesse de pé. 

  Talvez devesse ir se limpar, provavelmente tomar banho. Mas aquelas pessoas haviam rasgado as bandeiras da paz trazendo a batalha do subsolo direto para a superfície. Então tudo que ele fez foi cambalear para fora da sala e pelos corredores, se segurando nas coisas até que estivesse fora do alcance daquelas paredes sem janelas.

  Porque ele precisa segurar uma mão durante a Grande Guerra.

  O frio maltratava naquela caminhada, e embora ele tivesse aparatado, não saber o endereço exto contribuía para que o trabalho físico fosse um esforço necessário. As pernas tinham uma tremenda incapacidade de o manter em pé realmente, e de vez em quando era preciso parar e se apoiar nos joelhos para que não desmoronasse ─ quer dizer, morrer na neve não parece tranquilizador. Pode até ser uma queda amortecida, mas em pouco tempo o gelo te abraçaria disfarçado em beleza, até te matar queimado. ─ Mas ele persistia em caminhar, mesmo que no automático. 

 Seu sangue pingou no chão, pintando a neve como trevo carmim, onde ele esperava crescer lindas flores para que ele veja.

  Depois da Grande Guerra.

  Durante o pensamento decorrente, Barty passou para o quintal de uma casa. Ele pulou, ignorando os latidos furiosos que se quer fez questão de ver de onde vinham, apenas para pular mais uma cerca, adentrando a pequena floresta. A caminhada durou minutos, em sua mente já não passeava nada além da realidade. Barty estava observando as coisas em branco, apenas notando a existência das poucas folhas e galhos enterrados enquanto ele se abaixava pelos pinheiros, que derramaram alguma neve em seu cabelo. Abaixou a cabeça, sacodindo o cabelo, e ao levantar, seu peito foi recebido com batidas, como se ele estivesse recebendo uma feliz visita que traria calor para seu coração.

ULTRAVIOLENCE | rosekiller.Where stories live. Discover now