𝐓𝐄𝐒𝐎𝐔𝐑𝐎 𝐏𝐄𝐑𝐃𝐈𝐃𝐎, cidade invisível. [EM BREVE]

⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀╰► 𝐂𝐀𝐏𝐈́𝐓𝐔𝐋𝐎 𝐈𝐈𝐈 | TRAIÇÃO.

❝ Maktub, Particípio passado do verbo Kitab. É a expressão característica do fatalismo muçulmano. Maktub significa: "estava escrito"; ou melhor, "tinha que acontecer" ❞
Vagabundo também ama, Oriente.

⠀⠀⠀Tibério voltava para a casa de seu senhor após uma semana massante de "trabalhos". O olhar cansado de todas as pessoas negras em sua volta era como um grito de dor para ele, que não poderia ser soltado nunca.

⠀⠀⠀As cicatrizes em suas costas ── fruto de uma tortura árdua ── ainda estavam presentes e visíveis, mas não doíam mais. Tibério sentia seu coração palpitar toda vez que tocava no relevo de sua pele, e lembrava de toda a dor que havia passado.

⠀⠀⠀Ele sabia que uma hora aquele ouro que estava sendo levado seria questionado, sabia que não poderia esconder para sempre, mas não sabia que seria em um futuro tão próximo. Aquele tinha sido, até hoje, o melhor dia de sua vida. Lembrando dos toques desajeitados de Luzia, ele se esquecia de tudo que estava acontecendo em sua volta.

⠀⠀⠀Já era quase noite e o crepúsculo tomava conta da floresta, mas a confiança de que estava sendo guardado por algo de força maior e cabelos loiros. O clima no lugar era pesado, e todos o encaravam com um olhar de assombro.

── Tibério! Onde suncê tava, rapaz? ── Dona Marta foi a primeira a lhe acudir, desesperada levando as mãos ao rosto do rapaz.

── Tava minerando, achei nada. ── Mentiu em partes, enquanto se desvencilhava dos braços da "mãe".

── Senhor tá atrás de ti, querendo saber onde achou os ouro. ── Os olhos de Tibério se arregalaram, e sua pele ficou pálida por um momento.

⠀⠀⠀Ele sabia que o momento de dúvida chegaria, sabia que teria que sanar a curiosidade das pessoas que não percebiam onde ele se metia e voltava com bancos cheios de ouro. Só não esperava que fosse tão breve assim. Os olhos de Dona Marta saíram de foco e ele pode perceber os movimentos dela se afastando ao ver alguém se aproximar.

── Imundo! ── Tibério sentiu a primeira chicotada nas costas, e caiu de joelhos. A dor das feridas antigas sendo abertas novamente, ardiam mais dos que as atuais. ── Eu sei do seu pequeno segredinho.

⠀⠀⠀O homem cogitou ter deixado que descobrissem sobre Luzia, mas teve mais cuidado em proteger ela do que proteger o ouro, mesmo sabendo que a mulher não precisava de proteção. O sentimento de derrota em saber que lutaria até o fim para esconder o segredo dela, mas que não daria certo, era sufocante.

── Chegou em mim que tú 'tá faltando nos trabalhos do garimpo principal. Dando umas fugidas e voltando com ouro. Onde você tá achando esse ouro todo? ── O senhor foi claro e rápido, se abaixando em frente ao homem ajoelhado na sua frente e fingindo uma voz calma.

── Eu to garimpando do principal, senhor... ── Outra chicotada foi dirigida aos ombros, e ele grunhiu de dor. ── Por favor, tenha misericórdia.

── Misericórdia? Por que eu teria misericórdia de uma pessoa como você? Que insiste em mentir para mim. Me fale onde achou, e eu juro não lhe matar por um tempo. ── Era mentira, ele sabia. Se não morresse agora, morreria em algumas semanas.

⠀⠀⠀Uma doença fatal havia tomado o garimpo mais próximo, e se alastrou por ali. Algumas pessoas perderam a vida, e outras estavam altamente contaminadas. Era algo horrível de se ver, e de presenciar.

── Eu peguei o ouro aqui, senhor. 'Credita em mim.

⠀⠀⠀O homem olhou impiedoso, dando uma sequência de chicotadas nas costas de Tibério enquanto o chamava de mentiroso.
A tortura era tanta, mas Tibério se recusava a abrir mão de seu amor, traindo ela. Porém, no meio de toda a tortura, ele acaba soltando algo crucial.

── Luzia, por favor! ── Gritou, clamando novamente por misericórdia a plenos pulmões.

── Luzia, é? Conte-me mais.

⠀⠀⠀Tibério tentou não se abalar, mas já era tarde demais. Ele não queria perder ela, não, com certeza, não.

⠀⠀⠀Luzia tinha que acontecer na vida dele, ela era seu destino. Sua sina. Mas também era seu fim.