Capítulo 07 - parte 03

13 4 0
                                    




Por que você não pode me amar como uma pessoa normal? Na mesma intensidade que eu?, não ousei lhe perguntar isso.

Como se tivesse ouvido meus pensamentos, Dominic olhou para mim, me fazendo dar um sobressalto. Não sei desde quando, mas percebi que estava prendendo minha respiração. Nossos olhares se encontraram, ele parou o que estava fazendo. 

Parecia que mais uma vez o tempo estava absorto ao silêncio da noite, que o tempo havia congelado. 

Por um impulso, me abaixei o suficiente para encostar minha testa na sua. Não tenho ideia do porquê fiz isso, mas pude sentir sua respiração batendo contra o meu rosto, seu calor corporal se envolvendo ao meu e sua fragrância que fazia-me sentir a sensação de estar flutuando mesmo estando parado no lugar... Não fizemos nada, ele apenas congelou no lugar, surpreendido com minha atitude enquanto estávamos olhando um para o outro. Suas íris claras me analisavam, suas pupilas se dilatando conforme ele olhava para os meus olhos, seus cílios longos se mexeram quando ele piscou lentamente. 

Dom finalmente soltou minha perna, erguendo suas mãos para tocar minhas bochechas, segurando o meu rosto.

A brisa fria da noite invadiu o apartamento, colidindo contra o calor que nossos corpos emitiam, agitando o cabelo bagunçado de Dominic.

 — Não tenha- — Eu o interrompi, colocando meu dedo sobre seus lábios, revirando os olhos.

— Cala a boca, já sei o que vai falar. Você às vezes é repetitivo demais. 

Ele ficou surpreso, contudo, disse algo que me deixou confuso. 

— Até quando seus sentimentos vão buscar abrigo em mim? Não suporto mais isso, meu peito dói... —  O rosto dele curvou-se sobre o meu em câmera lenta, como um sonho, vivido e lúcido, e então se intensificou quando percebi que seus lábios estavam entreabertos e se aproximando lentamente dos meus, o meu prazer se intensificou ao vê-lo umedecer os lábios com a ponta da língua em um convite silencioso para que unisse nossas bocas. 

A pequena lacuna entre nós desapareceu quando senti seu hálito quente sob meus lábios e o invadi em um beijo profundo e delicado.

Mordisquei seu lábio inferior com deliberada ousadia, ouvindo um leve gemido de prazer do idiota, tornando sua sensação sensualmente dolorosa. Sua respiração chegava em meus lábios, beijando minha boca em um sopro quente.

Ele inclinou levemente sua cabeça, roçando seus lábios com mais intensidade nos meus, contornando minha boca com sua língua, enquanto ela se entrelaçava com gentileza na minha, meus olhos estavam abertos, guardando na memória seus gestos e sensações. Sentindo o sabor doce de seus lábios desenhados pela minha língua, bailando em sincronia com a sua.

Um beijo que traduziu sem palavras todo o sentimento de desejo, excitação, luxúria, amor e desespero! Um deleite de sensações e prazeres guardados onde apenas um beijo seria pouco para saciar nossos desejos secretos.

Cedendo a uma ternura que Dom tem evitado, sem nem se dar conta.

Um simples beijo cheio de promessas não cumpridas e de juras de eternidade. Cheio de fantasia, de sonhos e desejos. Como se estivesse sendo apenas mais um de vários, como um casal normal cheio de amor e paixão, intenso e real em um mundo de faz-de-conta. 

Suas mãos deslizaram com gentileza do meu rosto até minha cintura, explorando cada centímetro meu. Não era luxúria ou caprichos que seus toques mostravam, era cuidado, carinho e saudades. Até que seus braços me entrelaçaram em um abraço quentinho, em um movimento delicado. O vento frio penetrou na minha pele, dando-me arrepios, causando calafrios onde o calor de Dom era ausente. 

Meu estômago literalmente deu uma cambalhota quando senti a criança dentro de mim se mexendo. A bolha imaginária à nossa volta se estourou, me trazendo para a realidade. O silêncio que inundava o lugar não existia mais, o som de carros, as vozes e os ruídos banharam o cômodo. 

Foi nesse momento que um sorriso travesso surgiu nos meus lábios.

No ápice do beijo, quando nossas línguas se entrelaçaram e ele estava lambendo meus dentes em êxtase, molhando minha boca em um prazer íntimo… Mordi sua língua com força e brutalidade! O seu lábio inferior não se safou, no meio do ato, meus dentes o cortaram como uma lâmina amolada.

Com um sobressalto seguido por resmungos, ele abriu seus olhos, soltando-se de mim e se afastando por puro reflexo. Pasmo com minha atitude rebelde, jamais imaginou que eu faria algo assim.

Seu lábio e sua língua estavam sangrando, ele levou suas mãos até a boca, sujando-as de sangue. Fiz uma expressão de horror, fingindo não ter feito de propósito.

— Desculpa, senti uma contração e por reflexo contrai a mandíbula! — Levantei-me e fui até ele, verificando-o. — Não precisa se preocupar, nenhum pedaço foi arrancando. Já já, vai estar parando de sangrar! — Ele não disse nada, apenas cuspiu o sangue no chão. Era óbvio sua desconfiança, e também não fiz a menor questão de esconder minha satisfação. 

O que ele pensou? Que apenas por amá-lo eu iria fingir amnésia e esquecer suas ameaças de dias atrás? Ele estava enganado! Deveria ter envolvido somente a mim e não minha criança, não deixarei ninguém levá-la. 

— Não minta, você fez isso de propósito — ele falou, mesmo com dificuldade. 

— Talvez? Não sei. Mas sei que você gostou do beijo, admita. — Estava claro como a água, Dom não conseguia mais identificar os seus sentimentos. Confusos, era assim que eles estavam. — Onde estão os meus pastéis? — Mudei de assunto, olhando-o com um olhar cético.

— Os pastéis estavam um pouco frios, então eu os coloquei no micro-ondas para aquecê-los — Desconcertado, ele foi para o banheiro cuidar dos seus machucados. 

Quando fui para a cozinha peguei o prato com os pastéis.

Acomodei-me na cadeira da mesa com satisfação e comecei a comê-los sem me importar com os modos, minha fome estava enorme para me preocupar com isso. Continuei enfiando mais comida na boca, mesmo quando minhas bochechas já estavam cheias, comendo como se fosse um pequeno hamster.

Dom não voltou mais para a sala e muito menos para a cozinha, pobrezinho. Ele tinha um semblante confuso, e apesar de achar o seu comportamento fofo, não me importei com a possibilidade de deixá-lo gago e continuei comendo.

Minha cabeça estava cheia de pensamentos, queria saber se esse beijo significou algo para ele, na sua atitude, nos seus gestos, estava explícito sua atração. Fechei meus olhos, suspirando pesado, as sensações dos seus toques e carícias insistiam em brincar comigo, recriando cada cena daquele momento.





Betagem por: Arabella [WD]

A Década Depois Da PrimaveraWhere stories live. Discover now