Vejo Você no Tribunal

01. Ohm Pawat - O Preço da Minha Paz

Capítulo 01
O Preço da Minha Paz
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Ohm Pawat

Eu tinha poucas memórias da minha infância e essas poucas memórias insistiam em vir à tona. Para não atrapalhar meu desempenho com coisas insignificantes, tratei logo de dissipá-las e concentrar unicamente em meu trabalho.

Trajava o mais luxuoso e exclusivo terno preto Oxford da Brooks Brothers, em uma sofisticada cafeteria clássica, com o cheiro de café nobre entrando suavemente pelo meu nariz e o notebook de última geração aberto diante dos meus olhos, enquanto analisava as opiniões da mídia sobre o caso polêmico pelo qual eu era responsável.

As severas críticas da mídia internacional poderiam ter me afetado se eu fosse um advogado qualquer, mas, sinceramente, eu jamais daria a mínima para opiniões tão carregadas de ignorância. Afinal, desde que resolvi assumir a posição que estava, que por tanto tempo almejei, me preparei para aguentar todo sensacionalismo de baixo valor.

Sorri confiante. Utilizaria todo oportunismo empregado nas notícias a favor do meu cliente. Talvez na defesa houvesse um advogado de quinta, apenas um ignorante cobrando uma merreca para sustentar seu terno barato e continuar sendo chamado de doutor pela classe inferior. Com certeza ele não teria formação e instrução o suficiente para encarar alguém do nível dos Chittsawangdee. Dito isso, era óbvio que eles apelariam tentando ganhar a simpatia do público através de sua vitimização explorada pela imprensa.

Abrindo a minha planilha, chequei mais uma vez os meus horários. Deveria me dirigir até a reunião que meu pai havia marcado e meu cliente estava atrasado. Ao julgar pelo breve resumo que Norawit havia me passado nos últimos dias, lidaria com pessoas de pouca conduta e disciplina, mas estava disposto a suportá-los em favor do caso interessante.

Não seria pelo dinheiro, não precisava visar riqueza naquele momento. Além de honrar o nome de minha família, eu queria levar o meu próprio nome para os tabloides como o excelente profissional que era. Nada melhor do que um bom e velho caso de extorsão e subtração de incapaz.

Quando a demora estava começando a me tirar do sério, fechei meu notebook e comecei a arrumar a minha papelada na bolsa de couro, mas fui interrompido com o sentar brusco e barulhento de um trio.

— O trânsito desta cidade não muda nunca! Ainda bem que chegamos a tempo. — A mulher de cabelos ondulados e batom vermelho vibrante se pronunciou primeiro, sorrindo exageradamente em minha direção enquanto arrumava a bolsa na mesa.

— Vinte.

— Perdão? — A mulher ainda mantinha um sorriso congelado enquanto suas sobrancelhas se moviam em confusão.

— Vinte minutos de atraso. — Disse diretamente a senhora enquanto olhava o senhor de meia idade dando bronca no jovem ao seu lado.

A mulher ao perceber minha irritação, tocou aquele que supus ser seu esposo com o cotovelo, chamando atenção dos dois homens para mim. Agora quietos, os dois mais velhos paralisaram seus sorrisos em minha direção, enquanto o jovem me olhava com um semblante desagradável.

Após alguns segundos de silêncio desconfortável decidi tomar a frente. Não saberia dizer qual dos suspiros soou mais alto. O meu entediado ou o irritadiço do filho feio.

— Bem, vamos lá. — Sorri cortez. — Meu nome é Pawat Chittsawangdee, serei seu advogado durante este caso.

— É um prazer, Doutor Pawat. — A mulher estendeu sua mão. — É uma satisfação conhecer o senhor.