C22 - Esclarecimentos

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Danniel foi convidado a ficar para o chá matinal naquela salinha pela qual ele já estava criando um grande apreço. Estava sentado na cadeira florida na qual Natália sempre se sentava para fazer companhia à Celina que não mais entregava seu melhor sorriso à amiga e sim a ele.

–Saiba Milady, que agora eu estou receoso em falar qualquer palavra em qualquer tom que possa ofendê-la. Meu pai ensinou-me a respeitar a evolução feminina e suas conquistas. Mas aqui em Hesterigton Park são escassas as Damas que olham um livro de aritmética e o acham interessante.

–Evolução, Milorde? Surgimos nesse mundo ao mesmo tempo que vocês homens. Evoluímos de igual para igual, mas em determinado momento as mulheres foram vistas como um sexo inferior fadadas à servidão e foi aí que vocês começaram a retroceder e a nossa evolução passou a ser apertadas em corpetes sufocantes e amarradas em laços de seda. Lapidaram nossas castidades como diamante valioso e jogaram em nossas faces que esta era a única joia valiosa que uma mulher poderia possuir para se ter um valor. Mas a evolução, bom, ela sempre esteve lá como uma fera presa em uma gaiola pronta para voltar ao seu habitat. -Danniel de uma vez só engoliu um chá que até então estava pausado na altura de seu tórax. Celina havia falado sobre assuntos inapropriados de um modo tão natural que causou uma espécie de excitação em seu corpo, mas não era concentrada em sua região baixo-ventre e sim dentro de seu peito.

–Compreendo. -Disse enfim, baixinho e Celina dava um sorrisinho amigável desviando o assunto para a caixinha de bombom que estava sobre a mesinha de chá. Ela pegou e percebeu que se tratava do chocolat rose. Assistiu-a remover a embalagem metálica, suas mãos estavam sem luvas, ela não poderia usá-las para estudar cálculos, escorregaria na estrutura da pena e até então estava sem elas.

–Abre a boca. -Ele o fez sem hesitar e Celina colocava em seus lábios o chocolate que ele aceitou de bom grado, abocanhando de certo modo que acabou por tocar nas pontas dos dedos de Celina que lhe dava um olhar significativo. Danniel engoliu o chocolate de uma vez, o que lhe provocou um engasgo.

Após dois criados sacudirem o Visconde engasgado enquanto Celina gargalhava assistindo à cena. Charllote e Alan se preocupavam. Eles estavam nas duas poltronas à frente da lareira. Não interferiam em momento algum na conversa dos jovens e apesar de Alan ter estremecido quando ouviu a filha falar sobre castidade, Charlotte se inclinava para segurar em sua mão o que o relaxou.

–Eles são perfeitos juntos. -Comentou Alan.

–Mas o jovem Beautticrow é um Visconde.

–A Rainha não poderia abrir uma exceção? Se ela os visse...

–A questão não é convencer a rainha e sim a câmara, o viscondado dele anulará o marquesado dela, Celina está determinada demais em ser a Senhora de Hesterfield e ela ainda é jovem, está confiante de que seja apenas uma fase para ela que nunca teve esse tipo de amizade com um cavalheiro.

–E se ele a seduzir?

–Creio que esta não seja a postura do cavalheiro.

–Não falo libertinamente.

–Se Celina não o fizer primeiro.

–E se...

–Não será o fim do mundo.

–Então creio que chegou a hora de você ter aquela conversa com ela. -Charlotte sorriu olhando a filha tapar a boca para conter a risada direcionada ao rosto rubro do Visconde e sem querer sorriu também.

–Hoje à noite eu a chamo para uma reunião, só assim para fazê-la largar os livros e aqueles gatos. -Alan assentiu concordando.

Ao anoitecer e já pronta para dormir, Celina sob as cobertas grossas de sua cama, lia um romance gótico bastante sangrento, mas ela soltava risinho a cada frase lida, se divertia com as descrições de corpos sendo abertos e de sangue em excesso. Suas bochechas queimavam e sem tirar os olhos das páginas, esticava o braço para pegar mais um chocolat rose. Até que bateram à porta.

–Pode entrar! –Exclamou dentre bochechas gordas e só fechou o livro marcando a página com o fitilho do mesmo, quando ouviu a voz da marquesa lhe desejar um boa noite sem aquele tom de despedida.

–Pensei em chamá-la para uma reunião para que viesse correndo até mim, mas após pensar mais um pouco... –Sentou-se ao lado da filha e pegou o derradeiro bombom. –...você não deixaria uma conversa para depois por causa de um livro, principalmente quando o assunto é o Visconde. –Celina automaticamente enrijeceu as costas e engoliu em seco.

–Ele não é nenhuma ameaça, mamãe.

–Eu sei que não. –Celina relaxou os ombros e assistiu a mãe comer o bombom, beber um pouco da água que estava no copo sobre a cômoda.

–Pelo amor de Deus, fale de uma vez o que é que está acontecendo?

–Eu não deveria estar tão nervosa ao falar sobre esse assunto. –Estas poucas palavras foram o suficiente para Celina entender a natureza da aflição da mãe. Tentou conter o riso fazendo um biquinho de criança sapeca.

–Permita-me facilitar, mamãe. Eu sei como acontece a Natália não me poupa detalhes, a pedido meu, claro. É curioso, interessante até e devo ser sincera com a senhora, mamãe. Já tive sonhos dessa natureza e... –Mesmo as bochechas em tons de chocolate, ficaram rubras com as lembranças. Celina não encontrou palavras e apontava um pouco envergonhada para a sua região íntima.

–Você se toca?

–Sim! –Retrucou aliviada.

–Pensando no Visconde?

–Sim, quer dizer NÃO. – Charlotte ao invés de se aborrecer, explodiu em uma gargalhada e vencida Celina admitiu. –Sim. Mil vezes sim. –E se derreteu para debaixo dos edredons. Cobrindo-se até o pescoço, ficando a mostra só sua cabeça e as pontas dos dedos que seguravam os grossos tecidos. –Ah, mamãe, é tão bom e a cada tentativa eu conheço novos pontos em meu corpo, aposto a minha vida que nenhum marido será capaz de me proporcionar tais prazeres.

–Não fale besteira, minha menina, é só pedir. Seu pai, por exemplo...

–NÃO! Eu não quero saber! –Agora as duas explodiram em gargalhadas. –Ele me convidou para conhecer a sua nova propriedade. Devo ir mesmo ciente de que se ele se aproximar demais eu corro o risco de me derreter que nem chocolate ao sol? –Indagou após o cessar das risadas.

–O segredo é fugir dos olhos mal intencionados. –Disse dando uma piscadela e um boa noite, desta vez se despedindo. 

C H O C O L A T - Um Doce AmorWhere stories live. Discover now