Capitulo 1. A noite em que perdi minha liberdade

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De uma hora para a outra, tudo mudou drasticamente. Já parou pra pensar o quanto sua vida pode mudar com um sopro não calculado, um passo fora da estrada, uma palavra solta sem perceber? Aprendi isso, não nos livros; e sim no vermelho vivo de seus olhos ardentes.

Eu podia ter evitado isso...podia? Talvez isso nem importe mais. Talvez fosse o destino, aquele maldito ser que nos empurra em um deserto de abutres com feridas abertas e nos condena à aflição.

E foi esse maldito destino que me levou ao bar naquela noite, uma ingênua comemoração ao aniversário de Nadja.

Bebemos vinho e dançamos a noite toda e logo entregariam os presentes.

Henry pede que busque um embrulho no carro e assim o faço.

Sai do bar um tanto cambaleante, embriagada. A rua, silenciosa, resaltava a penumbra amedrontadora que se estendia por todos os lados.

Talvez fosse madrugada pois podia ver apenas algumas poucas pessoas bêbadas andando pela calçada fria e suja.

Abri a porta do carro, vasculhei debaixo do banco e achei uma pequena sacola branca com uma fita azul.

Peguei o embrulho com certa dificuldade; estava consideravelmente bêbada e via apenas borrões.

Subitamente, sinto alguém me segurando pela cintura, dou um sobressalto e acabo batendo minha cabeça no teto do carro, olho para trás e vejo um rapaz com aparentemente a mesma idade que tenho. Seu olhar continha uma maldade que jamais havia visto em qualquer outra pessoa, seu sorriso expressava uma malícia sem fim e senti uma onda sombria pairando sobre ele.

Dou um grito em pedido de socorro, mas o homem puxa violentamente para fora do carro, e ordena que me calasse. Desobedecendo sua ordem, me debato e grito ainda mais alto. Desorientado, meu agressor dá-me um soco, fazendo-me desmaiar.

...

Minha cabeça doía, um cheiro de urina insuportável desperta meus sentidos e ouço o som de algum líquido pingando no chão, olho em volta com certa dificuldade. Vejo-me no quarto iluminado com uma luz amarelada e nada acolhedora, o lugar era sujo, e havia canos grudados pelas paredes e algumas barras de ferro entre em mim e outro lado da sala.

Tento fugir, mas sou contida por uma corda que amarra os meus pés e minhas mãos numa argola de ferro presa à parede, desesperada começo a chorar baixinho.

Ouço a porta batendo e o barulho de seus passos descendo as escadas lentamente, seu rosto ainda exibia aquele mesmo sorriso perturbador e cínico, passava nas mãos entre as barras e me olhava como um animal de zoológico.

-Bom dia, Verônica!- diz numa voz penetrante-Dormiu bem meu amor?

-Maycon?- Murmuro sem forças- É você?

Meu agressor abre as grades com seu molho de chaves e entra se aproximando de mim lentamente, tento recuar, mas a parede me contém, para mim aquele seria o meu fim:

-Trouxe comida para você-Deposita um prato de comida na minha frente-Veja só como sou gentil

Olho-o com lágrimas nos olhos, totalmente enojada. As suas mãos tocavam minha bochecha e aos poucos o rapaz soltava a corda que me prendia, me olhando com visível prazer.

-Eu prometo que tudo irá mudar minha linda- beija meus lábios vagarosamente- Ninguém poderá te tirar de mim novamente.

-Você é...

-Lindo, Maravilhoso, Esperto, Magnífico, Educado...

- ...Horrível

-Ah Verô, como pode dizer isso? Como pôde acabar com o que tinha entre nós?

-Você sabe muito bem o porque eu me distanciei- O fito com um olhar de ódio estampado na face- Justamente pelo mesmo motivo que quero me distanciar agora. Você é tóxico Maycon, além do limite.

-Não Verô, Não!- O vejo andar de um lado para o outro com as mãos na cabeça- Você não percebe que te manipularam? Você me ama...eu te amo.

-Amor? Maycon olha o que você fez! Me prendeu neste lugar horrível.

-Não querida, eu apenas te trouxe pra mim, onde é o seu lugar.

ALONEWhere stories live. Discover now