Capítulo 40.

772 83 6
                                    


Março de 2020

Rio de Janeiro / Brasil

QUARTO MÊS DE GESTAÇÃO

—Você vomitou de novo? — Ludmilla parou na entrada da cozinha me observando enquanto saia do banheiro da visita no primeiro andar da casa.

—Sim — Murmurei sentindo uma angústia, passei a mão pelos braços pra me livrar dos arrepios.

—A médica não falou que isso ia passar no quarto mês? — Ela perguntou me fazendo parar antes de entrar na cozinha.

—Acho que isso depende.

—Vou fazer alguma coisa pra você comer — Ela falou virando e entrando na cozinha primeiro que eu. Agora que estávamos morando juntas pra valer, a tia Nete só vinha mais pra fazer faxina ou quando os pais dela estavam aqui, acabava que nós duas nos virávamos bem na cozinha e no restante das coisas.

—Eu não quero comer, vou só tomar um copo de água — Falei indo atrás dela.

—Tá ficando maluca? Você está carregando uma criança, precisa se alimentar — Ela falou parando na minha frente mais uma vez.

—Não tô com fome — Menti. Na verdade eu até tinha fome, mas sabia que ia vomitar tudo e não estava aguentando mais ficar de joelhos na frente do vaso.

—Brunna, para com isso. Olha o tanto que você emagreceu esses meses, mano — Ludmilla passou a mão pelo seu longo cabelo.

—Mas a bebê tá bem, eu já falei e você sabe disso — Repeti pela centésima vez, ultimamente temos discutido sobre isso praticamente todos os dias, eu já estava de saco cheio.

—A Liz tá bem — Ela repetiu balançando a cabeça de um lado para o outro — Eu me importo muito com a Liz, mas me importo com você também e você não parece bem pra mim.

—Eu tô bem — Suspirei, realmente cansada.

—Você vai sentar aqui e comer alguma coisa — Ela puxou uma cadeira da mesa.

—Ah, agora além de namorada você é minha mãe também? — Perguntei cruzando os braços.

—Se for preciso sim. Porra, tô te vendo o tempo inteiro no banheiro, você não come nada e só dorme e pelo amor de Deus não me vem dizer que está tudo bem porque tá na cara que não está nada bem — Ela me encarou. Odiava quando esse tipo de coisa acontecia, eu ficava exausta e ela ficava estressada.

—Eu não me importo de estar assim, beleza? Não me importo comigo num momento desses — Falei começando a ficar com raiva também.

—Mas eu me importo! — Disse ela praticamente gritando — Não quero saber de você ficando fraca por ai, porra.

—Para de falar desse jeito comigo, caramba. Eu sou de maior, sei o que faço da MINHA vida — Falei de volta.

—Parece que você não sabe, não — Ela soltou uma risada nervosa — Presta atenção, Brunna. Você precisa se cuidar, não seremos só nós dois agora, tem uma criança, ela não precisa só de mim, nem só de você, precisa de nós — Apontou de mim para ela.

—E você acha que eu não sei disso? — Falei sentindo um nó se formar em minha garganta, malditos hormônios de grávida.

—Então para de fazer isso — Ela falou soltando um suspiro, agora parecia tão exausto quanto eu — Se não conseguiu comer uma coisa, tenta outra e assim por diante eu não suporto te ver desse jeito, me dói pra cacete — Me olhou fazendo uma pausa — E eu preciso muito de você, cara. Me importo muito, então tenta tá?

VOSSA EXCELÊNCIA • BRUMILLA Onde histórias criam vida. Descubra agora