O Rancor da Mariposa (Saga Kaedra - Lembrança)

Capítulo 37: Completo

Quatro dias depois...

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"Meu querido caderno de memórias, hoje é dia 7 de inverno. Amanhã eu completo treze anos. Faltam dois anos para que eu atinja a maioridade mística, mas acredito que tudo que eu vivi me forçou a crescer antes do tempo. Os dias não são mais sombrios como antes e sinceramente tenho boas expectativas.

Hoje é meu terceiro dia de testes na revista de curiosidades místicas. Eric vai se apresentar no emprego de caçador hoje à tarde. Espero que tudo dê certo

Da sua amiga, Susanna Reffe".

Susanna guardou seu diário, então partiu.

Ela ainda não tinha se acostumado as grandes aglomerações quando saía de casa. Lamadis, uma grande metrópole. O chão acinzentado, os prédios de tijolos vermelhos, os corrimões de pedra, pequenas pontes sobre os canais, as praças, o cheiro de óleo e água salgada no ar. O caminho para o complexo comercial, do outro lado da cidade, permitiu que ela visse muitos rostos. Pessoas indo e vindo, bem vestidas, com roupas de tecido, cachecóis; muitas optando por cores sintéticas como o verde, amarelo ou roxo, outras mais discretas, entre o branco e o preto.

Um pouco mais longe das agitações, ela atravessou a orla da zona residencial. Casas simples tumultuadas em ruas ladeirentas de paralelepípedos que desciam a cidade longitudinalmente. Da parte alta, onde Susanna estava, podia ver a muralha sul no horizonte, além das muitas ruas e casas. Entendia por que Lamadis era conhecida como uma cidade multinível. Pilares e chaminés à oeste, as torres da parte leste e os prédios.

Seguindo pela orla, ela chegou ao complexo comercial noroeste. Aquela ampla construção atingia desde a parte mais alta da cidade até o térreo, cheia de ruas, vielas, praças e escadarias em vinte e dois andares. Susanna estava na altura do décimo segundo nível. Ela utilizou de um elevador externo para os demais nove níveis que faltavam. Conforme e caixa metálica era erguida pelos grossos cabos de aço, as imagens passavam por ela como flashes entre as grades, e dali ela via toda a cidade.

Quando o bip soou, indicando que ela havia chegado ao penúltimo andar do complexo comercial, ela passou pela porta depressa, quase esbarrando num humano irritado que passou por ela. Susanna voltou as mãos para dentro do casaco negro, aliando ao capuz, e passou a andar por entre as pessoas nos corredores estreitos movimentados. Carregava seu diário em mãos, apreciando a neve do dia anterior que cobria o piso, contrastando com o vermelho das construções. Ela desviou dali, seguindo por um beco escuro, mais sujo, porém silencioso. Em pouco tempo, ela chegou ao escritório da revista de curiosidades místicas. O nome "Psicomania" brilhava num neon verde acima da entrada.

Embora Susanna fosse muito contida, e ainda desconfiada em relação aos humanos, ela era tratada bem naquele lugar. Como Eric havia dito: uma mística da alma, tão conhecedora de sua cultura era um grande achado para uma empresa como aquela. Susanna cumprimentou a recepcionista; retribuía a gentileza com que a tratavam. Alguns rasaras no corredor escuro, adornado por artes misticas em tapeçarias. Eles carregavam pilhas de caixas pesadas. Susanna desviou deles, indo até onde se sentia confortável, seu escritório, um lugar pequeno com pilhas de pergaminhos. A janela praticamente colada em sua mesa. Um lugar onde tinha a oportunidade de escrever seus pensamentos de modo a ensinar outras pessoas.

Os primeiros dias de trabalho foram o suficiente para que ela conquistasse a confiança de seu chefe, que permitiu a ela sua primeira publicação na revista.

"A vida é tecida com caos pelo destino. O que nós temos são alguns fios soltos, que nos são permitido controlar. Mas as verdadeiras amarrações que definem o que somos estão longe do nosso alcance."