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Planejava aproveitar o momento de estarmos apenas Sofia e eu, para retomamos o assunto anterior.

-Como você ta se sentindo em relação à nossa mãe?- perguntei, sentando de lado para ficar de frente para ela.

-sei la...eu só.... me incomoda ser discarada ao ponto de saber que me machucou, e só ignorar. Fingir que nada aconteceu...como ela pode ser assim?

- brinde da realeza...- respondi, olhando pela janela.

- não. Porque você não é, e não vai ser assim- retrucou. E eu adicionei o "nós" a sua frase.

-Ela não pode fingir que tá tudo bem, porque não vamos agir deste modo. Ela pode ter muitos defeitos, mas ela sabe quando parar... E falando em "parar"...- olhei para o lado de fora, e Sofia seguiu meu olhar. A mãe do nosso pai acabara de chegar.

Ela entrou no carro ao mesmo tempo que o motorista abriu a porta para minha mãe. Não pude deixar de notar que nossa avó não recebera "a mesma cortesia".
Ao entrar, ela deu um sorriso em nossa direção. Eu desviei o olhar, porém pude ver pela visão periférica quando ela tentou repourar a mão na perna de Sofia, e a mesma a retirou bruscamente.
A Rainha Emérita ficou um tanto envergonhada com a ação de Sofia, porém escolheu por ignorar.

- Aliás...o que é isso que estão vestindo?!- questionou, com um tom de reprovação. Sofia ia falar algo, mas fui mais rápida.

- roupas.-, disse. Curta e grossa. Não estava com paciência para ser educada com quem não merecia.
Ela pigarreou,

-roupas bem indecentes para pessoas da monarquia usarem...mas, não posso culpa-las. Não pode se esperar muito, ja que quem auxilia vocês em vestimentas é...bom... - eu e Sofia trocamos olhares. Em outro momento, nossa mãe retrucaria. Porém, precisava manter a calma para manter as aparências frente às câmeras.
Não percebendo, ou simplesmente ignorando, que não queriamos falar com ela, ela se voltou para nós.

- Vocês estão estudando bastante né? Tem que manter a excelência. - apenas ignoramos. Sofos olhou pra mim, falando o quão lindo ela achava meu brinco de pérolas banhado à ouro. Depois disso, a Rainha Emérita se calou, e os próximos 15 minutos foram de total silêncio.

