3.

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Na aula de educação física, estrearam o Augusto na zaga, mas ele se deu melhor no ataque. Ele era um Messi pra artilharia, um Romário pra gol. Primeiro tempo, meteu um hat-trick no time do Gustavo. No segundo, fechou o placar da vitória com um gol de bicicleta. 4 a 0, todos dele. Saiu correndo pela quadra vazia, comemorando com os caras, deu um pulo e socou o ar igual o Pelé.

Óbvio que, depois, no vestiário, ele foi o assunto principal. Os caras tavam em polvorosa com o CR7 de Olinda, a besta, o monstro que ia dar uma carreira nos pela sacos de Recife. Mas quando ele entrou na ducha e abaixou a cueca, além do futebol, a tromba também virou assunto.

Aquela algazarra que faziam em torno disso — uma reverência camuflada, um amor eros velado que os caras só dedicam pra outros caras que admiram — deixava o Augusto lá no alto. Que sabor!... O peito saltitando, chacoalhando a carcaça magricela, mas dessa vez de exultação.

Ficavam medindo, comparando os seus com o dele, manjando o astro enorme daquele vestiário diminuto, rodando em volta dele com risadinhas de encanto, o suor e a testosterona fedendo no ar. Aí começaram a querer saber quem que o Augusto já tinha comido da escola, só que ele foi ficando vermelho, se esquivando, metendo uma desculpa aqui, um sorrisinho desbotado. Apertando mais um pouco, descobriram a virgindade vergonhosa. Fizeram a maior arruaça.

— Porra, o cara tem a tromba maior que meu braço, mas não usa!

Agora a rapaziada do vestiário tinha um novo objetivo: fazer o Augusto perder o cabaço. Iam arrumar uma gata pra ele meter, e fizeram mil perguntas de quem ele queria que fosse a vítima, mas, como ele só ria, foram lá e escolheram por ele: a Leidinha, do segundão. Não era tão gata, tinha umas orelhonas, mas topava tudo. Até o Augusto ela encarava. Só que ele não se meteu nisso sozinho; chamou o Gustavo pra traçarem a menina juntos, e o Gustavo topou.

Chegando no dia e na hora do rala, ela escolheu o Gustavo pra dar o buraco de trás. É que o pinto dele era "mais normal", ela falou. Aí o Gustavo se espichou na cama, pelado, e ela sentou de costas pra ele. Gemeu fino quando sentiu a pica entrar. O Augusto veio por cima, entre as pernas, metendo cada um dos joelhos dela nos seus ombros, abrindo bem a coitada. A cama começou a gemer junto com a Leidinha. E naquele rolo suado de pau na boceta e pau no cu, o pau do Gustavo escapou do beijo de caverna da moça e roçou no cuzinho piscante do Augusto. Só aí que ele gemeu e gozou, e a virgindade tinha ido embora.

Na aula de português, o Augusto só pensava nisso. Estava morto de vergonha, mas não tirava a trepada dividida com o amigo da cabeça. A Leidinha pouco importava: importava o Gustavo e o seu pinto melado deslizando sem querer no seu rego distraído. E quando o próprio entrou na sala, o Augusto esfriou. Sentia que tinha que se explicar pra ele, reafirmar a macheza, que, senão, ia ficar manjado... Aí foi sentar lá perto dele e começou a dar rodeios, mas o Gustavo cortou logo pro conto de português, se já tinha pensado em alguma coisa pra eles.

O Augusto começou falando que ia escrever sobre dois amigos que gostavam de futebol. O apelido de um era Franz e, do outro, ia ser Medonho, porque era muito bom de bola. Os dois iam ganhar a Copinha pelo Vasco.

— Vasco não, porra — o Gustavo choramingou. — Fortaleza!

— Tá bom, então vai ser o Fortaleza!

E o Augusto seguiu contando que eles, no começo, não iam se bicar, mas que depois iam ser que nem dois irmãos em campo. Tipo Romário e Bebeto. Que iam até perder a virgindade metendo na mesma menina.

O Gustavo se espichou, recostando as costas na cadeira.

— Mas qual deles dois que vai ser o melhor?

— Como assim?

— Qual deles que vai jogar mais bola?

— O Medonho — o Augusto disse. — O Medonho vai ser o mais macho dos dois.

— E qual que vai pegar mais mulher?

— Pode ser o Medonho também. Ele vai ser mais bonitão.

— E tu, vai ser quem deles dois?

O Augusto ficou rindo, sem graça. Por um momento, ficou com o que ia falar preso na goela, pensando que tinha estragado tudo, que tinha dado muita bandeira. O Gustavo também riu antes de completar:

— Porque eu quero ser esse Medonho aí.

— Tá bom.

— E você vai ser o outro, né?

— O Franz.

— É.

— Tá bom.

— E quem que vai ser a menina que eles vão comer?

— Perder a virgindade.

— É.

— Não sei. A Leidinha?

— Porra nenhuma! Podia ser a Carol, né? — o Gustavo riu de novo, dando uma amassada no saco.

O Augusto baixou os olhos pra lá sem querer, depois ergueu de novo pro sorrisinho que o Gustavo mantinha na cara.

— Quando os dois tiverem lá, metendo, o Medonho vai passar a pica sem querer no toba do Franz também?

O Augusto ainda ria, sem graça. Olhou de novo os dedos do Gustavo amassando o pinto embaixo da calça. E ficaram assim, se olhando, quietos, rindo, o pinto do Gustavo crescendo junto com a tromba do Augusto bem no meio da aula de português, até que o professor apitou o fim do jogo: a aula de educação física acabava junto da tarde quente de Olinda.

Augusto fechou o caderno até então aberto no colo e o meteu de volta na mochila. Guardava as canetas no estojo quando aquelas meninas passaram por ele, dessa vez indo embora. Mas ele ainda ficou ali na arquibancada, sentado, encarando o vazio, pondo os pensamentos em ordem. Lamentando que fossem só pensamentos. Até que, de longe, viu o Gustavo sair mancando lá do vestiário. Ainda usava o uniforme suado do jogo. E um a um, todos os caras do time iam esvaziando a quadra naquela alegria juvenil de tarde suada e bem gasta, enquanto o Augusto, agora levantando pra também voltar pra sua sala, se sentia soterrado daquela tristeza, daquela impotência que carregava sempre consigo, daquela vontade de experimentar o que não sabia o gosto.

Na sua sala, sentou o rabo na cadeira e reabriu o caderno passando os olhos pelo que tinha anotado. Suor. Gustavo Martens. Uma aventura de dois amigos bons de bola. Apesar de héteros, os dois vão se apaixonar um pelo outro. Augusto sabia que não ia poder usar esse conto no trabalho. Ele não era um conto pra professora e pros outros lerem: era um conto particular, só pro Augusto acessar quando quisesse. Depois, a certa altura, ele ficou prestando atenção naquelas meninas da arquibancada, agora sentadas um pouco na sua frente. Uma delas afastou as mãos fazendo um gesto que indicava tamanho, enquanto contava cochichando pra outra:

— A Carol já ficou com ele, e disse que é um bitelão assim.

— De quem?

— O do Gustavo.

Quando chegou em casa, o Augusto voltou pra frente do espelho do quarto da mãe, ficou lá se consertando. Não tirava o comentário das meninas do pensamento. Foi na gaveta, pegou uma meia, a botou embolada dentro da cueca e fez mil poses na frente do espelho. Na sua cabeça, agora ele era que nem o Gustavo.


FIM

Escrito em janeiro de 2023, no Mato Grosso.

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