Estava observando as pessoas pela janela, e imaginando suas reações se soubessem as pessoas que estavam dentro do carro. Eu acho legal e engraçado ver o desespero e animação das pessoas quando nos vêem nos lugares, ee os surtos ao presenciarem alguma interação entre minha irmã e eu. Nesses momentos, até sumia da mente as partes ruins. E, pensando nisso...
Me recordei do início do assunto que eu e Sofia tivemos do quarto. Que o fato de nossa mãe fingir normalidade sabendo que errou foi um presente da monarquia.
Ao mesmo tempo que ouço isso de muitos, e falo para mim mesma...será mesmo que não seguirei os mesmos caminhos?
Eu estudo a História dos Borbón sendo integrante da família. Estudo a História desta monarquia, fazendo parte dela. O que dignifica que, muitas das coisas das quais tenho acesso para estudo são ultra secretas. Tanto, que para acessar tais materias, preciso entrar em uma biblioteca com senha que tem aqui.
Nesses livros e documentos, constam tudo de errado que os outroa Reis fizeram. E não teve uma única linhagem que não cometeu algo ilegal. Que não se apropriou do dinheiro direcionado ao povo. Que não escondeu...causou...a morte de alguém....
Não houve uma pessoa sequer que chegou ao trono, e saiu dele com as mãos limpas. Então...por que...como eu posso ser diferente?
Sofia obviamente ainda não teve acesso direto à isso, e não sei se terá para estudos, mas já resumi tudo o que li, e tudo o que senti para ela. Ela disse que eu não cometeria nada disso, porque eu sou diferente. Mas...eu não acho que sou tão especial a ponto de ser a única que não esconda um crime cometido pela família, por exemplo. Enquanto eu lia isso em específico, de que um dos antepassados Reis esconderam o crime de assassinato cometido por seu irmão, meu pai estava presente. Ele viu a minha expressão de questionamento, e falou que ele também não achava certo, mas que, pelo nome da família, coisas das quais não nos orgulhamos... Isso me fez questionar até que ponto ele foi...até que ponto ele iria...
Sua frase me fez temer cometer o erro inicial que todos ali comentaram. Deixar o poder subir a cabeça, a ponto de não permitir que nada ficassem em seu caminho. A ponto de fazer coisas horríveis...
Confesso que o fato da frase ter saido da boca do meu pai, me assustou. Ele era uma pessoa boa. Ele era um bom pai. Conhecendo ele à 17 anos...como ele poderia...
E isso me leva ao ponto deste pensamento. Se meu pai é uma pessoa boa, mas faz coisas erradas pelo nome, como eu poderia ser diferente?? Aparentemente, ser uma boa pessoa, com bom caráter, índole, opiniões e a vontade de fazer a coisa certa, realmente melhorar a situação do país em que vive, não era suficiente. Porque, aparentemente, a partir do momento que você era denominado como chefe maior da monarquia, você não era mais você. Agora, você seria a pessoa que faria de tudo para passar uma impressão perfeita. Para tirar as pedras do caminho.
Aparentemente, mesmo quue não fossw de imediato, iriam te convencer de que aquilo não era errado, mas era necessário. Que se você não fizesse, seria covarde...
Talvez, muitos tenham subido ao trono com o plano de realmente fazer a coisa certa, mas começaram a ter o ego ferido.
O orgulho...o orgulho e a sede por mais eram os principais motivos por tidos os meus antepassados, sem exceção, terrem feito da frase "faça o que for preciso" os seus lemas.
Será que eu realmente seria capaz disso? De ser a diferente? A que vai revolucionar a forma de como os "de cima" compreendem a palavra "proteger a família e o país"?
Eu sabia que a minha responsabilidade eera imensa. Que a esperança, o que esperavam de mim era gigantesco.
Eu seria a primeira Rainha deste país, depois de séculos- já que, até então, as Rainhas eram Consortes.
Sou a pessoa que o povo chama de "esperança". Que minha irmã chama de " a melhor de todas".
Ela diz que eu vou revolucionar. E eu realmente quero.
Muito.
Não quero sujar minhas mãos. Não quero esconder o ato errado de alguém pelo nosso Nome. Pelo contrário. Em meu entendimento, sse você faz algo errado, deve pagar por isso. Se redimir. Não temos que ser o exemplo? Como podemos dizer uma coisa, e fazernos outra?
Eu não farei isso.
Mas a questão é: eu conseguirei não fazer isso?
Eu tinha medo de falhar e não suprir a expectativa que colocavam em mim. E tinha medo dessa necessidade de mostrar minha capacidade me deixe....
Será que eu aguento o peso que estava sob mim? Será que eu aguento a Coroa.
Em meio aos inúmeros pensamentos, me recordo da frase do meu pai.

"Você fará diferente, porque você tem o apoio de sua irmã. Eu não tive isso"

Ao lembrar disso, não evitei sorrir e pegar sua mão, acariciando-a. Foi inevitável sentir um imenso alívio. Meu pai tinha razão. Eles não tiveram apoio, e sim pessoas que os cobravam. Eu tinha meu apoio.
Isso não torna a situação mais fácil, mas tornava-a muito mais suportável. E era isso.que significa ter um apoio. Alguém para literalmente te apoiar, não te deixar cair...
Pensando nos inúmeros obstáculos que eu enfrentaria, agradeci mentalmente aos meus pais por terem, desde pequenas, nos ensinado a ajudar, incentivar e apoiar uma a outra. Quando éramos pequenas, não entendíamos porque, se Sofia se jogasse no chão, eu que tinha que ajudar ela a se acalmar. Ou que, se eu fosse pro meu quarto chorar por algo, Sofia ia atrás. Não entendíamos porque eles nos pediam para sempre tirar um sorriso uma da outra. E, bom... agora entendemos...
Tinha diversas dúvidas sobre o meu futuro, mas o que dizia respeito à mim e Sofia, não restavam dúvidas. Sempre terei ela do meu lado. Sempre terei à quem segurar a mão quando precisar. Alguém à quem procurar em meio à multidão quando estiver nervosa para falar em público...
A realidade de muitos é que o irmão mais velho deve sempre ser o protetor. E bom, sim. Eu sempre cuido dela-- até porque sou muito mais atenta...
Mas, a realidade de muitos é que apenas o mais velho que deve consolar e incentivar. Mas nós fomos criadas na compreensão de que, ao longo da vida, os papéis se inverteriam...

CONTINUA....

o lado obscuro da realeza- Princesa Leonor e Infanta SofiaOnde histórias criam vida. Descubra agora